Proseando : MARIA TAGARELA

Ninguém acertou a pergunta do último Proseando. Segue valendo para quem for o primeiro a acertar.
Ao ler o texto dessa edição, resolva e me envie o nome da cachorra sem raça definida. Dica: retire algumas letras do nome da cuidadora.
Ganhe um prêmio surpresa: seja a primeira pessoa a enviar a resposta certa para o WhatsApp 99735 0611.
Maria Tagarela não era o nome dela. Mas podia ser o apelido, de tanto que falava. Falava sobre o mesmo assunto, repetindo frases, como se usasse o control “c” e o control “v”.
Era uma mulher forte, da roça, de sete décadas e mais alguns períodos. Trabalhava como cuidadora de uma senhorinha de oitenta e poucas primaveras, e pernas frágeis. Na casa diminuta, numa poltrona aos pés da cama, reinava a cachorra obesa sem raça definida.
Pelos cômodos da casa,Maria Tagarela vassourava e choramingava que ganhava pouco. A senhorinha acamada, indagava:
— Tá resmungando, Maria?
Maria disfarçava, dizia que não era nada de importante.
Com o tempo, para compensar o salário que considerava injusto, passou a se apropriar de gêneros alimentícios e produtos de limpeza.
O sobrinho, que administrava as finanças, passou a visitar a tia com assiduidade, pois estranhava a despensa se esvaziarem pouquíssimos dias.
Nos fins de tarde,pouco antes de a cuidadora encerrar o expediente, lá estava ele, mais observador do que das outras vezes.
— Dona Maria, com todo o respeito, posso te dar um conselho?
— Pode sim.
— Procure um médico. Seus — apontou para os seios dela — estão inchados.
A mulher corou, trançou os braços sobre os seios e falou:
—É inchaço, não, seu moço. É silicone.
Ela foi embora e ele constatou a falta de duas berinjelas.
No outro dia, achou estranho o tamanho da pança da cuidadora.
— Problema com gases, Dona Maria?
— Antes fosse, viu. Tô achando que tô grávida.
— Na sua idade?
— Raspa de tacho.
Assim que ela foi embora segurando a barriga, ele constatou a falta da melancia e de dois abacates.
No dia seguinte, ele a encontrou ainda mais “recheada”. Antes de ela ir embora, pediu para que se sentasse, pois gostaria de trocar duas palavrinhas com ela.
— Dona Maria, estou muito preocupado. Minha tia está comendo demais. A senhora precisa controlar o apetite dela.
— Ela tem fome, tadinha. Não posso deixar ela magricelinha. Eu gosto tanto dela.
Ele encenou emoção, embargou a voz e disse:
— Vem cá, Dona Maria, vem me dar um abraço. A senhora é um anjo na vida da minha tia.
Ela pensou em recusar o abraço pretextando timidez, mas não teve tempo. Ele a espremeu com tanta força, que ela começou a se desfazer: dois melões pularam do sutiã; três quilos de arroz, dois de feijão e quatro de açúcar, que estavam amarrados à barriga, se soltaram e se desmancharam no chão.
Dona Maria Tagarela foi embora maldizendo o azar. E levou uma sacola que não foi revistada, onde havia colocado café, macarrão, manteiga e açúcar. Tratou de apressar os passos, apesar do peso da sacola.
Peso? Ao atravessar a rua, resolveu verificar e encontrou, dentro da sacola, a cachorra lambuzada de manteiga e café, com a boca cheia de açúcar e macarrão.