Especial “Festipoema 2019”

Relação dos poemas selecionados no “Festipoema 2019”.
Apresentações acontecerão nos dias 21 e 22/09/19, a partir das 20 horas, no Espaço Cultural Teatro Galpão

 

CATEGORIA INFANTIL

BRINCADEIRAS
Ainda sou criança
e minha vida é assim.
Adoro minha infância
e invento brincadeiras sem fim.

Gosto de brincar
de Esconde-esconde e Pega-pega,
outras brincadeiras vou falar:
Polícia e ladrão e brincar de boneca.

Também gosto de escrever poesia.
E para terminar de brincar,
encontro outra rima
e na imaginação vou viajar.
MELISSA SURATY DE SOUZA
Colégio Objetivo de Pindamonhangaba
Pindamonhangaba/SP

COMIDAS DE CRIANÇA
Gosto de comer Nutella
em uma panela
com coisas amarelas
vendo desfile na passarela.

Como brigadeiro
em exagero
vendo um filme
de cavaleiro.

Gosto de comer coxinha
com minha madrinha
na cozinha da Aninha
com tênis de rodinha.
JOÃO ROBERTO FERREIRA
Pindamonhangaba/SP Colégio Objetivo
Pindamonhangaba/SP

O AMOR
Eu sei o que é português
Também sei geografia
Já aprendi o inglês
Já melhorei minha grafia
Tudo pude aprender
Mas há uma pergunta que não posso responder;
E irei te perguntar:
_Qual o significado de amar?
Não adianta olhar no dicionário
Muito menos procurar na internet
Para o amor não há explicação
Não é uma coisa que pode pegar na mão.
Enfim, não adianta mais falar
Que isso eu nunca vou conseguir explicar!
ROAN PÓVOAS MONTEIRO DOS SANTOS
C. Emília Ribas- Anglo Unidade I
Pindamonhangaba/SP

O FLAMINGO
Pernas num tom preto
Aquelas penas rosadas
E seu bico escuro
São características marcadas.

Aquela ave rosa
Que se tornou popular
E agora é representada
Em qualquer lugar.

Adesivo ele virou
Mochila se tornou
Canetas de flamingo
Todo mundo comprou.

Logo virou febre
Até camisas inventaram
E em travesseiros temáticos
Pessoas se deitavam.”
ANNA LÍVIA ARAÚJO FRANÇA DE
OLIVEIRA – Pindamonhangaba/SP-Sesi
Pindamonhangaba/SP

PASSEIO NA FLORESTA
No passeio vi muitos azulões
brincando com alguns gaviões
Embaixo de uma árvore havia cardeais
vestindo belos aventais
esperando seus pacientes colibris
com os seus primos jabutis
e depois da consulta haverá uma festa
com cardeais, pixoxós e pica-paus na
{floresta.
AMANA BAGGIO PRUSS
Porto Alegre/RS-Escola Marista Rosário

CATEGORIA JUVENIL

AUTOFAGIA CÓSMICA
Da maneira mais brutal,
Minha sombra me acompanha;
A minha carne retorce a realidade
Assim como tece o medo
Pois a ideia da companheira sombria
Traz consigo, em sua escuridão inocente
A imagem, putrefata e dolorida
Do âmago da minha composição;
Mas é com o gelar das cores noturnas
E com a chegada dos bons,
Os veneradores do caos da culpa
Que o tecido estragado grunhe;
Em autopiedade, impõe sua existência;
A autofagia misericordiosa cessa
E aceita: a mutilação é pior que a culpa
Pior que a podridão e o nojo implexo
E é com claridade que a carne ama a
{cicatriz
Pois seu pior demônio sempre fora
O seu melhor reflexo
BARBARA NITSCHE LEIDENS
Escola Estadual Nicolau de Araújo
Vergueiro – Passo Fundo/RS

DECLARAÇÃO DE AMOR
Quando A Pego Em Minhas Mãos
Meu Coração Acelera
Meu Pelo Arrepia.
Eu A Amo? Claro!

Ela É Minha Feliidade
Ela É Minha Vida
É Só Felicidade
A Minha Viola Caipira!
ADRIAN NORONHA MAFRA OLIVEIRA
Escola Estadual Do Sobradinho
São Thomé Das Letras/MG
MEU PAI
meu pai acorda cedo
corre atrás do pão
Nem cabem mais calos na sua mão
Muitas noites chorou escondido por falta {de pensão
Meu pai não cansa
Nem descansa
E sua única herança
São três crianças para cuidar

Ele Limpa chão
Ele lava roupa
E faz comida
Sabe o que quer da vida
E a todos quer ajudar

Perdão por ser sua sina
Prometo ser uma boa menina
E nunca te decepcionar

A todos os pais que são como você
Eu quero agradecer
Obrigada MÃE por ser meu pai.
INGRID FERREIRA GARCIA
Etec João Gomes de Araújo
Pindamonhangaba/SP

O UNIVERSO DO GURI IMPOSSÍVEL
o guri nasceu com um único nome na
{certidão
sem código de endereçamento postal
criou universos de areia
desenhos nas estrelas
sem nunca ter enxergado o tanto que era {mortal

guardou o almoço para o jantar
cresceu sustentado por um único pilar
guri, telhado pesado necessita de dois pra {suportar

pulmão exaurido
músculo fadigado
potencial perdido
o guri que desenhava universos
de dia trabalha na areia
de noite como bandido

eles disseram
você colhe o que semeia
eles só atiram nos sem endereço
teu pai não te ensinou
que para tudo tem um preço?

o guri que amava o universo
uma estrela há de virar
porque antes mesmo de nascer
na praia há de morrer
sem ao menos ter a chance de nadar
LOUISE DA SILVEIRA KLEIN
Instituto Federal de Santa Catarina
Florianópolis/SC

PAIS E FILHOS
Eu sou aquele que você inspirou
Quando tudo parecia perdido.
Eu sou aquele que você ajudou
Quando nada fazia sentido.

Eu sou aquele que primeiro sonhou
Porque você me deu asas para voar.
Eu sou aquele que não desistiu
Porque você me ensinou a acreditar.

Eu sou aquele que se aprimorou
Seguindo o caminho que você indicou
Eu sou aquele que superou você
Sonhando mais alto do que você poderia crer.

Eu sou aquele que se fortaleceu
A cada queda, a cada conselho seu.
Eu sou aquele que você cuidou
Segurando pela mão, protegeu e amou.

Aquele que você se orgulha sou eu
Que aprendi com os erros a cada dia
Que enfrenta furacão, tempestade e ventania
Que encontra refúgio em um abraço seu
Porque você é meu Porto Seguro.
CAIO MACHADO DOS SANTOS
Colégio Gislaine Rosati
São Paulo/SP

QUINTAL MÁGICO
Toda criança quer,
um quintal qualquer,
mas igual a esse
aumenta o interesse.
E a brincadeira começa,
tornando uma casa na árvore em castelo,
cachorros em grifos,
uma rosa vira uma donzela em perigo,
um graveto em uma espada.
Árvores tornam-se gigantes,
com passos deselegantes.
Roupas no varal,
um fantasma genial.
Folhas, como bombas a cair.
Tenho que tomar cuidado,
para não explodir.
Algo no arbusto
transforma-se em susto.
Árvores frutíferas dão munição,
para combater anões,
que só causam confusão.
Seres incríveis,
nas belas asas
de um passarinho,
que voam até suas casas.
O tempo parece parar
e eu continuo a brincar.
Aventuras mil,
em um mundo infantil.
Só que a brincadeira está acabando,
pois tenho que ir,
mamãe já está me chamando,
está na hora de partir.
Meu quintal é assim,
com aventuras sem fim!
HEITOR SAMPAIO DE FREITAS
Centro Educacional Paineira
Santo André/SP
RADIANTE MENTIRA
Nesta noite não há vida para mim
Mundo novo, sua falsidade chora
Contrária ao curso, vou pra outrora
Eu quero ópio, brocados e cetim

Louco universo, redime o erro enfim
Na surdina, concerta minha história
E eu imploro, me devolve à glória
Esquecida- de onde quer que eu vim,

Nesta noite não há vida para mim
Deste mundo já vou-me embora
Me aguarda, minha torre de marfim

São só saudades do que nunca vi
Delírio de liberdade- minha’alma mora
Na parva solidão- permaneço aqui
BIANCA LIEKO PENINA OMAKI
Doutor Alfredo Pujol
Pindamonhangaba/SP

REFLEXÃO DO AMOR ADOLECENTE
No coração ninguém manda
não escolhemos a quem amar
meu coração até samba!
só de te olhar.

É complicado se apaixonar
Você não sabe o que fazer,
dá vontade de gritar!
porque eu só quero te ver.

Mas a realidade nem sempre é boa,
Sonhar alto nem sempre ajuda
mas mesmo que o amor doa
nem tudo vai ser sua culpa.

Uma coisa é verdade!
você vai saber quando for a pessoa certa,
se for amor, não terá falsidade
então fique esperta.

Não sofra por quem não te merece
você merece alguém mais que especial,
alguém que permanece
contigo até o final.

Amassos, beijos e abraços
tudo isso é muito bom,
mas você precisa de alguém que ame todos {os seus traços
sem nenhuma exceção

Não deixe te usarem
não se permita sofrer,
não ligue para o que falarem
pense mais em você!
BRUNA VITÓRIA DOS SANTOS LEITE
EEProfessor José Aylton Falcão
Pindamonhangaba/SP

RIOS DO BRASIL
Rios do Brasil
Meu amazonas da América do sul com o formato de suas margens encantou com suas extensões com o brilho de suas águas trouxe multidões

Meu segundo, meu Paraná nasce entre dois para mostrar a profundidade do verde que te pinta e os afluentes que te rodeiam

Meu Tocantins da serra dourada do tupi bico de tucano da nascente a foz brasiliano carrega em suas formas arquipélagos {de vários tamanhos

Meu São Francisco, velho chico e rio – mar que leva vida e riqueza com tradições e gerações pra recordar do nordeste ao
{sudeste com historias pra contar
Brasil, Brasil águas de imensidão levam e carregam lembranças de nossos corações
LARA RODRIGUES NEVES
Estadual Alfredo Sá – Teófilo Otoni/MG

SOLIDÃO
Esta noite não estarei sozinho
Tenho uma folha, uma caneta e minha alma
Irei brincar com as palavras
Trilhar caminhos incertos
Com desejos , alegrias e emoções
Escrever e ler
Ler e escrever
Uma poesia
A poesia é sentimento sem medida
A sensação das poesias
Nos permiti florescer as letras
De amor colorido como arco íris do infinito
A sensação das poesias
Descreve as batidas do coração
Da asas sem sair do chão
A poesia é ponto de equilíbrio da mente
A poesia é arte é ação
Poesia é o que a gente sente
Mesmo dentro da Fundação
Pseudônimo Lua lagrimosa
LUA LACRIMOSA
Lorena/SP Fundação Casa

CATEGORIA ADULTO

A DERIVA
Feito ave voejando ares celestes,
Feito estrela mastigando a noite escura,
No Calor d’alma exalando uma candura,
Vou desnudo escolhendo novas vestes.

Em secreto como broto soterrado,
Cravo unhas, vou rasgando pesadelos,
Eu farejo teus abraços de novelos
Feito o rastro de um bicho invertebrado.

Essa caça que transpassa meus desertos,
Nessa busca que me custa a vida inteira,
Abraçado à memória em meu vazio.

Mais me importa ser um ser qual sol desperto,
Mais me alegra ser do rio a corredeira,
Ainda que a deriva, eu vá em meu navio.
DELMO BIUFORD DE SOUZA
São Paulo/SP
A PURA MERCIA
Envolventes,
as suas palavras de bela serena
e fluente,
o seu manso olhar quando oculto da vida, acena
e ateia as fogueiras em noite repleta
e envolvida ao místico existir do planeta,
…incandescentes
os seus lascivos lábios entreabertos no
{orgasmo das folhas
balbuciando impávidos nas ancas do vento.

…ah, tão linda e pura,
a sensualidade esdrúxula em seus passos
poisando em terras de nuvens, despertando {a lírica policial
adormecida nas axilas duma madrugada {desamparada.

– o encantar das suas curvas ora ondulantes {ou mapeáveis
na geografia paramilitar
quando ela me encara com o olho de
{instrução matalana,
líquida e taciturna
rompendo em mim os semidiálogos dum {poeta masturbando
sua raiva amorosa na impotente força {duma AK47,
nos campos de batalha.

Até que ela é um mar florindo em suas ancas
com o azul térreo do céu, ah, sim…
é um encanto,
esse assombro penetrante
e irreverente,
constantemente nela.
Jeconias Mocumbe
EDILSON SOSTINO MOCUMBE
Maputo – África

A SAPATARIA POÉTICA DE QUINTANA
A poesia costumava andar descalça
pelas bandas pampeanas do Alegrete
entre estrofes pilchadas de prenda, sem {sandálias
e adjetivos de bombacha, reluzentes.

Voluntário no Batalhão das Letras Caçadoras
Quintana marchou ao Rio de Janeiro
{empunhando seu trabuco lírico
para combater palavras reacionárias,
{cangaceiras
na Revolução Literária de 1930.

No retorno à Porto Alegre, passarinhando {pela porta giratória
o aprendiz de feiticeiro gramatical
{hospedou-se na Rua dos Cataventos
em quartos de hotéis inéditos e esparsos
repletos de esconderijos do tempo
rodeados por espelhos mágicos
e paredes pintadas com a cor do invisível.

Aos sábados, em sua coluna semanal
Quintana abria o antigo baú de espantos {poéticos
e dele tirava coloridas exclamações líricas
cavalgando adjetivos crioulos
arremessando sua boleadeira poética
laçando predicados preguiçosos pelos campos
pilando seus pés ralados no chão
perdendo-se dentro de si mesmo
e de tanto vagar pelo Pampa Literário
a sola lírica do sapato de Quintana
{acabou furando.

Nos jardins de Porto Alegre, Quintana
{cultivou sementes de poesia
que logo brotaram por todo o campo
{semântico gaudério
florescendo predicados quintanares pelo {Pampa
atraíram leitores-passarinhos sedentos {por seu néctar literário
fertilizaram todo o rincão gramatical
e agarraram-se ao vento Minuano
abrindo sua própria sapataria poética
no aterro literário, à beira do Guaíba
o sapato do poeta então floriu
transformando Quintana e quartos de hotéis
em uma belíssima Casa de Cultura.
FERNANDO ERNESTO BAGGIO DI SOPRA
Porto Alegre/RS

AMOR, DESESPERADO E BOM AMOR
Buscar no peito a porta para a vida
é cruzar turvo céu por meteoros devastado
é seguir descalça caminho sobre espinhos,
é romper da boca mordaça e laço!

É deixar o ninho num voo tremulante,
é ranger feito bambu em tempo de guerra,
é escoar feito rio – sinuoso destino,
é desbravar sem medo a própria quimera!

É correr sob o efeito de louca alegria,
é se entregar se abrasando em doce lamento,
é pular e parar extasiada – sã doidice dos santos,
é ser feito nuvem – irrestrita rota do vento!

É interromper injúrias antes da partida,
é sentir a candura que deságua e incendeia,
é pacificar frente ao vil desacordo,
é se deixar cair sem medo na teia…

Do Amor, Anjo-Cupido,
que embala como quer esta minha canção…
Tuas melodias suplantam o juízo
neste cativeiro de meu livre coração!

Que os oceanos nos arrebatem num abraço,
é hora, é hora, já estamos à proa!
em meu peito, Alento divino,
Tua dança triunfante me envolve e ecoa!
EVALDA DE ANDRADE SILVA COSTA
Pindamonhangaba/SP
ANNA E EU
Dez de março de 66: um aniversário e um enterro.
Eu completava quatro anos,
E a Rússia enterrava sua Anna Akhmátova.
Sucumbira a poetisa ao último enfarto.
Se a notícia circulou na imprensa,
Não sei, não decifrava as letras ainda,
Tampouco da morte sabia a existência.
Aliás, guerras, fome… só muito depois das palavras,
Das primeiras decodificadas,
Devastando o território das ternas fantasias.

Quando os peixinhos prateados
Foram capturados pelo meu pai
Com uma concha enorme que uma sereia perdera
Nas areias cálidas de uma praia distante,
A alma de Anna, granítica e destroçada como Leningrado,
Rastreava os sonhos desertados _
Pássaros fugidios ao retumbar do tambor…
Ela se enrolava no xale negro,
Ouvia o sussurro das ruínas debaixo das flores
Dos jardins de São Petersburgo.

Nos passos derradeiros, os versos não alçaram voo,
Como antes no Cão Perdido
Quando borboleteavam simples e etéreos
Para muito depois pousarem no papel,
Tremularam nos seus lábios, desconexos,
Sem força para nascer.
E a poesia era ainda um delicioso cardume prateado
Nadando numa bacia
E o murmúrio do mar na concha grande
Que eu ouvia.
SANDRA LOPES PROTASIO
Rio de Janeiro/RJ

CANÇÃO DO FIM DOS TEMPOS
Que, mesmo que eu encontre desencanto,
eu nunca perca o espanto
diante da beleza da vida.

Que, mesmo que eu encontre trapaça e cobiça,
eu nunca perca
a sede por justiça.

Que, por pior que seja o meu sofrer,
eu nunca perca
a vontade de vencer.

E que, por mais que eu vença,
eu nunca perca a humildade,
nem corrompa a minha integridade.

Que eu nunca perca a gentileza,
mesmo diante da rudeza.

Que, por pior que seja a existência,
eu nunca perca a persistência.

Que, mesmo que um amor venha a me abandonar,
eu nunca perca
o desejo de novamente amar.

E, mesmo que eu perca tudo,
que eu sempre encontre
um motivo para recomeçar.

E que, ao fim da minha existência,
com a tranquila consciência,
eu tenha a compreensão
de que nada foi em vão…
ALESSANDRA COLLA SOLETTI TUSSI
São Paulo/SP

CASTELO DE AREIA – FOI TUDO ILUSÃO
Pseudônimo – Relógio do Tempo
A boca que beija
– Morde;
A língua que lambe
– Cospe;
A voz que seduz,
– Grita;
A mão que benze,
– Bate;
A jura no altar,
– Rompe;
O laço de amor,
– Solta;
A lua de mel,
– Salga;
O som do prazer,
– Cala;
A vida a dois,
– Queda;
A roupa de seda,
– Rasga;
O rosto da bela,
– Chora;
O pacto de sangue
– Sofre;
O leito de amor,
– Rui;
O viço de flor,
– Seca;
O corpo de dama,
– Quebra;
O fim da história,
– Chega
Maria que vive… – Morre!
ROSANA DALLE LEME CELIDONIO
Pindamonhangaba/SP

DESENCANTO
desencanto
hoje dói, amanhã sara
semana que vem beijo outro sapo
todos os dias vestirei dourado
e subirei ao palco
que as ilusões precisam sempre
de um palhaço que as sonhe
pra que possam se perder

aqui, na china, em pasárgada,
em qualquer oco do mundo
sonhadores sonham sonhos
encantam-se
beijam sapos que jamais se desencantam
doem, choram, saram,
e não param

não havemos de parar!
vamos lutar cada sonho
vamos sonhar cada luta
ganhar na ponta da farsa
o direito à nossa pátria:
talvez a terra do nunca,
o outro lado do espelho,
strawberry fields forever,
ou qualquer que se inventar
quem for sonhador que me siga
que o sonho não acabou
tem quimera, carochinha,
faz de conta e era uma vez

tá certo que nem sempre dá certo
mas, entra por uma porta e sai por outra
sempre há quem sonhe outra
MARIA HELENA BARRETO LUIZ
Pindamonhangaba/SP

DESERÓI
Não, eu não sou um super homem de aço
Sou mais um lobisomem andando descalço
Ser herói é coisa de criança e de bandido
E sou apenas o poeta pelo vilão destruído.

Sou um anti-herói caído que nunca soube voar
Não tenho asas de plástico e sequer sei nadar
Pelo mundo sou visto como o homem invisível
E se não posso ser enxergado, sou indivisível.

Não sou herói das tardes coloridas de televisão
Nas noites doloridas voo às cegas na tua visão
E nas madrugadas vencidas morcego rotundo
O herói de mentira tentando destruir o mundo.

As palavras são minha força, a caneta é meu facão
E não pertenço a nenhuma ordem, legião ou facção
Afastem de mim as câmeras, matem os desenhistas
Não uso as máscaras, nem os disfarces dos artistas.

Portanto, não chame por mim quando estiver em perigo
Nenhum sinal no céu, sem pedidos de socorro e abrigo
Sou deserói, jamais apenas uma lenda ou obra de ficção
Um soldado morto, herói posto, criado para sua diversão.

Não espere que eu defenda a pobres, nem oprimidos
Que minhas forças veem em cápsulas e comprimidos
Minha fantasia não tem as cores de qualquer bandeira
Me visto da nudez dos justos e condenados à fogueira.

Um dia fui um herói de brinquedo, destemido e sem medo
E uma armadura de aço guardada no armário em segredo
Transformei rochas duras em puros diamantes dos céus
Mas fui tratado como vilão e colocado no banco dos réus.

E não contentes com a destruição e com minha destituição
Ainda me roubaram a fantasia e condenaram a prostituição
E entre a forca e a força decidi pela solidão como fortaleza
Fazendo da morte a companhia e da alegria minha tristeza.
LUIZ CARLOS GIRAÇOL CICHETTO
Araraquara/SP

DESISTO DE DESISTIR DE TI
Desisto de desistir de ti, meu amor.
Pois que fico como lume sem chama.
Amor que desama.
Sol no qual se encobrem os raios ao sol pôr.

Se tudo em mim esmorece, sem ti, meu amor.
Que direito tem a vida de dizer que não és meu?
Quando todo o meu ser por ti chama.
Quando minha alma pela tua alma clama.
Quando me movo toda eu em trejeitos de dor.

És meu, como são do céu o sol e a lua
e os pássaros e as nuvens e o amanhecer.

Seres meu faz parte da minha natureza.
Como é natural todo o elemento.
O fogo, a água, a terra e o ar.

E no entanto, digo que és meu,
sem querer com isso prender-te.
Que não se aprisionam os pássaros livres,
cuja casa ao relento faz neles rebrilhar a alegria.

Tolher-te os passos, pretendendo ter-te cativo,
seria o mesmo que matar uma árvore,
que assenta raízes no solo e dele vive.
Cortar a brisa que avança livre, no seu movimento.
Fazer murchar uma flor ao colhê-la, para nosso bel prazer…
ANA PAULA VICENTE JOB
Lousã/ Portugal

ELA
Outrora, entre olhares e suspiros , palavras lascivas , beijos,
paixão, namoro , lábios molhados , tudo benfazejo.
Como num oceano, límpido transparente, um imenso amor,
eis que jaz um sonho , agora é passado , e só dor.

Na carne que aguda, não passa,
não sabe de onde vem , perpassa.
Perdas e desequilíbrio que tortura e faz gemer,
lacrimeja, retorce num leito exaurindo choro a contorcer.

Como flecha que rasga e perfura as entranhas,
indescritível, desfalece, entristece, tudo estranha.
Como onda que vai e vem , por vezes ácida , latejante,
numa neurose , grita desolado , perturba , inconsequente.

Assolado, mau dito, que o diabo te carregue,
madrugadas gélidas, tudo piora, o anjo negro é quem exerce.
– Açoites , melancolia, fé pra que então ?
Nenhum consolo, um abraço, nem a morfina na servidão.

Traiçoeira de intrínseca origem, sabe lá de onde,
surge de um nada, abre vísceras, na pálida fronte.
Inconteste, imóvel, perverte a mente dissolvida,
até lázaros que da fé , na prova, duvida.

Nessa luta “Lateral Amiotrófica” a contra gosto,
dos escombros do que resta, anos a fio , só amargura no rosto.
– Esclerose que entorpece, e que nada e ninguém acalma, {só postula.Misericórdia senhor! … Pra quem vive com ELA , a sangrar {a alma e a medula.
MÁRCIO PRADO
São Bernardo do Campo/SP

RECORDAÇÕES E NADA MAIS
(EM REDONDILHA MAIOR)
Na poeira dos cafezais
entre negros e chicote
na cena digna de corte
se ouviam lamentos e ais

são escravos, e nada mais…

e se ardiam esses ais
quando o branco braço forte
lhe apertava esse chicote
sobre os ombros desses tais…
são escravos, e nada mais…
são escravos, e nada mais ?

não são mães, filhos, nem pais ?
homens, mulheres sem sorte
que lamentavam a morte
em rugidos infernais
são escravos, e nada mais…
e lhes restam só seus ais ?
só o estralo do chicote
perfurando fundo e forte
é só isso, e nada mais…
só são escravos que importais?
são escravos, e nada mais…
só são escravos que importais?
são os lamentos e seus ais ?
são filhos longe dos pais ?
ou os rugidos infernais ?
lhe direi o que me importais
é que são homens, não animais
é que são homens, nada mais…
nas cenas dos cafezais
nos lamentos destes ais
sobre os ombros desses tais
esquecer-me-ei nunca mais…
LUCAS DA SILVA SILVESTRE
Espinosa/MG

RESTARAM
restaram
estes olhos letárgicos
que não enxergam mais horizontes,
esta casa desmantelada,
estes poemas silenciados,
esta taça trincada,
esta familiaridade com o vazio,
repetitivo,
submisso,
esta escassez de palavras e vozes,
esta beatitude,
este corpo exausto de perseguir o não vivido
e esta alma descrente do eterno.

restaram
estas ruas onde caminho trôpego,
este medo de tudo,
esta aptidão em atirar
na lata de lixo
aquilo que já passou.

restaram
estas mãos fracas,
paradas e frias e mortas,
estes relógios
feitos de segundas-feiras,
estas pilhas de imposições
acordos, pactos,
esta falta de sono,
esta extrema unção.
SERGIO ALMEIDA,
NOME ARTISTICO JARDIM- Niterói/RJ

SOBRE SEMENTES E FOLHAS
Penetro na surda casca do outono
As linhas do meu tronco tatuam
Cada intempérie congelada em desterro
Camadas de perdas e esquecimentos

Na ponta de meu galho mais alto
Sobrevive uma folha de esperança
Flâmula resiliente que vislumbra
O tombar das alheias folhas fúnebres

Eis que o vento, que de muito longe veio, a alcança
E de mim exige a derradeira despedida
As pontas dos meus galhos arranham
o céu sem nuvens
Agarram-se à última prova de existência
Mas não há que ser em vão
A folha ainda trêmula
Suga de mim a cansada seiva
Um último gole antes da travessia – de qual deserto?

Cada nervura seca, das rugas e ranhuras,
É testemunha de que existiu um verão
Se um dia o verde em mim habitou
É porque cumpri a semente
É porque honrei as raízes
É porque ergui o tronco
É porque estendi os galhos
É porque me apaixonei flor
É porque me sacrifiquei fruto
É porque abandonei todas as minhas estações e o orgulho {de floresta
Para deitar-me novamente tão somente: SEMENTE
Que não testemunhará o sacrifício da derradeira folha
Que não saberá voo — até o dia em que
o outono lhe vier cobrar
O inverno que sempre chega.
ANDRÉ TELUCAZU KONDO
Taubaté/SP

TRISTE REALIDADE
Dizem que virei comunista
Só porque sou de esquerda,
Mas esquecem que sou pobre,
Marginal e negra.

Sou feminista,
Mas não por falta de informação …
Apenas continuo buscando meu lugar
Nessa famosa naturalização !!!

É natural romantizar tudo,
Aceitar a desigualdade social,
A violência doméstica, a homofobia
E até abuso sexual …

É normal achar um guarda-chuva
Parecido com um fuzil,
Ou, então, dar oitenta tiros em uma pessoa
Porque se confundiu.

Preferem construir colégios militares,
Ao invés de investir na esfera educacional.
E cadê as melhorias?
Segurança, trabalho, moradia, hospital …

Geração de pessoas mesquinhas,
Pensam só em sua prosperidade.
Cadê a empatia que tanto cobram,
Quando se trata de sua comunidade?

Querem ser melhores do que os outros,
Ter dinheiro, casa nova e carro do ano.
A única coisa que importa
É se vão estar lucrando !

Como viver em paz,
Se a maioria não tem tranquilidade?
Então, vou lutar diariamente
Para disseminar criticidade.

Por isso me tornei professora,
Porque acredito no poder da educação.
Quero proporcionar aos meus alunos
Aquilo que o sistema não me deu condição!
ALINE APPOLINÁRIO MOREIRA
Pindamonhangaba/SP