Justiça com as próprias mãos

O maior problema de fazer justiça com as próprias mãos é que, embora possa satisfazer a cólera imediata de quem lincha, a longo prazo ela gera resultados piores para a sociedade e, como conseqüência, para os próprios agressores.

Quando agressores resolvem linchar uma vítima, no ímpeto do momento, não necessariamente sabem se ela está realmente errada.

Mas, mesmo que soubessem que o agredido esta errado, estariam cometendo um crime. Criando duas situações contrárias aos interesses da sociedade:Primeiro, no futuro podem ser elas mesmas que sejam linchadas, ou alguém próximo a elas. Uma ação ilegal cria a idéia de que se pode agir daquela forma. Cria-se um círculo vicioso. Hoje eu te lincho, amanhã posso ser eu o linchado. A vida não fica mais segura dessa forma. O Estado e a Justiça existem justamente para evitar que nos protejamos. A primeira razão para a existência de um Estado é servir como intermediário entre os meus direitos (a começar pela vida) e os impulsos de outras pessoas (inclusive o de me matarem). A partir do momento em que eu deixo de respeitar esse papel do Estado, eu o estou enfraquecendo e, por conseqüência, me expondo ainda mais à violência arbitrária de outras pessoas. Segundo, no caso de um atropelamento, por exemplo, a vítima tem mais chance se for socorrida rapidamente, e quem tem maior posição de prestar os primeiros socorros foi quem atropelou, pois ele já está no local.Mas, se esses motoristas agora temem por suas vidas, não irão parar para ajudar. E aqueles que não iriam parar de qualquer maneira agora têm uma desculpa para fugirem do local.Se fica para socorrer corre o risco de ser linchado, se foge a vítima pode morrer, o mais racional é fugir do local, e com a pressa pode até ocasionar mais danos a outras pessoas. Por isso entendo que justiça com as próprias mãos é incompatível com um padrão mínimo de civilização.

Adelson Cavalcante
Jornalista mtb 56011
Presidente da AJOP