Nossa Terra Nossa Gente : Maria Norma Salgado Marcondes: Eternidades da decana da Academia Pindamonhangabense de Letras

Está grafado no túmulo de Marcel Duchamp, o instigante epitáfio: “Afinal, são sempre os outros que morrem”. Um artista morre? Um poeta morre? Um trovador morre? Creio que não. Estão vivos Aleijadinho, Villa-Lobos, Drummond, Luiz Otávio (O Príncipe das Trovas) e tantos outros escultores, músicos, escritores, poetas, trovadores que transpassaram a órbita da existência terrena e, com sua arte e seu trabalho, se eternizaram.
É com esse sentimento de eternidade que me despeço da confreira, professora e trovadora Maria Norma Salgado Marcondes, decana da Academia Pindamonhangabense de Letras, nascida em Pindamonhangaba aos 31 de março de 1925 e falecida em 25 de novembro de 2021, aos 96 anos, em sua terra natal.
O que a menina Norma terá deixado de eternidade ao seu círculo familiar, constituído pelos pais Antonio e Leonídia, pela irmã Terezinha e pelos renomados irmãos “Tar e Quar”– famosa dupla sertaneja dos idos de 1940 composta pelos seus irmãos José e Vicente? O que a esposa e a mãe Norma terá imprimido de eternidade na vida do marido José Benedito Marcondes Vieira e dos filhos Carlos Antônio, José Eduardo, Luiz Fernando e Ana Maria? O que a vovó Norma legou de eternidade aos doze netos e aos seus seis bisnetos?
Certamente, eternidades vividas nas brincadeiras da infância, no olhar enamorado, no “sim” diante do altar, na espera e no nascimento de cada filho, no coração destroçado quando entes queridos partiram, na alegria de quando os filhos colocaram em seu coloos netos, e estes, os seus bisnetos…
Eternidade inenarrável no cuidado que eles tiveram para com a mãe quando os passos sem pressa se apressaram em tomar-lhe o andar, quando o coração começou a bater num outro compasso,ou, ainda, quando aqueles belíssimos olhos de céu os abençoavam sem palavras, inundados por gratidão aos cuidados deles para com a vida dela.
Poeta e trovadora, Maria Norma Salgado Marcondes imprimiu sua eternidade nas páginas da União Brasileira dos Trovadores – Secção de Pindamonhangaba. Laureada em vários concursos da UBT (Temas: FÉ –1992; SORRISO – 1993; PALHAÇO e EMOÇÃO – 2007; CRIANÇA, MESTRE e NATAL – 2008; PRIMAVERA e RENÚNCIA – 2009), suas trovas premiadas revelam-nos a delicadeza de seus versos e a grandeza de sua alma:


Palavra pequenina
por alguns tão esquecida!
Porém, palavra divina
que rege a força da vida!

Nas sessões solenes da Academia Pindamonhangabense de Letras, lá estava ela – linda e perfumada! – sentada na primeira fila! As trovas de Dona Norma foram vencedoras dos concursos da UBT em dois momentos significativos: nos 40 anos da APL (2002) e em seu Jubileu de Ouro (2012):

ACADEMIA
Minha nobre Academia
no teu Jubileu de Ouro
revelas sabedoria
nas letras do teu tesouro…

De suas eternidades impressas na APL, nossa trovadora de méritos deixou no coração de cada acadêmico, uma amorosa parcela de si. A mim, Dona Norma confidenciou a história de sua família e de seu irmão Vicente de Paula Salgado, meu patrono quando ingressei na APL. Abriu seu álbum de fotografias e contou-me histórias inesquecíveis. Guardo todas essas eternidades no coração!
À poeta quenos brindou com seus versos e sua poética presença e que, nos últimos dias da primavera de 2021, alçou voo para a eternidade, a gratidão de nossa terra e nossa gente! “Afinal, são sempre os outros que morrem.” D. Norma vive em nossa saudade!

PRIMAVERA
As forças de nossas vidas
na primavera colhemos.
No outono, folhas caídas,
só de saudades vivemos!

  • Créditos da imagem: Divulgação