Proseando : C0NVERSA NO JARDIM

Qual o nome da avó? Junte as primeiras letras das flores ímpares, desvende esse enigma e envie a resposta ao WhatsApp 99735 0611.

A avó, com nome de flor, morava em uma casa centenária no centro da cidade. Apesar das intempéries, o imóvel mantinha impecáveis as paredes de suaves tons de rosa, as portas e janelas cor de algodão, e o jardim multicolorido de cem metros quadrados que primaverava até o portão de entrada.

Diariamente, aparecia alguém querendo adquirir o imóvel para desfrutá-lo como residência; ou, a fim de demoli-lo e substitui-lo por edifícios edilícios. Apesar de propostas com cifras de mega-sena, ela não manifestava nenhum interesse.

Eu a conheci no dia que parei sobre a calçada, embevecido com dúzias de colibris pairando no ar, sugando néctar de flores. Ela se aproximou, enxugou o suor da testa com o braço e sorriu. Trocamos algumas palavras, suficientes para que confiasse em mim e me convidasse para conhecer o jardim.
— Tem orquídeas?
— De várias espécies. Têm também magnólias, camélias, amarílis, tulipas, rosas, calêndulas, gerânios, begônias, azaléas, petúnias, rabos-de-gato, hortênsias, íris, jasmins, dálias, lírios, acácias…

Ela foi desfiando nome de flores que eu não conhecia. Em seguida, contou:
— Eu e meu marido fomos muito felizes aqui. Éramos um casal sem ausências, sem descuidos, sem aborrecimentos. Gostávamos de andar descalços, do contato com a terra, de cuidar das flores, das borboletas, das joaninhas, dos passarinhos. Hoje faz cinco anos e dezessete dias que ele foi cuidar dos jardins de Deus.

Ela amuou. Procurei palavras de solidariedade, mas não encontrei nenhuma que fosse eficiente naquele momento.

Estávamos ao lado de um roseiral florido, que até hoje duvido haver no mundo alguém que consiga poetizá-lo.

Enquanto ela falava, arrisquei pedir meia dúzia daquelas rosas para presentear minha esposa.
— Posso fazer um pedido?

O olhar dela estava distante. Depois de breve silêncio, continuou a falar.

— Tenho muitos netos. Aparecem aqui só por interesse. Alguns andam de namorico. Esses aparecem para tentar roubar minhas flores. Não deixo. Não mesmo. Me ajudar a cuidar ninguém vem.

A voz dela se embargou.
— Flores colhidas têm menos tempo de vida. Arrancar uma flor de sua haste é o mesmo que arrancar a orelha de uma pessoa. Um galho, um braço. As plantinhas são seres vivos. Se alguém se deslumbra com a beleza de uma flor, que a visite sem agredi-la.
Uma lágrima pendurou-se nos olhos dela.

— Desculpe. O senhor queria me fazer um pedido?
Abaixei a cabeça, respirei fundo, criei coragem e pedi:

— Posso trazer minha esposa para conhecer o seu jardim?

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