Proseando : A PSICÓLOGA

Apesar da longevidade, era ele um homem tímido. Um homem de relacionamentos imerecidos. Um homem que se entregara de corpo e alma às mulheres que amou, sem reciprocidade.

Depois de tantas frustrações, havia decidido preservar-se, viver só, “não dar sopa pro azar”. “Assim não sofro mais”, pensava. Considerou ir morar no topo da montanha, numa casinha escondida “só Deus sabe onde”.Mas não foi. Por algum tempo manteve-se distante das possibilidades afetivas. Manteve-se até o coração cismar com a mulher de olhos misteriosos que viu nas redes sociais. A partir de então, passou a dormir pensando nela. Acordar pensando nela. Durante o dia, pensava nela. Segredou a um amigo que estava difícil resistir às súplicas do coração, e que isso estava acabando com ele.
— Vamos procurar um psicólogo pra você.
Depois de muito relutar, ele anuiu. O amigo pesquisou quem era o melhor profissional da área e, dias depois, trouxe-lhe um cartãozinho com o endereço do consultório.
— Uma psicóloga? Sei não…
— Como não sabe? Tive as melhores referências dela. Ela é a melhor na área em todo o Estado.
— Mas, mulher?
— Você tem algum preconceito?
— Não é isso. Você sabe que eu tenho vergonha. Ainda mais, uma psicóloga.

O amigo insistiu tanto que ele cedeu. Dessa maneira, agendou um horário e, no dia estabelecido, lá foi ele suando tal qual chafariz. Enquanto esperava, sentia um aperto no peito. O coração descompassado parecia uma bomba atômica prestes a ser detonada.
Não vá contar nadinha pra essa estranha, ouviu?”, advertia-se em pensamento. Tamborilava dedos no braço da cadeira, cruzava as pernas, descruzava-as. Suava. Soava o coração. Levantou-se decidido a ir embora quando a secretária informou:
— Senhor, é a sua vez. Pode entrar.

Em passos miúdos e trêmulos acessou a saleta. Assim que viu a psicóloga, empalideceu. “Não vá contar nadinha pra essa es…” sentiu tonturas e quase desmaiou.
— Sente-se, por favor — disse ela, segurando-o pelo braço— Vou pegar um copo d’água.

Após se recompor, depois de longos minutos de silêncio conseguiu balbuciar palavras à psicóloga, revelando que o coração estava exigindo demais dele. E, a partir daquele dia, remarcou consultas, amiudadamente.
Da última vez que lá esteve, chegou com um ramalhete de rosas.
— É uma forma de gratidão. Estou fortalecido. Resolvi ouvir o coração e irei me declarar a ela.
A psicóloga o abraçou, feliz por ter cumprido mais uma vez a sua missão. Ele aproveitou o momento e sussurrou nos ouvidos dela:

— É você a razão da inquietude do meu coração.