Vanguarda Literária : HERMENÊUTICA E POESIA

A Hermenêutica e’ um termo grego (hermeneuein na língua de Sócrates, significa interpretar) o qual designa a interpretação de texto sagrado, e tem recebido, ao longo do tempo, diferentes abordagens, seja interpretação de textos literários, em especial poéticos , sejam textos da filosofia teologia, e daí em diante.
A Poesia tem muito a ver com a hermenêutica, enquanto Obra de Arte, sendo, por conseguinte, uma fantástica experiência vivida, a impressionante experiência interior humana, na sua maior expressão, ou seja, está vinculada aos conteúdos internos de seu autor, e, por extensão, à própria vida.
Segundo o filósofo existencialista alemão Martin Heidegger, que, nos seus últimos trabalhos escritos tornou-se cada vez mais poético, ao refletir sobre o ser que se desvela ao mundo e à vida. Para ele há todo um mundo a ser descoberto dentro de um poema. Ele, na sua obra “A Origem da Obra de Arte” colocou pilares hermenêuticos da arte, estabelecendo pontos importantes como a técnica e, mais do que isso: o desvelamento de uma arte que se manifesta. E, vai mais além quando escreveu “Introdução à Metafísica” colocando nessa obra, bem claros, os três níveis de uma poesia: o significado intrínseco, os aspectos métricos e a colocação do Ser no epicentro do discurso poético. Dessa maneira, vamos compreender as possibilidades da revelação poética que é um mundo.
Quando vemos o mundo por meio de uma obra poética, nesse encontro verdadeiro com a arte, amplia-se o nosso universo pessoal, o entendimento da vida e de nós mesmos. Uma vez dito isso, num poema não se torna necessário procurar, em primeiro lugar, pela forma e, sim, indagarmos o que diz o mesmo, o seu significado, porque somos apreendidos e dominados pelo espírito do poema.
Um dos trabalhos mais consistentes no que diz respeito ao vínculo entre HERMENÊUTICA E POESIA, com influência heideggeriana, é o livro “Passagem para o poético: Filosofia e Poesia em Heidegger” , de autoria do filósofo , professor e renomado escritor paraense Benedito Nunes, prêmio “Machado de Assis da Academia Brasileira de Letras” em 2010,que nos deixou em 2011 aos 81 anos de idade. Escreveu o exçepcional mestre: “Mais diretamente do que qualquer outra arte, a poesia participa, pela palavra que constitui sua matéria, do trabalho preliminar e mais primitivo do pensamento, como Obra de Linguagem. A poesia é o limiar da experiência artística em geral, por ser, antes de tudo, o limiar da experiência pensante”. Relembro Heidegger nesta bela frase que ele proferiu em uma das suas famosas conferências: “O que nomeia o profano, o técnico é a linguagem comum; o que nomeia o sagrado é a linguagem poética”. Ao refletirmos sobre o que falou o filósofo, todos que se proclamam poetas assumem uma enorme responsabilidade!
Por fim, a hermenêutica é justamente esse espaço de alta relevância que nos permite tornar possível a interconexão entre filosofia e literatura, e, na poesia, na nossa modesta ótica, essa relação opera em grau máximo, indicando que a poesia é essa janela para um domínio sagrado.

  • Para o filósofo existencialista alemão Martin Heidegger, “o que nomeia o profano, o técnico é a linguagem comum; o que nomeia o sagrado é a linguagem poética”