Editorial : De quantos ‘Gabriel’ estamos falando?

“Atualmente, uma questão que muitos vêm debatendo é sobre a comunidade LGBT+. Eu sou gay e posso falar que ser homossexual não é fácil. Saímos nas ruas sem saber se voltaremos vivos. E quando voltamos para as nossas casas, ouvimos xingamentos como ‘vou te dar uma surra para você aprender a ser homem’. Eu tenho 18 anos e são 18 anos de pura resistência. Luto diariamente para termos o direito de sermos livres, longe de discriminação e de pessoas nos dizendo que ‘iremos para o inferno’. Não se trata de religião, mas sim de pessoas. De seres humanos que fazem parte da sociedade. Algumas pessoas pensam que queremos direitos privilegiados. Não! Não buscamos privilégios, apenas que nos respeitem. Você já viu alguém da comunidade LGBT em cargos mais elevados? Ou uma travesti trabalhando em algum supermercado ou loja de rede? Outra coisa, durante as festas juninas e julinas você não verá um casal de homossexual casando na quadrilha e nem verá uma travesti trabalhando na barraca dos doces ou das bebidas, por exemplo. Essas festas, comemoradas nesse período do ano, é um espelho da sociedade. Mas nós, não temos espaço, simplesmente por sermos gays. Eu nunca pedi para ninguém que ‘me ame’, apenas que me respeite.”

Esta não é a opinião do jornal. É a transcrição da carta de um leitor. Do Gabriel. Morador do bairro Araretama. Ele tem 18 anos e teme todos os dias por sua vida. Sabe por quê? Porque tem uma condição fora dos “padrões” da sociedade.

Há pouco mais de 100 anos, nossos antepassados vendiam pessoas. Tiravam o “direito de ir e vir” de semelhantes que “não tinham o seu tom de pele ou suas posses”. Mais de um século depois, apedrejamos pessoas porque “não se vestem como nós, não torcem para o nosso time ou frequentam uma religião diferente da nossa”.

João Marcondes de Moura Romeiro – fundador deste centenário jornal – foi abolicionista, e, por meio de matérias jornalísticas fez com que os ‘senhores’ antecipassem à Lei Áurea em 78 dias, libertando espontaneamente seus escravos, no dia 25 de fevereiro de 1888.

À vezes, é preciso “abolir” pensamentos retrógrados e atitudes intolerantes, e, como formadores de opinião, questionarmos diariamente: “será que estamos, de fato, cumprindo nosso papel?”