Proseando : FLORES PARA FLORES (Dedicado a todas as mães. Saudade, mãe!)

Segundo domingo de maio. Estava de saída quando o Perna Seca chegou. Reuníamo-nos todos os domingos no campinho do bairro onde, depois do futebol, fraternizávamos churrasqueando. Assim que me viu sem o traje futebolístico, inquiriu:
– Ôxente! Vai na pelada, não?
Meneei a cabeça e retruquei:
– Hoje é dia das mães, esqueceu? Não vai passar o dia com a sua?
– Mainha mora nas bimbocas, lá no Maranhão. Telefonei agorinha pra ela. Está indo ver a sua?
– Estou. Quer vir comigo?
– E o futebol?
– Hoje não tem futebol, Perna Seca. Decidimos isso no último domingo. Esqueceu? Você vem comigo ou não?
Pensou um pouco e aceitou sob a condição de trocar de roupa.
– Não precisa.Você está bem com essa camisa do Sampaio Corrêa.
Fomos. No trajeto comprei dois ramalhetes de rosas vermelhas. Em pouco tempo chegamos ao destino.
– Vixe! Sua mainha mora aqui?
Sorri, peguei um dos ramalhetes, abri o portão e entramos. No fim da viela das margaridas lá estava ela: franzina, diabética, hipertensa, na cadeira de rodas. Assim que me viu, seus olhos se acachoeiraram.
– Filho, você demorou. Pensei que tivesse me esquecido.
– Jamais a esquecerei.Trouxe flores. Feliz dia das mães.
Beijei-a sucessivas vezes durante trocas de abraços. Perna Seca tentou inibir o marejar dos olhos.
– Quem é o seu amigo, Astolfinho? Algum jogador famoso?
– Este é o Perna Seca. Jogador, sim. Faz pouco tempo que se mudou lá pro bairro e já é o craque do time.
– Perna Seca? Apelido horrível! Qual o seu nome de batismo?
Ele abaixou a cabeça e declarou, envergonhado:
– Minhocácio do Rego Penteado…Filho.
Ela gargalhou segurando a dentadura frouxa. Eu também, mas não tenho dentadura. A zanga dele só se diluiu quando ela mudou de assunto, desfilando a memória pelos tempos de menina. Ele também nos contou sobre a infância sofrida em Belágua, município maranhense.
O tempo aligeirou-se.Despedimo-nos prometendo retornar em breve. Assim que saímos, Perna Seca me bombardeou:
– Astolfinho? Esse não é o seu nome. Ou é? Por que colocou sua mainha num asilo? Por que comprou dois punhadinhos de flor?
– Astolfinho é o nome do filho dela. Eu a adotei no dia que vim conhecer o asilo. Soube que chorava todos os dias esperando que o filho viesse visitá-la. Fiquei condoído. Por isso, assumi o papel do filho.
– E o outro punhadinho de flor, para quem é?
– Para a mulher mais importante da minha vida: minha mãe.
– Arre égua! Ela mora noutro asilo?
– Quem dera. Ela descansa na mansão dos mortos.