Nossa Terra Nossa Gente : CARTA DE AMOR À MANUELA E ZUMA

A primeira vez em que nos encontramos, por volta das seis e meia da manhã, era inverno. A menina vinha de mãos dadas com o pai, mochila nas costas, gorrinho de lobo na cabeça e, numa das mãos, segurando bem firme, a guia de sua cachorra – uma bordercollie preta, com as patas, o peito e o focinho branquinhos que só. Eles vinham pela rua a passos tranquilos, conversando e rindo, feito o solzinho daquela manhã.
Meus poodles, muito interessados naquela belezura de quatro patas, atravessaram a calçada em frenesi. Zuma, espevitada como todo filhote, fez a maior festa para nós! Proseamos um pouquinho, elogiei a mascote da menina, o charme de seu gorrinho e o fato dela ir para escola tão bem escoltada pelo pai – o agente de correios Levi -, e por sua cachorra de estimação.
Desde esse dia, nossos encontros de cada manhã têm sido festejados com profunda alegria! Nossos cachorros se adoram e, nós, sempre temos um dedinho de prosa para contar. Manuela estuda na escola “Caveirinha” (é como as crianças apelidaram a Escola Municipal “Gilda Piorini Molica”, próxima ao Cemitério Municipal, no Bairro São Judas Tadeus) e, por tudo o que temos conversado, vê-se que Manuela adora a escola, a professora, os colegas, as brincadeiras no recreio e tudo o que lá aprende.
Encontrá-los é sempre uma alegria que transborda e me transporta para a escola da minha infância como um feixe de luz que incide pela fresta da janela do tempo, com sua brisa infinita de brilhos que tomam meu coração por inteiro.Já não se vê mais pais presentes na educação escolar dos filhos. Cada dia é mais raro uma criança ser conduzida à escola pela mão paterna. Ainda mais pelas mãos conscientes de um pai – como Levi -, que compreende o valor da educação escolar na vida futura dos filhos e, todos os dias, antes de ir para o trabalho, se dispõe a caminhar uns dez quarteirões a pé, zelando pela filha e pelo bichinho de estimação dela, para conduzi-la à segunda casa do saber.
Por isso, encontrá-los tem sido tão vivificador. É como ser presenteada, a cada manhã, com uma flor nascida na fenda do asfalto de uma grande metrópole. Penso nos laços fraternos de amor e amizade que Levi e Manuela terão feito ao longo de suas vidas e, a esperança, folha e flor de nossa primavera, reverdesce em mim. A infância é um território sagrado: tempo e espaço de brincar, de aconchegar no peito, de ensinar a andar, a falar e a calar-se (quando necessário), de contar histórias e de povoar o imaginário das crianças com bons valores, de ouvir suas histórias sem pé nem cabeça, deensinar a andar de bicicleta e a jogar futebol, a impor limites aos jogos de vídeo games, a escolher os amigos do peito e o animalzinho de estimação, entre tantas outras atribuições que cabem a nós, pais…
Vivemos no mundo inteiro um momento de egocentrismo exacerbado criado pelas redes sociais. O individualismo destronou as relações de pertencimento familiares. Cuidar de nossos filhos, de nossa família, das crianças de nossa rua, de nosso bairro, de nossa cidade é o maior patrimônio que podemos deixar ao mundo.
Por isso, esta minha “Carta de Amor à Manuela e Zuma”, selada com meu profundo respeito a este jovem casal – Levi é casado com a agente de correios Cláudia e pai de Eduardo (3 anos) também -, está endereçada a TODOS os pais de nossa terra, nossa gente. Que a exemplo do jovem Levi, se disponham a conduzir seus filhos pelas estradas da vida com profundo amor e amorosa presença.

  • A menina Manuela ao lado pai (o agente de correios Levi) e de sua querida e inseparável amiga, a cachorra Zuma