Proseando : ESTAÇÃO BARRA FUNDA

Cansado de lavourar e de namoricar “franguinhas caipiras”, Zétião estava de mala e cuia prontas: deixaria a roça para ganhar a vida na capital e conhecer mulheres capa de revista.
– Cê vai vê. Vô ficá rico sem pegá na inxada e casá Cuma muié bunitona. Vô prenhá ela eenchê a casa de bacurizinho.
– Bobage, Zétião. Muié é tudo iguar e aqui tem mai muié que purga nos cachorro, que carrapato nos boi.
-Vô pricurá novidade, cumpadi. Quero muié co prefume de frô, que num seja braba. Quero muié pa casá, pa me dá penca de fio bunito.
Depois da confidência, Zétião partiu. Na capital, se instalou na casa da madrinha, viúva, sem filhos, que lhe conseguiu emprego de repositor de mercadorias, no outro lado da cidade.
Estava acostumado a acordar de madrugada, mas enfrentar filas de ônibus, de trem, e o empurra-empurra no metrô não era para ele. Não demorou a sentir saudade do ar puro do campo, do canto esganiçado do garnizé, das “franguinhas” caipiras, da vaca manca e do cão preguiçoso junto ao fogão de lenha. O aperto no peito o obrigou a escrever pedido de demissão. Mas, no dia que levava a carta rescisória, a loira de sorriso deslumbrante e calça vermelha agarrada no bumbum empinado, apareceu na estação Barra Funda. Zétião quase infartou ao ritmo supersônico do coração. “Quiria sê aquela carça”.
A tentativa de furar o aglomerado para se aproximar da loira foi frustrada, pois ela entrou no trem e a porta se fechou.
– Disgracera. Amanhã eu pego esse chuchuzinho!
A loira só reapareceu na semana seguinte, vestindo minissaia preta combinando com a blusinha generosamente decotada. Estava a poucos metros dele. Trocaram olhares. Ela sorriu maliciosamente, piscou, embicou os lábios vermelho-pega-homem, e remeteu-lhe beijos. Ele estatuou-se. Ela encaixou uma das mãos na cintura e, com o indicador da outra, o chamou. Ele começou a imaginá-la deitada em seu peito, comunicando a sexta gravidez, escolhendo o nome que dariam à criança: Eustáquia, Atanagildo, Getulina, Hildeberto, Hermenegilda…
Enquanto prosseguia garimpando nomes, ela desfilava na direção dele. O movimento da cabeça balouçava fios dourados e encaracolados. O decote escorregava de um lado para o outro, insinuante, mas precavido. Ao vê-la diante de si, não hesitou: abraçou-a e a beijou de-mo-ra-da-men-te. Quase sem fôlego, confessou:
– Cêvirô minha cabeça, muié. Num consigo mai durmi. Penso nocê o dia intero. Quero casá cocê. Quero cocê mi dê uma renca de fio. Diz pra eu quar seu nominho, diz. Deve sê nome de frôr.
Ela o beijou escandalosamente, e revelou:
– Joana Bibelô. Muito prazer.
Ele estranhou.
– Joana? Co essa vóiz do Cido Morera?
– Bobinho. Meu nome de batismo é João. Mas isso não importa. Vem me dar outra beijoca, vem.
Zétião voltou à roça. Está de casamento marcado. Contrairá núpcias, no próximo sábado, com Mariazinha zarolha, banguela, manquitola e última virgem da cidade. Ele a engravidou e já decidiu pelo nome da criança: João ou Joana.