Vanguarda Literária : HUMANIDADE X HUMILHAÇÕES X HUMANISMO

Albert Göres, ao escrever “Psicologia da Crença”, na revista Context, em Stutgart ( Alemanha ) fez uma importante colocação: as humilhações infligidas ao homem moderno já mencionadas por Freud.
A primeira diz respeito a ação de Copérnico que deslocou, não só a terra, como o homem do Centro do Universo. Trouxe-nos a certeza de que somos um mero grão de pó na imensa poeira das nebulosas.
A segunda foi o fato de ter que aceitar quando Charles Darwin provou que o homem tem um animal como ancestral.
A terceira partiu do próprio Freud que tornou claro à humanidade que o “Homo sapiens” não é ele consciente, mas, um complexo de intrincados impulsos inconscientes sobrepairando à sua personalidade.
Mas, esse rosário de humilhações amplia-se a partir do instante em que estamos convictos de que os processos espirituais não se limitam ao cérebro humano, mas têm lugar em sistemas e mundos diferentes em distintos graus de evolução.
Caiu assim, a idéia do antropocentrismo, no que se refere à idéia do homem dirigindo o destino do mundo. Convém salientar que o mundo é antropocêntrico na sua filosofia de agir, à medida em que deve melhorar a condição de existência desse ser especial ( moradia, emprego, saúde, educação ) e coexistência, com vistas à sua permanência pacífica entre os seus semelhantes.
E, pergunta Göres : “Será que o homem não é apenas uma passagem, uma região intermediária de um processo de desenvolvimento, cuja origem e meta ainda não captamos?
Não podemos esquecer que essa desilusão antropológica já foi amplamente discutida por Karl Steinbuch na sua obra: “Automat und Mensch”( “Autômato e Homem” publicada há mais de 30 anos, pela Editora Springler – Verlag de Berlim. Diz Steinbuch: “Estou convencido de que o homem não é o centro dos acontecimentos astronômicos, nem o único lugar possível dos processos espirituais. Temos que descer do pedestal, que, sem dúvida, nos agrada e reconhecer que desempenhamos um papel bem modesto no curso dos acontecimentos do Universo”.
Cabe, portanto, ao homem, em nome da sua dignidade, em nome da sua ânsia de crescer espiritualmente, descer do pedestal das suas vaidades fúteis, tão perecíveis, que não conduzem a lugar nenhum.
Deve, nesse momento de crise ímpar na sua História, quando se assiste a total inversão de valores, o culto à mediocridade, elevar-se e priorizar os sentimentos humanistas com o intuito de diminuir o abismo social, onde se contempla, de um lado, uma minoria que tudo tem e se enclausura na sua torre de orgulho, e, do outro, a grande maioria que permanece na miséria, sofrendo as humilhações da fome e da segregação social.
O desafio a ser enfrentado é para já, nesse momento em que assistimos o verdadeiro genocídio na África, e, em algumas partes do planeta, enquanto, esbanja-se riqueza, aplicam-se bilhões de dólares no aperfeiçoamento de arma com alto poder , que nos podem levar à extinção total.
É hora de se refletir sobre o que os Grandes Mestres escreveram acerca da tarefa do verdadeiro humanismo. É tempo ainda de acordar, porque chegou o momento em que a criança rica se enclausura nos seus condomínios de alta segurança, com medo das hordas de famintos , os” novos bárbaros” que representam uma ameaça , simplesmente na briga por um pedaço de pão.