História : “Ai que saudades da Aurora” 2 x 2 “Séculos Passados”

Na edição desta quinta-feira recordamos um evento de caráter beneficente ocorrido há 70 anos. Alegre e divertido, o acontecimento reuniu reconhecidos profissionais e atuantes homens públicos locais da agradável Pindamonhangaba da segunda metade do século XX. Seus descendentes e as pessoas mais antigas da cidade, certamente, irão se lembrar dos participantes
De edições do extinto jornal 7 Dias “desencavamos” uma histórica partida amistosa realizada no campo do São Paulo Futebol Clube, quando ainda era na rua Cônego Tobias, no Alto do Tabaú. O jogo aconteceu no dia 22 de agosto de 1948, e foi para angariar fundos para a igreja São José. Os quadros foram formados por “ases do passado”, isto é, por “atletas” que em 1948 já eram considerados “do passado”.
Pela equipe do “Ai que Saudades da Aurora” atuaram: Zé de Aguiar. Ciro Valentini, dr. Demétrio, Caio Bueno, Nhozinho e dr. Pantaleão; Manézinho, dr. Vieira, Medina e Guaragna. Para a “virada”, ou seja, entrariam no segundo tempo, estavam escalados: Plínio Marcondes, Inácio Rezende, Geraldo Freire, dr. Eiseler, Vitor Abatepaulo, dr. Paulo D’Alessandro, Américo Vellutini, Ramiro, Norival Monteiro e Braz Esteves.
A representação do “Séculos Passados” formou com: Paim, Alcides Braga, Zé Prates, Alcides Nogueira, dr. Francisco Romano, dr. Paulinho, Aloísio, Rato, dr. Ramos e Wilson de Oliveira. Para a “virada”: Giudice, Zé Goffi, Fued, Zé Milad, coronel Barroso, professor Aquino, Sebastião Almeida, Antenor Andrade, Person Mercante, Mário Mendes, tenente Araújo, Ruy Faria e Flores da Cunha.

“Proibido
jogar de faca…”
Com a intenção de descontrair ainda mais o leitor, como se só as denominações dos times não bastassem, o cronista do 7 Dias comentou o evento na edição de 22/8/1948, dia do jogo, com referências espirituosas, tais como:
“Aviso importante: é proibido jogar de faca”. “Ontem à noite, insistia-se nos rumores de que o dr. Romano ainda não sabia como chutar”. “Os craques marcarão pelo menos 300 gols por minuto”. “Paim, que defendeu durante 200 anos o arco do Bananal FC, promete ‘injetar’ ânimo nos seus companheiros, enquanto do lado oposto o dr. Vieira descobriu uma fórmula para manter em pé os seus companheiros”.
E continuava: “Os guapos rapazes do ‘Ai que Saudades’ praticam um futebol ligeiro e de primeira, ao passo que os do ‘Séculos Passados’ se caracterizam pelo jogo embrulhado, com insuperáveis ataques pessoais, no que é figura exponencial o consumado Zé Milad”.

Campo do Alto do Tabaú, o Coliseu de Roma
Realizada a partida, o cronista do 7 Dias deu sequência aos seus divertidos comentários:
“Foi o embate mais sensacional que já se disputou nestes últimos tempos. O público que lotava o estádio delirou, como se fora no antigo Coliseu de Roma. Defrontaram-se as aguerridas equipes do ‘Ai que Saudades da Aurora’ e ‘Séculos Passados’ que registrara no placar o empate de 2 tentos. Marcaram para o ‘Ai que Saudades’, Vieira – o atacante dos aspirantes do Haras – e Medina, o corisco de outros tempos. Para o ‘Séculos Passados’ marcaram: Ramos, ‘el ziguezagueante’, e Zé Goffi, o craque das arquibancadas”
Concluindo, o comentarista registrou naquela edição de 29/8/1948 do 7 Dias:
“Na equipe ‘Ai que Saudades’ destacaram-se: Nhozinho, o já consagrado bailarino do Haras FC; ainda do Haras, o trio atacante, Medina, Vieira e Guaragna, que jogaram com excelente combinação com Nhozinho como distribuidor; Demétrio, o arqueiro das ‘cem mãos’, e Zé Aguiar, ‘el cortador de churrasco’. Na equipe Séculos Passados, destacaram-se: Paim, ‘el aviador de receitas’; Mário Giudice, o veterano da seleção francesa; Braz Esteves, ‘o peitudo’; Ramos, ‘el ziguezagueante’ (que foi o autor do primeiro tento); Aloísio, ‘el vacabrava’, também teve boa atuação.

Venenos do
Chico Urutu
A célebre partida também foi comentada, jocosamente, em edição posterior, na coluna “Venenos do Chico Urutu”, que, em versos, assim definiu o que fora aquela formidável peleja:

No mês de agosto,
mês da loucura,
muitos doutores,
que diabrura!
Fizeram quadros
pra “duro” jogo,
e vão a campo,
alguns “no fogo”.

O apitador,
bom juiz se diz,
foi juiz de saia:
O padre Laquiz.
E nessa luta,
ou pagodeira,
Dr. Demétrio,
de caneleira
jogou no gol.
O Rui Faria
“jogou pedrinha”
bola não via.
Dr. Einaldo
marcou um tento,
dizem que foi
no impedimento.

Caiu 100 tombos
seu Mário Graça,
e os companheiros
achavam… graça.
O Braz Esteves,
barrigudão,
teve a barriga
rolada no chão.

O dr. Luiz,
ágil gordinho,
fez belo jogo
“no martelinho”.
Seu Mário Giudice
de pé quebrado
e embora seja
“enferrujado”
também mostrou
dar no “balão”,
mas o prefeito,
que fracalhão!

Wilson Oliveira,
embora moço,
viu que a pelota
é duro osso.
Nhozinho do Haras
e o dr. Vieira
“engarrafaram”
a turma inteira.

Dr. Medina
também tem manha.
Jogou bilhar… bilhar
Dr. Guaragna.
O gauchão,
perfeito Roca,
quase esmagou
o Inácio Foca.

No arco, o Paim
mostrou ser bom,
“grudou o dedo”
do Amastom.
O galo velho
inda “dá dentro”,
por pouco marca
um belo tento.

O Valentini,
o caixa de óculo,
viu a pelota
por um binóculo.
O dr. Paulo,
tão ruim não vi,
maneja bem
o… bisturi.

Muito “garganta”,
o Abatepaulo
diz que jogou
até no São Paulo.
O capitão,
o tal Vizaco,
chateou a todos,
encheu…o … saco!

Ficou “por conta”
o delegado,
ficou na cerca
mal humorado.
O Vellutini,
também sobrou,
a mãe dos “craques”
também xingou.

Zezão da Excelsior,
“massa bruteza”,
só tem tamanho e safadeza.
Dizem que o jogo
tornou-se vício:
“craques” ao campo,
“craques” ao hospício…

  • Capa do ‘Album das Balas Futebol’ A Americana – 1939 (A Sacomani & Cia)