História : Água foi “fonte” de polêmica na Pinda de antigamente

Assim como o café a água foi assunto que deu o que falar em Pindamonhangaba. Na edição de 10/2/1884 do jornal Tribuna do Norte encontramos o curioso apelo:
“Fonte da Galega. Ainda uma vez chamamamos a atenção da Câmara para o estado lastimoso em que se acha a única fonte de água potável que existe na cidade. Se os vereadores quisessem dar uma chegada até lá, muita coisa teriam que ver, e muita coisa que imaginar. A caixa d’água está caindo aos pedaços e, quebrando-se o cadeado que fechava a grade que lhe servia de tampo, ficou o povo exposto a beber impurezas. O abandono e pouco caso com que a Cãmara tem tratado desta fonte não tem justificação possível”.

Água da serra

Dezesseis anos depois desta nota ter sido publicada na Tribuna, no dia 28 de janeiro de 1900, portanto há 119 anos, os usuários da Fonte da Galega e demais populares assistiam à solenidade pública de inauguração do serviço de captação d’água do córrego do Felipe, situado na Fazenda Santa Cruz, na serra da Mantiqueira, atual Parque Natural Municipal do Trabiju.
Primeiramene foram inaugurados os chafarizes do bairro da Boa Vista e da Praça do Mercado (atual Praça Padre João de Faria Fialho, em frente ao quartel do 2º Batalhão de Engenharia de Combate – “Batalhão Borba Gato”). Uma semana depois, o intendente municipal (cargo equivalente ao de prefeito) Francisco Marcondes Romeiro, irmão do fundador do jornal Tribuna do Norte), inaugurava o chafariz da praça Monsenhor Marcondes.
O serviço de abastecimento com a água da serra passou a ser insatisfatório com o crescimento populacional e houve necessidadede ampliá-lo. Estudos neste sentido foram feitos na administração de Francisco Lessa Junior (1930/1933), mas divergências políticas impediram a ampliação da rede.

Falta d’água

Uma nota publicada no jornal “A Situação”, edição de 20/11/1921, revelava a insatisfação do povo com relação à distribuição da água pela prefeitura:
“Cada dia nos convencemos de que a população de Pindamonhangaba é a mais patriota que existe por estes brazis afora. Paga sem gemer aquilo que não deve, com tanto que os cofres municipais não fiquem delapidados da verba de água para sustento de seus encarregados. A água falta a cada passo e a todo o instante e só o cobrador não falta com a sua obrigação de arrecadar os cobres todos os meses.
E não é só isso. O povo paga não só os vadios da prefeitura como a vadios outros que queiram carregar água em latas, pipotes e jarras, porque a prefeitura não dá água e fica nas encolhas patrioticamente…”
O “caso da água” em Pinda persistiu por décadas. O tratamento da água do rio Paraíba só ocorreu durante a administra do prefeito Dr. Caio Gomes Figueiredo – Gestão 1952 a 1955.

 

Imposto sobre o café para encanamento de água em Pinda
Em documentos pertencentes ao Arquivo do Estado de São Paulo vamos encontrar outra interessante e não menos polêmica nota relacionada ao assunto água na Pinda de antigamente, sendo esta de tempos ainda anteriores.
Consta que no ano de 1854, a Câmara Municipal de Pindamonhangaba tomou a resolução de conseguir, por meio de um pequeno imposto sobre o café, encanamento de água potável para a cidade. Foi elaborada então uma postura, obrigando a todos os fazendeiros de café a pagarem à municipalidade, anualmente, a taxa de 20 réis em cada arroba da rubiácea que se colhesse no município. Os fazendeiros protestaram energicamente. Diziam que o referido imposto era “sumamente” vexatório para eles, porque vinha sobrecarregar ainda mais um gênero já tão vexado de impostos gerais e provinciais, além da enorme despesa que se fazia para chegar o produto aos mercados.
De nada valeram os protestos dos fazendeiros: a postura teve que ser cumprida. Na lista nominal das pessoas coletadas naquele ano constava fazendeiros como: tenente-coronel Antonio de Godoy Moreira, que colheu 4 mil arrobas e pagou 80$000; Barão de Pindamonhangaba que colheu 5 mil arrobas, pagou 100$000; tenente Manoel de Godoy Moreira, colheu 3 mil arrobas, pagou 60$000, etc. Da lista constavam 25 fazendeiros foram milhares de arrobas colhidas e uma boa grana arrecadada “para a municipalidade.”

(Fonte: Documentos pertencentes ao arquivo do Estado)

  • A palavra Trabiju é derivada da língua tupi. Segundo o historiador Waldomiro Benedito de Abreu, significa “A água que brota do monte”, ou “O monte que verte a água”