História : Futebol na Pinda antiga: “‘Sururu grosso’ no campo da Vila Nair”

História desta edição, segundo pesquisas em antigas edições deste jornal, traz uma recordação que deve ser apreciada como um fato pitoresco e bem humorado relacionado ao futebol na Pinda antiga…

Era um tempo em que a respeitada, aguerrida e querida equipe da Associação Atlética Ferroviária mandava seus jogos no campo da Vila Nair e foi lá que teria ocorrido o “sururu grosso”(o título da matéria foi exatamente esse na edição de 27/1/1935 da Tribuna) na partida entre a Ferroviária e União Juta Fabril da cidade de Taubaté.
O comentário desse jogo, que não fora feito por nenhum representante da Tribuna, pois a matéria havia sido transcrita de um órgão da imprensa local aqui existente naqueles anos trintas denominado “O Dia”, foi só críticas ao jogo:
“A grandiosa tarde esportiva da Associação Atlética Ferroviária não correspondeu à expectativa. Em vez de exibição de técnica, conforme esperava o povo pindense, foi uma verdadeira cena de pugilato, entre jogadores e assistência”.
Destacando o fato de as equipes terem se encontrado pela primeira vez no campo da Vila Nair, o autor da matéria vira um jogo cheio de acidentes e o comparou a uma partida entre dois velhos rivais. “Logo no início do primeiro tempo, Pepe, da Ferroviária, indignado com a torcida atirou-se contra um grupo de torcedores, sendo recebido a bofetadas”.
A disputa foi dura e o primeiro tempo terminou empatado em 2 a 2. Já na fase final, a Ferroviária marcou mais dois gols. Entretanto, o time de Taubaté, “…esforçando-se para desfazer a contagem, começou a desenvolver um jogo belíssimo, ameaçando perigosamente a meta ferroviária e obrigando os seus defensores aos últimos recursos”.
Para o autor da matéria, os jogadores de Pindamonhangaba “…confiados no apito do árbitro, senhor Tomazelli, puseram em prática infrações de todas as sortes, chegando ao ponto de seu médio esquerdo, Ulysses, dar uma de suas condenáveis entrada em Domingos do Juta, demonstrando que o seu intento era inutilizá-lo e para sempre”. E aqui o comentarista exalta o agredido, meia-direita Domingos como sendo “de circo”, e devido a sua agilidade “desembaraçou-se com relativa facilidade dos maus intentos do seu adversário e ameaçou agarrá-lo”.
Teria sido a partir daí que a confusão fora decretada. “A assistência em delírio protestou contra o gesto de Ulysses e invadiu o campo incontinentemente e o sururu foi feio, com os ânimos só sendo serenados após enérgica intervenção da polícia e muita cabeças feridas a pau e caras partidas a soco inglês”.

Sururu não fora tão grosso assim

A Associação Atlética Ferroviária, através de seu primeiro secretário, senhor Péricles Homem de Mello, questionou falta de veracidade nessa matéria. Na edição seguinte, a de 3/2/1935, o jornal proporcionou então à Ferroviária o direito de resposta pela transcrição que publicara.
E assim foi a resposta: “A Associação Atletica Ferroviária deparou com estranheza, na ‘seção livre’ deste jornal, de domingo último, a transcrição de uma notícia publicada no ‘O Dia’ de 20 do corrente, sob a epígrafe ‘Sururu grosso no campo da Vila Nair’”.
Segundo o secretário, a Ferroviária, antes da publicação na Tribuna já teria tido conhecimento do que havia sido escrito pelo “O Dia”, mas “…nenhuma providência quis tomar visto que embora relatando os fatos deturpados e invertidos, aquele periódico deveria ter sido iludido por algum correspondente que, se esteve presente, não tem idoneidade, ou se lá não esteve, louvou-se em informações inescrupulosas de quem nenhum interesse tem pelo bom nome da cidade que a AFF pelo seu esforço, embora discretamente, mas com muita disciplina, tem procurado representar”.
Dava a entender a Ferroviária que o motivo de haver se manifestado teria sido porque saíra no jornal Tribuna do Norte. Por conta disso, não poderia deixar de protestar levando em consideração o que a notícia negativa representava “contra o nome da Associação e contra os foros da cidade civilizada que é Pindamonhangaba”.
Alegou que todos que já tivessem assistidos aos jogos da Ferroviária em sua praça de Esportes, na Vila Nair, poderiam ser testemunhos do espírito ordeiro e disciplinado de seus elementos. Revelou ainda que não houvera nenhuma invasão de campo e nem os incidentes se verificaram como se relatara no jornal.
E expusera sua versão: “…o jogador Domingos, do Juta, que de início, bem revelando suas intenções, já havia entrado em campo com um box oculto sob um lenço amarrado na mão e que, por elementos nossos, foi tirado e entregue aos diretores de seu clube, reproduzindo o que já havia feito em Taubaté quando jogava para o Esporte, ao finalizar a partida, agrediu o nosso jogador Pepe, dando motivo aos incidentes verificados.
“Só entraram em campo elementos nossos com o intuito de restabelecer a ordem.
“O incidente havido anteriormente entre o jogador Pepe e um torcedor que o injuriava, deu se em consequência de um policiamento deficiente que obrigou aquele jogador a agir pessoalmente o que, se não justificamos, consideramos explicável.
“Aliás, careceu o incidente de importância e não foi esse jogador agredido”.
Finalizando, o secretário da Ferroviária ainda discorda com a observação feita ao árbitro Tomaziello destacando que “…sua imparcialidade e correção são, sem favor por todos reconhecidas e que nenhuma ligação tem com a Associação Atlética Ferroviária, a não aceitar por gentileza a arbitragem do jogo”. E reforça dizendo que naquela partida em questão a AAF tivera dois gols anulados. Para encerrar sua resposta, o secretário Péricles Homem de Mello, ironicamente, ainda acentua: “Ao relatado acima se resume o sururu”.
Não encontramos nenhuma tréplica em edições posteriores da Tribuna, nenhum questionamento contra a versão da Ferroviária.
Ao jornal Tribuna do Norte daqueles anos trintas deve ter ficado a lição jornalística quanto às transcrições negativas envolvendo esse ou aquele órgão.

  • Créditos da imagem: R7 estúdio