Entrevista da Semana

Na próxima segunda-feira (23), o Lar Irmã Terezinha completará 74 anos de existência e de prestação de serviços à cidade. Álvaro César Bodini (foto), presidente da instituição, é nosso entrevistado da semana. Confira!

Tribuna do Norte: Quantos idosos residem na instituição atualmente?
Álvaro César Bodini: Hoje, 82 idosos residem aqui. Mas nossa proposta é oferecer pelo menos 40 novas vagas com a inauguração do ‘Centro Dia Idoso’, que abrigará os idosos durante o dia apenas.
TN: Há quanto tempo está à frente do Lar? E quais as principais mudanças na sua gestão?
Álvaro: Desde outubro de 2016. O Lar teve várias fases: na fundação foi muito bem instalado e estruturado, com uma boa localização e bastantes doações… Mas depois, por diversas vezes passou por fases de decadência. Quando cheguei, tivemos que fazer muitos ajustes. Não só na infraestrutura, mas também na alimentação e em procedimentos internos. Investimos em educação, em qualidade de vida e em atividades físicas, que fazem muita diferença na saúde deles.
TN: Pode citar um exemplo dessa diferença?
Álvaro: Entendemos que a alimentação é primordial e por isso, investimos muito nela: uma comida saudável e uma vida ativa trazem benefícios visíveis. Por exemplo, o índice de óbito do Lar era muito grande: cerca de 20 a 30 óbitos por ano. Em 2017 tivemos 6; e em 2018, 8. Este ano não fechamos ainda, mas também será um índice baixo.
TN: Quais outros investimentos pode citar?
Álvaro: Bom, realizamos uma reforma ampla na infraestrutura, com novas cores, novos equipamentos, como televisões de led. Hoje, eles têm aulas de dança circular, de salão, inclusão digital; eles próprios fazem um ‘jornalzinho’ interno. Todo esse conforto gerado reduziu significativamente problemas com excesso de medicamentos, pressão alta e diabetes, por exemplo. Hoje você entra aqui e vê a alegria estampada no rosto deles, pois eles são ativos.
TN: Quantos funcionários e voluntários o Lar tem hoje?
Álvaro: Entre diretos e terceiros temos mais de 90 funcionários, já voluntários não chega a 10%. A questão do voluntariado no Brasil é cultural. Em alguns países, as pessoas têm o comprometimento, até porque consta no currículo profissional quantas horas elas exerceram de voluntariado. Já aqui, infelizmente, grande parte vem até o Lar, mas vem o dia que quer, a hora que quer e ainda tiram fotos com os idosos e saem postando nas redes sociais. A impressão que tenho é que a maioria quer visibilidade e não contribuir de verdade.
TN: Para quem quiser ser voluntário como deve proceder?
Álvaro: Tem que vir aqui no Lar e preencher uma ficha com dados pessoais e horários disponíveis; mas tem que vir para ajudar no que o Lar precisa e não o que ele deseja fazer. Eu sou voluntário aqui e estou por amor à causa, pois sei que eu sou um futuro idoso. Precisamos entender que desta vida a gente não leva nada. Então, ter amor ao próximo, fazer o bem, ser voluntário é o mínimo que podemos deixar de legado.
TN: O que mais o voluntário precisa saber?
Álvaro: Uma dica básica é que nunca venham até aqui com sentimento de piedade, isso não faz bem para os idosos. Até porque, todos aqui já viveram suas fases de juventude e de vida adulta. Outra coisa: não usamos aqui o termo “asilo”, porque entendemos que aqui é o lar deles; também não falamos mais “internos”, preferimos residentes. Mas fundamental mesmo é o comprometimento com os dias e com os horários.
TN: Como a instituição é mantida financeiramente? Quem pode contribuir?
Álvaro: Por meio de convênios com o município e com os governos Estadual e Federal; renúncia fiscal, empresas que ajudam e recebem deduções em impostos; temos também o sócio contribuinte, que tem um carnê onde faz sua contribuição mensal, que pode ser de 20, 30 reais ou o que puder… E qualquer pessoa física que quiser realizar doações pontuais, é só ligar aqui que passamos as formas.
TN: No geral, como avalia sua gestão? Está satisfeito?
Álvaro: Eu trabalhei e viajei muito, pois venho da área têxtil e mecânica industrial. Chegou num ponto em que pensei: “o quê estou fazendo da minha vida?” Preciso deixar um legado. A verdade é que desde o jardim de infância, eu já me preocupava com as crianças que não tinham seu lanche… Isso me ‘cortava o coração’. Em casa, eu pedia pra minha mãe colocar um pouco a mais para eu dividir. Então, penso que eu já era ligado em questões sociais… Nós estamos aqui na Terra de passagem e temos a escolha de deixar uma imagem positiva ou negativa. Acredito que eu esteja cumprindo bem a minha missão. Eu tenho sete filhos, cinco netos e uma família maravilhosa. O que mais posso querer? Sou muito feliz!