Nossa Terra Nossa Gente : HARIDAS, SANJAYA e SATRAJIT: MENINOS AMIGOS DAS AVES

Estilingues, arapucas e gaiolas eram brinquedos comuns à maioria dos meninos que eu conheci na minha infância. Matar e aprisionar passarinho era uma aventura destituída de consciência do mal causado ao ser vivo que veio ao mundo para ser livre, semear florestas, embelezar seu habitat com o colorido de suas penas e o encanto de seus cantos.
Por mais que as lições na escola nos ensinassem o contrário, muitos meninos persistiam em suas práticas criminosas, muitas vezes, com o aval dos próprios pais – provavelmente, passarinheiros também!
Nas últimas décadas, a industrialização dos brinquedos e o expressivo desenvolvimento das redes sociais apresentaram às novas gerações uma diversidade de entretenimentos, o que, de certa forma, contribuiu para a diminuição de tais ‘brincadeiras’ contra a vida das aves.
A implantação da Lei de Proteção à Fauna (Lei nº 5.197, de 3 de janeiro de 1967) que proíbe a criação de pássaros em gaiolas ou viveiros e pune adultos e responsáveis por menores que insistem em tais práticas coibiu o aprisionamento de pássaros em cativeiros domésticos e, sobretudo, o tráfico de animais silvestres.
Na contramão dessa prática de violência, na Fazenda Nova Gokula (Ribeirão Grande, Pindamonhangaba) temos a Área de Soltura e Monitoramento de Aves e Animais Silvestres, ASM-NG, um espaço homologado pelo Ibama, que a ela destina as aves de espécies nativas ou exóticas, silvestres ou domésticas apreendidas na região. A fazenda da comunidade Hare Krishna é um santuário natural com uma área de preservação ambiental de riquíssima biodiversidade, o que favorece a reintegração dessas aves ao seu habitat natural.
Criada em 2008, a ASM-NG foi instituída quando Haridas nasceu, filho primogênito dos estimados amigos Shri Damodara e Rama Putra, pais de Sanjaya e Satrajit. Os meninos irmãos, hoje com 13, 11 e 9 anos, desde muito pequenos, ajudam os pais na tarefa de receber as aves, libertá-las das gaiolas, soltá-las no espaçoso viveiro ao lado da casa em que moram, alimentá-las e, quando as aves reaprendem a voar, os garotos participam do momento mágico desse belíssimo trabalho em prol da Natureza: a soltura dos pássaros.
Haridas me diz: Nosso dever com a Natureza é cuidar dos pássaros até que eles possam ser soltos. Abrimos a porta do viveiro e só sai quem acha que está pronto para sair. Algumas aves não saem porque têm ninhos aqui.
Apaixonados pelas aves, os meninos conhecem os hábitos e os cantos das espécies do viveiro e das que vivem na fazenda, mostrando-me os ninhos do nhambu-chororó, o tiê sangue voando de árvore em árvore, canarinhos da terra, trinca-ferro, azulão, bigodinho, entre outros. Contaram-me uma história “linda e triste” de um periquito-maracanã que apareceu na casa deles e se tornou o pet da família. Neninja gostava da nossa mãe mais do que eu, do San e do Satra juntos. Vivia no nosso ombro e dormia na janela. Um dia, nosso lobinho a comeu…
Nossa conversa sobre os colegas de escola que não têm a mesma consciência em relação às aves foi emocionante: Infelizmente, ainda temos colegas que aprisionam passarinhos! Isso é muito triste! Ao terminarmos a entrevista, Dazinho, San e Satra se abraçaram para uma foto ao lado do amigo Karuna, que veio chamá-los para brincar.
Ao nos despedirmos, pedi a eles uma mensagem aos meninos do século 21. Haridas foi enfático: Cada ave pode fazer florestas. Se você estivesse na prisão, você não iria querer ser livre?
A esses adoráveis meninos amigos das aves, a gratidão de nossa terra e de nossa gente!

  • Créditos da imagem: Juraci de Faria Condè