Exposição de obras sonoras explora interface entre arte e ciência

A interface entre arte e ciência, que já foi tema de muita reflexão e embasou produtos teóricos e práticos, apresenta-se mais uma vez no ambiente universitário por meio da ocupação “Sons de Silício”, uma exposição de arte sonora que pode ser visitada no Espaço das Artes, na Universidade de São Paulo (USP), até 26 de abril.
Com 20 obras de diferentes autores, oficinas e performances, a exposição busca mostrar trabalhos artísticos em que o som desempenha papel predominante e que, de alguma maneira, remetem a questões ligadas a conceitos da ciência e ao uso de tecnologias.
“Um aspecto importante de alguns trabalhos apresentados é a ideia de sonificação, isto é, a transposição de dados em estruturas sonoras. No domínio auditivo, a sonificação é análoga à visualização, no domínio visual. Assim como é possível representar dados por meio de estruturas visuais, como gráficos, por exemplo, também é possível representar dados por meio de estruturas sonoras. Vários dos trabalhos apresentados lidam, de alguma maneira, com esse processo”, disse Fernando Henrique de Oliveira Iazzetta, professor titular do Departamento de Música da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP e professor responsável por Sons do Silício.
A ideia da exposição nasceu de uma obra específica, chamada “Buzu”, que transformou em estruturas sonoras as trajetórias de todos os ônibus que atendem a cidade de São Paulo. Julian Jaramillo Arango, doutor em Sonologia, sob orientação de Iazzetta e com bolsa da Fapesp, é o curador da ocupação “Sons de Silício” e um dos autores do “Buzu”. Ele explicou como a obra foi idealizada e executada.
“O Buzu transformou dados do sistema de ônibus da cidade de São Paulo em estruturas sonoras. É um gerador de melodias que interpretou uma base de dados produzida pelo grupo InterSCity durante uma semana de outubro de 2017. Essas melodias, que traduzem em estruturas sonoras as trajetórias dos ônibus que trafegam por toda a cidade, expressam o comportamento normal do sistema. Elas permitem escutar como o sistema funciona em termos de trajetórias das linhas, de densidades de ônibus em cada linha ou de velocidade de deslocamento em cada região”, disse.

  • Mostra procura transpor dados obtidos pela ciência em estruturas sonoras