Vanguarda Literária : LOBATO E ANÍSIO TEIXEIRA

Monteiro Lobato, o genial escritor taubateano que tanto falou à alma do povo e das crianças, em especial, era um ser humano sincero, amigo, leal, conforme atestam as longas cartas que escreveu aos amigos sobre os mais diversos temas. Manteve longa correspondência (40 anos) com Godofredo Rangel, a qual originou o agradável livro “Barca de Gleyre”. Lobato tinha uma admiração muito especial pelo Grande Educador Anísio Teixeira, nascido na Bahia em 1900 e que nos deixou em 1971. O renomado baiano foi um grande batalhador pela Educação Brasileira. Foi Professor de Filosofia da Educação, Diretor do Instituto de Estudos Pedagógicos (Inep) do Ministério da Educação, Reitor da Universidade de Brasília e Professor Visitante das Universidades de Colúmbia e da Califórnia (Los Angeles). Segundo Monteiro Lobato, converteu-se ‘a educação nova e no Teacher`s College da Universidade de Colúmbia (Estados Unidos) foi lapidado por Dewey e Kilkpatrick. Publicou, entre outras obras: “Educação Progressiva” (1932) “Educação para a Democracia” (1936) e Educação Não é Privilégio (1957).

Lobato e Anísio Teixeira foram corajosos e revolucionários com as suas ideias avançadas para o seu tempo. Ideias que desagradavam, sobretudo, ao regime político vigente: A Ditadura Vargas. Foram duramente perseguidos. Mas, eles eram superiores. Eram seres especiais que nutriam mútua admiração. Apreciemos o entusiasmo de Lobato em uma carta: “Anísio, lembrei-me de um livro sobre Educação Progressiva” que me mandaste. Depois de lidas algumas páginas apenas, estou a dar berros de entusiasmo por essa coisa maravilhosa que é a sua inteligência. Eureca! Eureca! Você é o líder, Anísio! Você é quem há de moldar o plano educacional brasileiro. Só você que aperfeiçoou a visão e teve o supremo deslumbramento, pode, neste país, falar de educação!”.

E, o que dizer da indignação de Monteiro Lobato quando o Educador Anísio Teixeira foi para outras plagas? Vejamos como o escritor taubateano se manifestou nesse trecho de uma carta: “Anísio, diz a notícia que você se prepara para seguir para Londres. Os verdadeiros valores que o Brasil possui se vêem na contingência de emigrar para que possam realizar seu destino de valores humanos. O fato de Anísio Teixeira ter ficado anos no Brasil, afastado da ação pública, foi o que me deu mais a medida do “fracasso” que somos como povo ou país, espetáculo tão triste que me levou, na velhice, com todos os meus cabelos brancos a mudar de terra pra não presenciar uma decomposição progressiva e irremissível (Nessa época Monteiro Lobato estava em exilo voluntário em Buenos Aires). Mas, agora sinto contente, ao ver que Anísio foi chamado a servir não ‘a Pátria chica que não o quer mas ‘a humanidade. Nunca me conformei com o ostracismo da sua inteligência, pois, exulto vê-la reconhecida”

Reconhecida além do Brasil! Que as noite escuras das Ditaduras (sejam políticas, econômicas ou intelectuais) sejam sempre banidas do nosso País! Quando, quase no apagar das luzes de 2010, tomamos conhecimento da censura, por parte do Conselho Nacional de Educação, a uma das obras de Monteiro Lobato, sob a alegação de conteúdo racista, choramos de vergonha e de indignação! Como dizia o Poeta Alemão Goethe: “Licht, mehr Licht!” (“Luz! Mais Luz!”). Lobato, sem sombra de dúvidas, honrou a Literatura Brasileira. Sua memória deve ser cultuada por tudo quanto realizou, por tudo quanto sonhou para ver um Brasil melhor e respeitado.

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