História : Ana Maria, a atriz do filme “O Lamparina”

Em alusão ao mês comemorativo ao nascimento de Amácio Mazzaropi (nascido a 9 de abril de 1912), a página de História desta edição relembra uma atriz que o cineasta, ator e cantor veio buscar em Pindamonhangaba para brilhar no filme “O Lamparina” : Ana Maria Guimarães Iadeluca! Hoje também poetisa, escritora e pintora membro da APL-Academia Pindamonhangabense de Letras.

A atriz, a menina…
Era o ano de 1963. Ana Maria estudava na Escola de Comércio (Colégio Comercial Dr. João Romeiro). Até então, a experiência na arte de interpretar que possuía vinha de suas atuações no TEP – Teatro Estudantil de Pindamonhangaba, criado pelo seu irmão Oto Guimarães, mas a presença de Mazzaropi e seu elenco, hospedados no Hotel Brasil, despertava-lhe a vontade de se aprofundar nessa arte, ser atriz. Ela e as colegas aproveitavam o período do intervalo da escola para irem até a praça ver os galãs do cinema brasileiro.
Essa passagem a deixou mais convicta de que desejava ser atriz, e mais, atuar no cinema. Resolveu procurar o famoso Amácio Mazzaropi no escritório da PAM Filmes, em São Paulo. O pretexto da visita: fazer chegar lhe as mãos um roteiro escrito por sua irmã Yeda. Uma bonita história sobre o Menino do Pastoreio.
Ficou surpresa ao ter sido muito bem recebida. Mazza, como ela se refere ao artista, havia até se lembrado dela. Ele estava com sua equipe e, recorda: “Enquanto conversávamos, um senhor media-me a luz com um fotômetro” (aparelho que mede a intensidade da  luz para adequá-la às necessidades específicas de um fotógrafo ou de um cineasta). Ela não sabia, mas já estava passando pelo processo de escolha de uma atriz.
Sobre o roteiro escrito pela irmã, disse que não havia interesse, não estava dentro de seu estilo de filmes, mas revelou que procurava uma moça bonita para o papel de filha dele em seu próximo filme, perguntou se ela não aceitaria.
Embora o roteiro da irmã tivesse sido apenas a forma que encontrara para se aproximar do cineasta, Ana Maria confessa que, surpresa, aceitou de imediato o convite.
No acerto dos detalhes ficou combinado que Augustinho Ribeiro, velho amigo de Mazzaropi e ator em seus filmes, o conhecido e inesquecível ‘Chico Frô’ de Pindamonhangaba (1928-2003) , ficaria encarregado de levá-la até a fazenda, em Taubaté, seu primeiro estúdio, onde ocorriam parte das gravações.
O convívio na fazenda era agradável, ambiente ordeiro e harmonioso, revela Ana Maria: “Mazzaropi era um administrador nato e apreciava muito o respeito. Homens e mulheres não ocupavam o mesmo alojamento. A mulheres ficavam numa casa, Mazza ficava na casa do meio e os homens na casa de cima. A ninguém era permitido entrar em sua casa, só eu era a privilegiada e adorava estar ali”.
Ana recorda que foram três meses de intenso trabalho. Lembra que o roteiro das cenas era entregue um dia antes das gravações, porém, Mazzaropi mudava muita coisa na hora, por ser muito criativo, gostava de improvisar. Com relação aos atores, Ana conta que considerava um privilégio, um presente, contracenar com Emiliano Queiroz e com a Geni Prado, a “mulher de Mazzaropi” nos filmes. “Ela me dava boas dicas e sempre ficávamos juntas após as gravações”, diz.
Ana ajudava no que podia. Por conta própria, acabava fazendo parte da equipe de produção. Por saber andar a cavalo, ia buscá-los no pasto para as gravações e também auxiliava com o figurino. Mazzaropi, notando o interesse da menina bonita e prestativa, começou a se aproximar. Todas as noites, depois do jantar sentavam em um tronco de árvore nas proximidades do refeitório. “Era quando ele me ensinava sobre a arte do cinema e seus objetivos nessa área. Eu ficava atenta ao aprendizado do grande mestre. Percebia que ele queria formar um grupo de profissionais fixos, como era em Hollywood, como fazem hoje a Globo, SBT e outras”, relembra,
saudosa, Ana.
Ana confessa que essa ideia de Mazzaropi de formar um grupo fixo era um sonho maravilhoso, mas, confessa, só dele. “A meta era dele, não minha. Eu tinha só 17 anos e o desejo de desbravar o mundo, a ânsia do conhecer mais, aprender mais, conquistar…”

Seguindo em frente…
Lançado o filme “O Lamparina”, em 1964,então jovem e cheia de sonhos pra conquistar, Ana foi pra São Paulo. Com o consentimento e apoio dos pais, foi morar com a prima Terezinha.
“Foi quando, para minha infelicidade, veio a era do ‘cinema novo’ e com ele, a pornochanchada , denominação dada aos filmes eróticos da época. Não era isso que eu queria. Convites, foram vários, mas não aceitei nenhum. Por conta disso, desisti por algum tempo de atuar no cinema, continuei só com os comerciais, que já fazia”, recorda a atriz.
Um dia, para ela inesquecível, quando gravava um comercial, conheceu o cineasta italiano Mario Iadeluca. Alguém que chegava para ser seu companheiro, para seguirem juntos na vida em comum e profissional. Apaixonados, casaram-se. “Mário tinha uma filha, a Angel, a criei como se fosse minha. Tivemos mais quatro: Mário Jr., Alessandro, Fábio e Flávia. O Fábio foi o único que seguiu a carreira do pai, hoje é conceituado diretor de fotografia nos Estados Unidos”, conta.
Ana e Mário, unidos também no trabalho, produziram muitos comerciais e documentários. “Participei como atriz em mais de 50 comerciais e de fotos como modelo em propagandas. Cheguei a dirigir o humorista Chico Anísio em um comercial”, destaca Ana, ao referir-se a esta produtiva passagem de sua vida.
Constava no roteiro de seu destino, que Mário a acompanharia somente até determinado trecho da vereda terrena. Depois que ele morreu, Ana, que nunca deixou de ser atriz prosseguiu na área, trabalhou no SBT, na Globo, na TV Manchete, na Rádio Mulher etc. Indicada por Geni Prado, também fez dublagem. Foi responsável pelas fotos de abertura da novela ‘Imigrantes’ e participou da novela ‘Meu pé de laranja Lima’.
Também trabalhou na CBP – Companhia Brasileira de Publicidade, uma das agências que desenvolveu a campanha pelas “Diretas Já”. Ajudou a implantar a propaganda em cinema com a CP – Cinema e Publicidade, sua própria agência. Por mais de 20 anos ficou nessa área. Depois fez administração de empresas com especialidade em planejamento. Passou pela Escola Panamericana de Arte e pela Universidade de Taubaté (três anos de Direito); concluiu cursos de PNL – Programação Neurolinguística; trabalhou como publicitária e com marketing cultural. É esteticista formada; terapeuta holística; possui formação em vários tipos de massagem, atividade que diz ter como hobbie.

  • Em ‘O Lamparina’, seu 16º filme (PAM Filmes,1964), Mazzaropi é o pacato homem do campo Bernardino Jabá, que ao ser confundido com um cangaceiro e sua família como sendo seu bando, se torna o temível ‘Zé Candiero’. Para Ana Maria Guimarães Iadeluca, de todos os filmes do inesquecível cineasta, que também era ator e cantor em suas produções, este é muito especial... Em ‘O Lamparina (1964)’, uma paródia do premiado ‘O Cangaceiro’, (Lima Barreto, Vera Cruz, 1953), Ana Maria (em destaque na ilustração ao lado), então com 17 anos, interpretou o papel de filha do Zé Candiero