Especial Mulher : Espelho, espelho meu, existe alguém mais bela do que elas?

Quem nunca ficou horas olhando no espelho, procurando as próprias imperfeições? “Estou gorda!”; “Já tenho rugas!”; “Meu cabelo está horrível!”… Não adianta negar! Toda mulher, algumas vezes, reclama do que a incomoda. Até os contos de fadas mostram a necessidade de ser bela. Lembra a cena da madrasta da Branca de Neve perguntando ao próprio espelho: “Quem é mais bela do que eu?”

Na vida real, a maioria almeja aquele tipo físico bem definido, cabelos sedosos e brilhosos e uma ‘pele de pêssego’.
Mas quando, por problemas de saúde, a mulher fica mais distante desse ideal de beleza, o que fazer? Quando o corpo perde o vigor, os cabelos caem e a pele deixa de ser alva, é hora de se fechar, se esconder?
Para Valéria, Rosana e Kelly, definitivamente não! Pelo contrário: para elas, esse foi o momento de mostrar sua face mais bela.
Na terceira reportagem da Série “Mulheres” vamos contar como as três deixaram de lado o tal “padrão de beleza” e, como descreve Antoine Saint-Exupéry em O Pequeno Príncipe, mostraram que “o essencial é invisível aos olhos; só se vê com o coração”.

K e l l y
“A maior beleza de uma mulher é um sorriso sincero”
É uma jovem de vinte e poucos anos como qualquer outra. Quem a vê andando pela rua, sempre sorridente e bem maquiada, não imagina que ela sofre de melasma, uma doença que causa manchas escuras na pele, principalmente em partes mais expostas ao sol, como o rosto, por exemplo.
Há sete anos, quando percebeu as primeiras manchas, ela procurou um dermatologista e, após alguns exames, recebeu o diagnóstico e passou a tratar o problema. Mas as manchas não sumiram. Pelo contrário, elas só aumentavam.
Aumentaram ao ponto de Kelly sentir vergonha de sua aparência e não gostar mais de encarar o espelho. “Era uma fase em que todas as minhas amigas estavam começando a namorar e eu me fechei para qualquer tipo de relacionamento amoroso”, relembra ela.
“Passei anos da minha vida me escondendo, fugindo de fotos, de novas amizades. Entrava em algum lugar e se alguém me olhava, eu já achava que estava reparando na minha pele”.
À noite, sozinha, Kelly se entregava às lágrimas. “Eu pedia que Deus tirasse aquelas manchas do meu rosto”.
Um dia, ao voltar para casa com um amigo, Kelly foi surpreendida com um beijo. “Aquele gesto dele fez com que eu voltasse a me olhar no espelho, procurando o que ele havia visto ali para querer me beijar”. E foi nesse momento de frente para si mesma, que Kelly disse, pela primeira vez a frase: “Eu sou bela”.
Ainda hoje, a jovem se emociona ao lembrar. “No começo eu disse essa frase sem convicção nenhuma, mas Deus foi trabalhando no meu coração e eu entendi que a beleza que importa vem de dentro”.
Hoje, Kelly segue no tratamento da doença, mas mesmo sabendo que as manchas irão persegui-la por muito tempo, ela não se abate. “Voltei a sorrir porque sei que sou amada. E o amor não depende do nosso exterior. Quando amamos quem somos, exalamos felicidade e não tem maior beleza que um sorriso sincero”.

V a l é r i a
“Vou vivendo um dia de cada vez”
E quando faltou-lhe o chão, ela descobriu que tinha asas. E fez destas asas, instrumentos de liberdade e de felicidade. Ela desceu do salto sim. Não por deselegância, mas por indicação médica. E também sob recomendação, retoma ao salto sempre que pode. Quem conhece a Valéria Carvalho, sabe que ela é sinônimo de resiliência, por diversos fatos cotidianos. Quem não a conhece, talvez nem imagine que ela tenha uma doença crônica.
Desde que descobriu a Esclerose Múltipla (EM), há 12 anos, luta diariamente para vencer os sintomas, o preconceito e a falta de informação. Tudo isso, sem deixar de ser mulher, mãe, avó, filha e esposa. “Eu fui agraciada com um pai médico, o que me facilitou o diagnóstico. Então, assim que descobrimos a doença, iniciamos o tratamento”, conta. “Mesmo quando não se tinha tanta informação, termos buscado conhecimento prévio nos ajudou no tratamento. Então, eu sempre friso por onde vou: é preciso ter acesso à informação e, por mais dolorido que seja, nunca o abandonar o tratamento.”
Uma vez por semana ela toma uma injeção (Interferon) que a deixa indisposta, acamada, na maioria das vezes, ou até de cadeira de rodas. Mesmo assim, não desanima e diz, entre sorrisos: “eu acho que é uma situação passageira, mas se for definitiva, eu pinto a minha cadeira de rosa e saio por aí, vivendo, porque não é fácil me derrubar não”, brinca. Valéria afirma que ter o apoio da família é fundamental e que respeitar suas limitações ajuda na busca por qualidade de vida.
A doença tem sintomas invisíveis e por isso os pacientes são tão incompreendidos. “As pessoas não têm noção do que passamos. Eu já ouvi de tudo. Que a gente é preguiçosa, que se entrega e até que fazemos ‘corpo mole’. No fundo, para uma pessoa independente como sempre fui, é uma lição de humildade depender dos outros. Mas também não tenho problemas com isso não. Se precisar, eu peço ajuda e quando consigo, faço tudo o que dá pra fazer sozinha”, comenta. Valéria nunca passa despercebida. Seja pelos longos vestidos coloridos, pelos brincos, colares, óculos ou simplesmente pelo sorriso, que nunca deixa desaparecer.

R o s a n a
“Não fico pensando na minha doença. Prefiro viver!”

Imagens: Divulgação Jucélia Batista
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