Lembranças Literárias : A filha do coveiro

(do cancioneiro espanhol)

Presa de um mal traiçoeiro,
acabara de expirar
a filhinha do coveiro
exclusivo do logar.

Ele mesmo a filha amada
ao cemitério levou,
abriu-lhe a final morada,
co’as próprias mãos e enterrou.

Só quando a tarde desceu
do Campo santo saiu:
Numa das mãos o chapéu,
n’outra a pá que lhe servia.

Porque baixa o rosto e chora.
Diz-lhe alguém: – Que tem Simão?
— Sou coveiro e venho agora
de enterrar meu coração…

Mário Rey, Tribuna do Norte, 21/9/1930

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