História : Construção da cascata da praça Monsenhor Marcondes e do chafariz na Praça da República foi alvo de críticas no início do século XX

Essa crítica à administração municipal aconteceu na Pindamonhangaba do início do século XX. O alvo da crítica era a Câmara Municipal e o intendente (cargo que equivalia ao de prefeito) Dr. Francisco Marcondes Romeiro (mandato 1899 a 1904). Os assuntos do contundente comentário: a cascata da praça Monsenhor Marcondes e, de quebra, o chafariz da então Praça da República, atual praça Padre João de Faria Fialho.
O veículo utilizado para propagar a crítica foi a edição de 11 de outubro de 1903 da Folha do Norte, extinto jornal oposicionista do município, ao transcrever uma crônica de “O Porvir”, outro informativo que também se publicava em Pinda naquele tempo.
A tal crônica, assim era o título: “Chronica”, trazia como autor D. Timotheo e começava falando de uma apresentação da banda na praça:
“Quinta-feira passada a apreciada corporação musical Euterpe fez, no largo da Cascata, uma retreta, talvez com o fim de, desentediando-nos passageiramente, dar à aludida Cascata algum merecimento, mostrando que ela não foi erigida ali para jazer no mais profundo desprezo, como tem acontecido.”
Com ironia, o cronista afirma que se a intenção da Euterpe fora conseguir chamar a atenção do povo para a cascata artificial ali construída, ele a felicitava. No entanto, acreditava serem em vão os esforços da banda nesse sentido, alegando que aquele monumento não vinha merecendo atenção popular, sendo motivo de reprovação até por parte daqueles que haviam colaborado em sua construção.
O depreciativo artigo assim prossegue:
“A própria edilidade reconhece o grave erro em que incorreu, mandando construir, a contragosto dos contribuintes, não só a cascata, como também o colossal chafariz da Praça da República, dois monumentos sem a mínima utilidade e que absorveram uma soma enorme de dinheiro: prova-o o lamentável estado de abandono em que ela os tem deixado, a esses monumentos, que não servindo nem para o embelezamento da cidade, tem, contudo, gravados em si, em alto relevo, como se isso fosse uma glória, os nomes dos cidadãos que sem motivo nenhum justificável idealizaram e conseguiram a sua construção.”
Duvidando da afirmação de que a Câmara não havia despendido nenhuma despesa na edificação dos respectivos monumentos, mas, sim, o governo do Estado, o articulista ironiza, ressaltando que a verdade seria ainda por muito tempo ignorada, porque a Câmara daquele mandato não dava contas de sua administração a ninguém. E reforçava sua dúvida dizendo que segundo “diversas vozes” comentavam pela cidade que “tudo fora feito a expensas da municipalidade”.
Para o tal D. Timotheo, inconformado cidadão, fosse como fosse, a verdade era que a cascata e o chafariz estavam construídos, eram uma realidade, mas “sem nenhuma utilidade, caídos no ostracismo”. E profetizando malfadado fim aos monumentos, destacava: “O seu fim será ruírem no desprezo e, carcomidos pelo rigor do tempo, arrastarão em sua queda uns bons pares de réis”.
Para concluir sua crônica, voltava a zombar da apresentação da Euterpe na cascata, caso o evento tivesse sido realizado com o objetivo de motivar a população a prestigiar o monumento: “…toda a tentativa de soerguimento será baldada, porque o povo mesmo é quem os maldiz, o povo mesmo é quem os despreza”.

Sobreviveram às críticas e hoje são pontos históricos
Ao contrário do que lhe desejava a oposição naquele longínquo 1903, este atrativo da praça Monsenhor Marcondes sobreviveu as críticas, não caiu no ostracismo. Foi remodelado em 1977, pelo artesão José Soares Ferreira, o Zé Santeiro, valorizando artisticamente cada detalhe e acrescentando outros. Desde do Natal de 1964, a prefeitura ali monta um presépio no início do mês de dezembro.
No caso do chafariz que originariamente foi instalado na Praça da República (atual Padre João de Faria Fialho), marcando o surgimento do primeiro serviço de abastecimento do município com água encanada, inauguração ocorrida no dia 28 de janeiro de 1900, as profecias negativas da oposição também não lograram êxito. Embora em outro local, o monumento também sobrevive ao tempo. A obra foi reconstruída na praça Dr. Emílio Ribas (quando ainda se chamava praça 13 de Maio) em 1959. Em 10 de julho daquele ano, em evento comemorativo aos 254 anos de emancipação político-administrativa de Pindamonhangaba, o prefeito Francisco Romano de Oliveira inaugurou as obras de ajardinamento realizadas no logradouro, nas quais incluía a reconstrução do histórico monumento.

Imagens: Divulgação
  • Cascata atualmente, monumento não ruiu no desprezo nem caiu no ostracismo
  • Marco histórico do primeiro serviço de abastecimento de água de Pindamonhangaba sobrevive na praça Dr. Emílio Ribas