História : Curiosidades de sepultamentos e cemitérios da Pinda antiga

Em alusão ao Dia de Finados, a página de história desta edição recorda fatos relacionados ao cemitério e sepultamentos na Pindamonhangaba de outros tempos.
Morrer sempre teve custo e a primeira curiosidade refere-se ao preço de uma sepultura em 1886.
Nas edições da Tribuna do Norte dos dias 1º e 7 de março de 1886, encontramos um projeto de regulamento para o cemitério municipal submetido à aprovação na sala de sessões da Câmara em 18 de fevereiro daquele ano (1886). Destacamos da referida publicação alguma coisa referente às sepulturas:
As sepulturas se dividiriam em gerais e particulares. As gerais seriam concedidas indistinta e independentemente de título de propriedade. As particulares seriam concedidas temporária ou perpetuamente pela Câmara, liberadas para a construção de jazigos de famílias, mausoléus ou quaisquer outros emblemas funerais.
Já quanto à construção, os jazigos teriam de ser de tijolos e argamassa de cimetno, com forma abobadada (isto é, encurvada), de modo a evitar exalações perniciosas à higiene e salubridade local. Caso contrário , além que ter de ser demolido, haveria multa aplicável ao zelador do cemitério e ao responsável pela obra.

Perpétua ou
temporária
A ocupação das sepulturas gerais seria de prazo inferior a cinco anos para adultos e três para menores de 12 anos. Ficando a Câmara (administração municipal) autorizada a providenciar a exumação findo os citados prazos. Mesmo as sepulturas gerais não seriam isentas de taxas. Para adultos a taxa seria de 5$000 e menores, 3$000.
Quanto aos títulos de propriedade, as sepulturas particulares seriam concedidas pelos prazos de 10, 20 anos ou perpetuamente de acordo com a seguinte tabela de contribuições: Adultos, por 10 anos, pagaria 20$000; por 20 anos, 60$000, e perpetuamente, 100$000. Menores, por 10 anos, 15$000; por 20 anos, 25$000, e perpetuamente, 50$000. (Direitos para ascendentes e descendentes – em linha reta – até o 5º grau).

Sepultamento
na Matriz
Houve um tempo que sepultamentos também eram realizados no interior das igrejas. O Santuário Mariano e Diocesano de Pindamonhangaba, tradicional e histórica igreja Matriz de Nossa Senhora do Bom Sucesso, também abrigou sepulturas.
Sobre isso encontramos algo em recorte do jornal A Gazeta, ano de 1956, não traz o dia nem o mês. A publicação é assinada por J. David Jorge, da Seção Histórica do Arquivo Estadual. Nela o autor transcreve um documento no qual João Pedro Ferreira, fabriqueiro da Matriz, ou seja, responsável pela cobrança das rendas e pelo patrimônio da igreja, atende pedido do presidente da Província (governador), enviando-lhe uma relação descritiva de todo o patrimônio e relação de despesas e rendas da igreja.
O documento foi enviado ao governo no dia 16 de março de 1852 e no referente à renda da matriz explicava que: “no ano de 1850 teve rendimento a quantia de Rs. 77$240. E o ano de 1851, Rs. 115$040. A saber, que o rendimento desta fábrica (a igreja) é tão somente 320 réis, que tem de cada sepultura, por isso que não se pode fazer certo o rendimento, porque varia conforme a mortandade.”

Dois Franciscos, ambos
Carvalho, dois cemitérios
Percorrendo as páginas do célebre livro de Athayde Marcondes obtivemos a primeira curiosidade. Segundo Athayde, em 27 de novembro de 1830, o padre Francisco de Oliveira Carvalho, autorizado pela Câmara, demarcou o primeiro cemitério de Pindamonhangaba. O local escolhido foi “o Alto da Lagoa, com a frente em linha reta para o largo da Matriz”. A localidade Alto da Lagoa (naquele tempo o centro da cidade era uma região de brejos) era a área hoje ocupada pela praça Barão Homem de Mello e dependências da MRS Logística, antiga estação da Central do Brasil.
No mesmo Athayde, encontramos que em 1864 o presidente da Câmara, Dr. Miguel Monteiro de Godoy, escolheu o Alto do Tabaú para a instalação do Cemitério Municipal e “a planta foi feita pelo arquiteto amador Francisco Antonio Pereira de Carvalho, que dividiu a área em quadras e ruas”.
Daí a curiosidade, a coincidência: o nome e o sobrenome dos responsáveis pelos projetos de construção dos cemitérios. O primeiro foi feito por Francisco de Oliveira Carvalho e o cemitério atual por Francisco Antonio Pereira de Carvalho. Ambos Franciscos e ambos Carvalho.

  • Esta fotografia mostra o movimento em frente ao Cemitério Municipal num Dia de Finados na Pindamonhangaba da primeira metade do século XX. Localizado no bairro Alto do Tabaú, este cemitério já conta com 155 anos
  • Anúncio do passado FOLHA DO NORTE - JUNHO 1930
  • Lembranças literárias Paráfrase Quando em breve chegar o ameno estio e tu fores, chorando, ao Campo Santo em busca do meu túmulo sombrio, ao vê-lo, hás de sorrir, cheia de espanto. Sim, porque sobre aquele chão baldio que nunca teve nem sequer teu pranto, desdobrado, verás, fofo e macio da natureza em flor o verde manto. Flores do coração... Pudesse eu vê-las por entre os teus cabelos como estrelas astros à noite pelo céu dispersos... Bem como ouvi-las te dizer baixinho as palavras de amor e de carinho. que eu não te disse nunca nos meus versos!... Belmiro Braga, jornal A Situação (extinto), 14 de novembro de 1920