História : A formatura de 1932 da Escola Normal de Pindamonhangaba

Dezembro de 1932. Fazia três meses que Pindamonhangaba, cidade paulista de tradição e feitos históricos em favor da pátria, tinha ido à luta por São Paulo, pela democracia e por uma Constituição. A vida pós Revolução Constitucionalista seguia em frente.
O jornal Tribuna do Norte, na época dirigido pelo dr. Francisco Lessa Junior, que era também o prefeito, publicava naquela edição de 25 de dezembro de 1932, edição de Natal, a festa de formatura da Escola Normal Livre de Pindamonhangaba.
Em matéria de primeira página, com texto adjetivado, como era costume nos jornais daquele tempo, o redator da Tribuna assim iniciava sua descrição de como fora a festa:
“Magnífica! É a expressão que nos acode para qualificar fielmente a festa de recepção de diplomas dos alunos que terminaram este ano o curso da nossa Escola Normal.”
Os festejos, organizados por uma comissão formada pelas senhoras Graciema Pires, Diva e Zuleika Santos, e os senhores Kanichi Morozumi, Eliseu Machado e Temistócles César, tinham sido realizados na semana anterior ao Natal.

Recepção aos mestres

No dia 16 de dezembro, os formandos ofereceram “uma fina mesa de doces” à diretora dona Elvira Bastos, ao professor fiscal Melchisedech Genofre, ao professor paraninfo João San Martin e aos padrinhos e demais professores. Este primeiro evento referente à formatura, acontecera no salão nobre da escola, que funcionava no Palacete Visconde da Palmeira (atual sede do Museu D. Pedro I e Dona Leopoldina), onde uma mesa em forma de ‘E’, segundo registrou a TN, “artisticamente ornamentada, apresentava um belo aspecto, repleta de deliciosos doces, confeccionados todos por Dona Alice Freitas”. A saudação aos presentes coube à professoranda Graciema Pires, “respondendo em breve improviso, a senhora diretora”.

Missa em Ação de Graças

Prosseguindo as festividades, no dia seguinte, às 9 horas, em Ação de Graças, foi celebrada uma solene missa cantada na igreja Matriz, que se encontrava decorada com muito bom gosto pelas “senhoritas Sylvia Monteiro e Zuleika Borges Goffi”.
A celebração coube ao padre João José de Azevedo, que, conforme o jornal Tribuna, “em comoventes e patrióticas palavras, incitou os novos professores a bem cumprirem os seus deveres perante Deus e a sociedade, que muito tinham a esperar de sua ação como semeadores da educação moral, social e religiosa. ”Uma Ave Maria, magistralmente cantada pela professoranda Zuleika Santos”, animou o ato religioso e, em seguida, todos se dirigiram para a frente do prédio da escola, onde “o professorando Kanichi Morozumi tirou uma fotografia dos colegas”.

Entrega dos diplomas

A sessão solene para a entrega dos diplomas foi realizada nos salões da Câmara Municipal, que naquele tempo funcionava no Palacete Barão do Itapeva (depois Palacete 10 de Julho), prédio histórico onde até 2005 funcionou a Prefeitura. Na entrega dos diplomas, além do corpo docente da escola, estiveram presentes as autoridades: prefeito dr. Lessa Júnior; comandante do 2º Batalhão do 5º Regimento de Infantaria aquartelado em Pinda, major Mário Magalhães Barata; promotor da Comarca, dr. João A. Pereira da Silva; inspetor Pergentino Marcondes, representando o delegado de Ensino de Taubaté; vigário, padre João José de Azevedo.
O evento também foi prestigiado com a presença da sociedade pindamonhangabense e “grande número de pessoas vindas do Rio de Janeiro, São Paulo e de cidades vizinhas”.
Destacava o articulista da Tribuna, ao descrever o salão da formatura, um escudo de São Paulo, confeccionado pelo professor João San Martin, posicionado ao lado das bandeiras, brasileira e paulista, dando “um cunho patriótico à festa”.
Os alunos, todos de braço com seus respectivos padrinhos, entraram no salão ao som do Jazz Band, do maestro Fego Camargo. “As moças em custosas ‘toiletes’ brancas, os rapazes corretamente vestidos de preto, com as fisionomias radiantes de quem chegou ao ponto culminante, há tanto tempo desejado e conquistado à custa de tanto labor, tanto trabalho”, ressaltava o redator.
Aberta a sessão, a diretora Elvira Bastos passou a presidência ao prefeito dr. Lessa, “e procedeu-se ao juramento de praxe”.
A formanda Graciema Pires foi a primeira a ser chamada para receber o diploma. A ela também foi entregue o prêmio ‘Aplicação’, que havia sido criado pelo prefeito dr. Lessa para contemplar o aluno que mais se distinguisse durante os quatro anos do curso. Esse prêmio a cada ano tinha o nome de um pindamonhangabense ilustre. Naquela primeira edição do prêmio, a denominação homenageava o Dr. Gustavo de Godoy.
Após a entrega dos diplomas e dos anéis distintivos, que se deu sob aplausos e muita alegria, foi a vez do paraninfo, professor João San Martin, fazer seu entusiasmado discurso. Em sua fala, o amado mestre “procurou nortear a vida dos paraninfos pela rota do dever e da honra dando-lhes valiosos e úteis conselhos”.
Muito aplaudido também foi o discurso da professoranda Áurea Gomes Nogueira. Em comoventes palavras, a recém-diplomada despediu-se da escola, dos professores e dos colegas “tendo para todos palavras de carinho e de agradecimento”.

Show litero-musical

Encerrados os pronunciamentos, teve início a parte litero-musical com a apresentação da pianista Maria Lelis Vieira, que “gentilmente viera prestar seu concurso à festa”. Em seguida, a assistência se encantou com as belas canções interpretadas pelas moças Dirce Salgado, Diva e Zuleika Santos.
A poesia foi a atração seguinte. Segundo a TN: “Com alma e coração, a senhorita Azaléa Celidônio declamou o soneto ‘São Paulo’, arrancando prolongadas palmas do auditório”. Muita aplaudida também foi a declamadora Labibe Milão, intérprete do soneto ‘Lenda Moura’.
Prosseguindo as festividades, foi a vez dos rapazes. Os professorandos cantaram o Hino da Escola Normal. O mencionado hino, conforme revelava o redator da Tribuna em sua matéria, era de autoria do professor Lafayette Rodrigues Pereira, “que inspirada-mente”, o havia composto “apreciando a beleza da paisagem da belíssima várzea do Paraíba e das longínquas serras que se avistavam da escola”. Aqui cabe a dedução lógica que o professor ficava horas apreciando a paisagem tendo como observatório o terraço do Palacete Visconde da Palmeira, sede da escola.
Ainda referente a este hino, o articulista da TN deixou registrado no mesmo artigo que coubera ao maestro João Antonio Romão musicá-lo. Na época, o maestro dirigia o orfeão da Escola Normal.
Depois do hino da escola, cantaram o Hino a São Paulo e, encerrando a sessão, o Hino Nacional.
A atração seguinte foi o bufê servido pelos formando e o início da atração que talvez tenha sido a mais aguardada pelos jovens formandos, o indispensável baile de formatura. Baile que se prolongaria até a madrugada, sob a animação do Jazz Band.
Para concluir a matéria, o redator deixou registrado naquela edição da Tribuna do Norte um parágrafo elogioso. “A agradável reunião deixou em todos uma impressão agradabilíssima, não havendo sequer uma nota dissonante e concorrendo para que Pindamonhangaba continue a ter sempre os foros de cidade ultracivilizada.”

  • Em 1930, a Escola Normal Livre funcionava no Palacete Visconde da Palmeira, que havia sido desocupado depois da extinção da Escola de Farmácia e de Odontologia
  • Formatura foi realizada no salão do Palacete Barão do Itapeva, naquele tempo, sede do Legislativo e Executivo
  • Na igreja matriz, houve missa de Ação de Graças celebrada pelo padre João
  • Professora Elvira de Moura Bastos (1887/1965), a diretora da Escola Normal Livre.Nascida em Guaratinguetá, foi atuante educadora em Pindamonhangaba, cidade que escolheu para viver, trabalhar e ser sepultada
  • Dr. Francisco Lessa Júnior (1899/1981), prefeito de 1930 a 1933, vereador de 1948 a 1951 e de 1952 a 1955; médico, se destacou no exercício de sua profissão e também foi provedor da Santa Casa de Pindamonhangaba