História : Benedicta Emília, viscondessa de Pindamonhangaba

A nobreza imperial do Vale do Paraíba paulista teve em Pindamonhangaba dignos representantes. Entre as mulheres, destacou-se Benedita Emília Bicudo Varella, baronesa agraciada com o título de viscondessa pela Princesa Isabel
Benedicta Emília Bicudo Varella, nascida em Pindamonhangaba a 12 de maio de 1822, era filha do capitão-mor Ignácio Bicudo Siqueira e de dona Francisca Salgado Silva, e irmã da viscondessa da Palmeira e do barão do Itapeva. Enviuvou-se do capitão Custódio Gomes Varella Lessa (português radicado em Pindamonhangaba), no dia 31 de agosto de 1855, quatro anos após ele ter sido agraciado pelo imperador Pedro II com o título de barão de Paraibuna com Honras de Grandeza.
Ela estava com apenas 33 anos de idade quando o barão morreu. Foi quando,num tempo em que a prepotência do regime patriarcal era flagrante, revelou a grandeza da mulher pindamonhangabense, assumindo as propriedades, os compromissos sociais e a família. Em “Os Barões do Café” (Vale Livros, 2001, Aparecida-SP), o historiador José Luiz Pasin (1939 – 2008) conta que, “além de assumir a direção de suas fazendas, a baronesa participou ativamente da vida política e social do município de Pindamonhangaba e da região, tornando-se a mais rica e poderosa senhora de terras e escravos, distribuindo donativos e colaborando com as obras assistenciais da cidade”.
Sua atuação à frente da família, como mãe, também foi exemplar, criou e educou os quatro filhos: Eloy Bicudo Varella Lessa, que se tornaria o barão de Lessa; Cornélio Bicudo Varella Lessa, mais tarde, coronel; Francisco Bicudo Varella Lessa, que se tornaria engenheiro e se casaria, em primeiras núpcias, com a filha dos barões de Itapeva; e a única filha, Emília Bicudo Varella Lessa.

A Baronesa e o Imperador

Athayde Marcondes cita em “Pindamonhangaba Através de Dois e Meio Séculos” (Tipografia Paulista, 1922, São Paulo-SP), que “durante a Guerra do Paraguai a baronesa ofereceu grandes quantias ao governo imperial para auxiliar nas despesas com os voluntários”. De volta à obra de Pasin encontramos o seguinte relato do neto da baronesa, Francisco Lessa Júnior: “numa epidemia ocorrida em Paraibuna ela recebeu apelo de Pedro II para que socorresse os habitantes daquela cidade. Reunindo médicos e enfermeiros pindamonhangabenses, cumpriu a missão com sucesso”. Outra passagem envolvendo a baronesa e o imperador é assim relem-brada pelo seu neto: “quando Arão Reis convidou seu filho, o engenheiro Francisco Bicudo Varella Lessa, para trabalhar na Estrada de Ferro São Paulo-Rio, ela não permitiu que o convite fosse aceito, dizendo que não havia criado filho para ser empregado do imperador”. Ao que parece , tal fato não causou indisposição com a família real, pois no dia 18 de agosto de 1887, aos 65 anos, Benedicta Emília Varella Lessa foi agraciada pela princesa imperial regente, dona Isabel de Bragança e Orleans, com o título de viscondessa, se tornando uma das sete titulares paulistas do império.
A pindamonhangabense que se tornou viscondessa viveu até os 84 anos. Morreu no dia 13 de dezembro de 1906, em sua terra natal. Seu passamento foi divulgado na edição de 16 de dezembro de 1906 da Folha do Norte, semanário que se publicou em Pinda até o início do século XX. A matéria, com o título “Viscondessa de Parahybuna”, segue abaixo, na íntegra:
“No dia 13, às 5 e meia da tarde, faleceu nesta cidade, inesperadamente, a veneranda senhora Viscondessa de Paraybuna, uma das últimas representantes dessa nobre geração de fazendeiros fidalgos, que a lei da emancipação tinha que extinguir.
Era a finada distintíssima por suas elevadas virtudes domésticas, diante das quais parecia até que pouco fulgurava o seu brasão, que aliás, muito soube honrar . Ninguém nessa cidade protegeu mais a pobreza, e nem contribuiu mais largamente para o esplendor do culto católico . E é o maior elogio que da Viscondessa de Paraybuna se possa fazer . Era viúva do Barão da Paraybuna, e de seu casamento deixa uma ilustre prole, figurando entre filhos e netos muitos moços esmeradamente educados e que ocupam elevada posição social.
Era mãe do sr. Barão de Lessa e do dr. Francisco Bicudo Varella Lessa, que gozam de merecida estima nesta cidade.
Descendente de uma das mais ilustres famílias da localidade, teve a fortuna de transmitir a seus filhos um nome por todos venerados, e que, para os que sabem amar a virtude, não pode deixar de constituir uma herança do mais sabido valor.
Faleceu a Viscondessa da Paraybuna, contando 85 anos de idade, produzindo sua morte o mais profundo pesar nesta cidade.
A Viscondessa da Paraybuna (Dona Benedicta Bicudo Salgado Lessa) era filha legítima do capitão Ignacio Bicudo de Siqueira e Dona Francisca Salgado Bicudo.
Foi casada com o capitão Custódio G. Varella Lessa, que mais tarde obteve o título de Barão da Paraybuna. Durante sua viuvez foi elevada à Viscondessa.
Prestou a finada, relevantíssimos serviços a esta localidade, destacando-se o importante donativo que fez para a reconstrução da Matriz.
No dia 14, às 5 horas da tarde, realizou-se, com grande acompanhamento até o cemitério, o enterro da ilustre finada.
Vimos sobre o caixão muitas riquíssimas coroas, em cujas fitas liam-se expressivas dedicatórias. Entre estas pudemos ler as seguintes: – Saudades de Eloy e Antoninha – Último adeus do Chico e esposa; – À Dedita, saudades de sua irmã Francisca, e de seus sobrinhos e afilhados Francisco e Judith; – à sua avó, Cornélio e Sinhá; – Saudades do Chico, seu neto; – Saudades de Antonio e Nhonhou.
Acompanhando a família na justa dor que experimenta, enviamos as nossas sentidas condolências e, muito particularmente, a seus dignos filhos, exmos. Barão de Lessa e dr. Francisco Bicudo Varella Lessa.”

  • A viscondessa morreu no dia 13 de dezembro de 1906, aos 84 anos - Créditos da Imagem: Arquivo TN