História : Curiosidades folclóricas da Pinda antiga

Concluindo o tema dedicado ao mês do folclore, nesta edição recordaremos algumas curiosidades folclóricas da Pinda de antigamente, como comidas, artesanatos, danças e causos.
Iniciamos com um passeio pelo nosso Mercado Municipal, local de românticas reminiscências. Este passeio no tempo quem nos proporciona é a rica memória do escritor, poeta, sonetista e trovador Balthazar de Godoy Moreira (1898/1969), ao nos descrever um domingo no Mercado Municipal nas primeiras décadas do século passado…
O mercado do qual nos conta o escritor sobre o movimento em uma manhã de domingo ocupava ainda o local onde já há décadas se encontra instalado o quartel do do 2º Batalhão de Engenharia de Combate (praça Padre João de Faria Fialho).
Entre seus artigos denominados “Minhas Memórias de Pinda”, publicados em edições da Tribuna do Norte do ano de 1963, Balthazar revela suas recordações do mercado citando os produtos que eram ali comercializados tais como os doces:
“…Eram dez ou doze tabuleiros com doces em montículos coloridos, os de cidra, de batatas, de banana, de goiaba, pêssego, as cocadas brancas e escuras, pés-de-moleques, talhadinhas, bala de coco, baba-de-moça, puxa-puxa etc. ”E além dos doces outras especialidades da culinária regional, “bolinho de fubá, moquecas de galinha em folhas de bananeira, pamonhas, broinhas de fubá, bolinhos de peixe, bolões de fubá, bananinhas de polvilho e outros.”
Relembra também o artesanato ali comercializado: “…Talhas, potes , moringas, pichorras de dois bicos, alguidares, panelas de dois pezinhos e dois tocos de asas ornamentais, caldeirões, vasos etc.”. Também havia, ao lado da louça comum, a de brinquedo, as panelinhas para as meninas brincarem de casinha.
Em seu livro “Cada Caso um Causo” (1999), Moacyr de Almeida (1920/2005), assim como o Balthazar revela suas memórias sobre o mercado do município, destacando também o artesanato ali exposto para comércio. O autor faz referência especial aos figureiros de Pindamonhangaba, segundo ele, “assim chamados por fazerem figuras de barro para presépios, levando grande variedade delas ao mercado para serem vendidas”. Cita ainda os balaieiros, que faziam balaios e cestas de bambu, e também os artesãos que faziam gamelas e pilões.

Jongo, caninha verde… folclóricas danças
Outras das manifestações folclóricas de antigamente dizem respeito às danças típicas. Num programa da festa de Santa Ana do Alto do Ribeirão, localidade que passou a ser denominada bairro de Santana (o programa é datado de 1902), consta a realização de “diversos divertimentos, tais como jongo, caninha verde, bois jacá, caiapó etc”.
Em “O Visconde da Palmeira e a Cidade Imperial “ (2000), Maurício Marcondes transcreve, no capítulo dedicado às festas e tradições religiosas, um programa da festa de São João Batista publicado na edição de 4/3/1883 da Tribuna do Norte. O evento ocorria em uma capela dedicada ao santo, que havia no largo Quinze de Novembro (atual largo do Quartel). Na programação desse evento constava também “jongo, cana verde, desafio de guitarra e outras surpresas agradáveis”.

O causo do lobisomem
Falar sobre folclore é falar também da mula-sem-cabeça, curupira, saci e entre outras criaturas sobrenaturais o lobisomem. O causo que recontaremos a seguir destaca-se mais pelo conteúdo cômico que aterrador. Encontramos no livro de Balthazar de Godoy Moreira, “…E os Campos do Jordão eram Pindamonhangaba” (São Paulo, 1969).
“Em Pinda, no Tabaú, tem um homem que cria lobisomem. No viveiro. Na última vez que fui lá vi uns quatro, mamando.”
Foi assim que, conforme escreveu Balthazar em sua citada obra, o Edmar respondeu seriamente ao campeiro da estância, conhecido por Zé Candinho, quando indagado se acreditava na existência de lobisomem.
A animada conversa acontecia na casa dos Godoy Moreira, em Campos do Jordão, no inverno de 1927. Acredita, não acredita, Belinha, irmã de Balthazar, recordou uma passagem sobre o assunto envolvendo um tal de Nacinho. Por ser “de uma palidez doentia e meio inchado”, começaram a dizer que às sextas-feiras Nacinho virava lobisomem.
Ao ficar sabendo do comentário sobre sua pessoa, o pobre procurou o velho Godoy Moreira e, segundo Belinha, propôs o seguinte:
“Eu queria que o senhor me deixasse pousar aqui hoje pra suncê me vigiar. Amanhã é sexta-feira e se eu sair de casa e for mesmo me espojar no galinheiro, a maldição caiu mesmo em mim.”
O pedido foi aceito com a recomendação de que Nacinho ficasse no quarto perto da cozinha, pois ali, se ele abrisse a porta para sair os cachorros latiriam, alertando o dono da casa.
Ocorreu que fizeram uma brincadeira com o caboclo. “Não sei se foi de Antonio Godoy a ideia, ou de seu irmão Chico de dar para Nacinho dormir uma esteira suja, a propósito, com esterco de galinha. Do galinheiro até o quarto semearam também migalhas do mesmo escremento”, relembrou Belinha.
Resumindo o causo, quando Nacinho acordou ficou desesperado. Não se lembrava de ter acordado à noite ou ouvido os latidos dos cães, mas a prova estava lá, “talvez tivesse ficado invisível”, pensou. Sem falar com ninguém, montou seu cavalo e saiu em disparada. Mas os Godoy o trouxeram de volta e explicaram tudo, ele não carregava sina alguma. Nacinho acabou se apoiando nas palavras dos moços, que eram doutores.