Instituto Butantan inicia estudo sobre eficácia coletiva da vacinação

Colaborou com o texto: Matheus Ramos

O Instituto Butantan iniciou na quarta-feira (17), na cidade de Serrana – município paulista com 48 mil habitante – um estudo com o objetivo de avaliar o impacto da vacinação no combate contra o novo coronavirus . A ideia é que nos próximos dois meses toda população maior de 18 anos esteja vacinada – dentro do cronograma. Os resultados devem ser conhecidos no mês de maio. A vacina utilizada será Coronavac, desenvolvida pela farmacêutica chinesa Sinovac e produzida no Brasil pelo Instituto Butantan.
Com esse estudo – denominado projeto S – os pesquisadores poderão medir o impacto da vacinação na transmissão do Covid- 19, e na redução de casos assim diminuindo a sobrecarga no sistema de saúde. O estudo tem parceria com o Hospital Estadual de Serrana e da administração municipal. “Não se trata de uma vacinação em massa pura e simplesmente. O estudo tem por objetivo acompanhar a efetividade da vacinação em uma comunidade e, com isso, identificar até que ponto a imunização individual tem efeito coletivo. Isso quer dizer que queremos identificar a queda da taxa de transmissão do novo coronavírus com a vacinação ou o número de pessoas que é necessário vacinar para que o vírus pare de circular e para que aquelas pessoas que não puderem tomar a vacina também fiquem protegidas”, diz Ricardo Palácios, diretor de Estudos Clínicos do Butantan.
Palácios afirma que as informações obtidas em Serrana servirão de base para o planejamento da campanha de vacinação. “Esse tipo de estudo é muito difícil de ser realizado. Ele demanda uma grande preparação prévia de logística, exige também o envolvimento de vários atores e da própria população que é a protagonista do estudo. Só conseguiremos os dados que buscamos se a população aceitar e se engajar na vacinação”, diz.

Critério de escolha
A escolha de Serrana se deu por três motivos principais: trata-se de uma cidade pequena, com um alto índice de contaminação (o que permite avaliar a diferença entre imunidade obtida pela doença e adquirida pela vacina) e está próxima a um polo de pesquisa, como é o caso da cidade de Ribeirão Preto. “Com isso, é possível verificar como se dá a evolução da vacinação e acompanhar variáveis importantes, levando-se em conta que a distribuição etária da população e a maneira como se deu a epidemia, com altas taxas de transmissão, internação e óbitos são representações do que ocorreu no Brasil como um todo”, explicou Palácios.
Para a realização do estudo, além das doses distribuídas como parte do plano nacional de vacinação iniciado em 17 de janeiro em todo o Brasil, foram destinadas mais 60 mil doses da Coronavac importadas pelo Instituto Butantan para a pesquisa.
“A cidade não é uma ilha. Diariamente pessoas saem de lá e vão trabalhar em outras cidades ou recebem visitas de moradores de fora. Isso é extremamente importante para o nosso estudo, pois poderemos mensurar o impacto desses deslocamentos e contatos no efeito da vacinação coletiva. Temos casos na história dessa pandemia da Nova Zelândia e de Taiwan em que foi possível barrar o vírus sem a vacina por serem ilhas e também, claro, pelo excelente trabalho de contenção da transmissão. Esse não é o caso do Brasil. Analisar o efeito desses contatos e deslocamentos em uma população vacinada é de extrema importância para o planejamento da imunização”, finalizou.

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