Vanguarda Literária : MACHADO DE ASSIS…POETA?

Um dos mais prolíficos e completos escritores do nosso país -MACHADO DE ASSIS, conhecido como “O Bruxo do Cosme Velho”, nasceu no Rio de Janeiro em 1839 tendo falecido em 1908, portanto, há 110 anos . Fundou a Academia Brasileira de Letras em 1897, alguns anos depois da criação da Academia Cearense de Letras (fundada em 15 de agosto de 1894), a mais antiga do Brasil. Autodidata, filho de um pintor de paredes mulato e de uma lavadeira açoreana, ficou órfão muito cedo, e foi criado por sua madrinha.
Torna-se importante fazer uma profunda reflexão sobre quantas dificuldades para vencer, teve que enfrentar esse ser humano admirável, pobre, vivendo numa sociedade escravocrata, mesquinha e discriminatória. Entretanto, apesar de todas as adversidades, conseguiu adquirir Cultura fantástica, aprendeu línguas, trabalhou dignamente (foi tipógrafo, revisor, jornalista), publicou livros e deixou um nome consagrado como maior escritor brasileiro do século XIX, com uma produção literária substancialmente excelsa , em três tipos principais: romance, o conto e a crônica.
As obras de Machado de Assis são inúmeras, principalmente, romances, teatro, crônicas e crítica literária. Basicamente, a obra machadiana é dividida em duas fases: 1- Romântica, quando publicou os romances, Ressurreição (1872), A Mão e a Luva (1874), Helena (1876), Iaiá Garcia (1878) e contos, entre eles, Contos Fluminenses (1870); 2- Realista, em cuja fase escreveu entre outros, os romances, Memórias Póstumas de Brás Cubas (1887), Quincas Borba (1897) e Dom Casmurro (1889) e os contos, Papéis Avulsos (1882) e Páginas Recolhidas (1899). Ao analisarmos a obra desse Grande Mestre, verificamos peculiaridades do seu estilo: o humor e a ironia, o pessimismo, o psicologismo e a digressão (rememorações).
MACHADO DE ASSIS casou-se aos trinta anos de idade com Carolina Xavier de Novaes, com, quem viveu 35 anos e não teve filhos. Carolina foi uma figura marcante na sua vida: mulher, amiga, mãe, amante secretária.
Aqui, cabe uma pergunta: como foi a poesia na vida desse gênio? Sabemos que ele tinha gosto requintado para o apuro formal, entretanto, devido características da sua personalidade, não tinha arrebatamentos típicos de um lírico . Nele não havia grandes vibrações de emoção. Na sua poesia podemos apreciar os traços de parnasianismo e a reflexão filosófica. Enfim, deu a lume três livros de poesias: Crisálidas, Falenas e Americanas .
Eis um exemplo de Machado-Poeta, nesse soneto decassilábico que escreveu para a sua amada:

À CAROLINA

Querida, ao pé do leito derradeiro,
Em que descansas dessa longa vida,
Aqui venho e virei, pobre querida,
Trazer-te o coração de companheiro.

Pulsa-lhe aquele afeto verdadeiro
Que, a despeito de toda humana lida,
Fez a nossa existência apetecida
E num recanto pôs o mundo inteiro.

Trago-te flores – restos arrancados
Da terra que nos viu passar unidos
E ora mortos nos deixa e separados;

Que eu, se tenho nos olhos malferidos
Pensamentos de vida formulados
São pensamentos idos e vividos.

Eis, portanto, uma breve apreciação desse escritor que honrou as nossas letras com o brilho de sua inteligência, de sua sensibilidade, e sobretudo, de seu trabalho.

  • Carolina Novaes e Machado de Assis