História : Médicos da Santa Casa ficaram sem salário no fim do século XIX

Originada de uma verba testamentária no já bem distante 6 de agosto de 1863, entre
as entidades locais mais antigas (156 anos) a Santa Casa de Misericórdia de Pindamonhangaba, destacada nesta página de história em diversas edições, só é superada pela Corporação Musical
Euterpe, 23 de agosto de 1825 (194 anos).
Na edição de hoje relembramos uma das passagens difíceis dessa histórica casa de saúde.
Era o início do ano de 1884. Na época, funcionava em um casarão (ilustração) localizado à
direita de quem desce a ladeira Barão de Pindamonhangaba (era denominada ladeira da rua Formosa),
administrada pelo Barão de Itapeva (Itapeba), o comendador
inácio Bicudo de Siqueira Salgado. Na qualidade de provedor da entidade, o ilustre pindamonhangabense tornava público, conforme relatório publicado na edição de 20 de janeiro daquele
ano no jornal Tribuna do Norte, os fatos mais importantes ocorridos durante 7/12/1882
a 7/12/1883, período em que a instituição estivera sob a sua responsabilidade
administrativa. Inicialmente, explicava que reconhecendo as dificuldades
da Irmandade da Santa Casa em remunerar o médico que dirigia a clínica do hospital, resolvera
solicitar aos profissionais da medicina a prestarem seus serviços
gratuitamente. Designara ao então mordomo eleito da Santa Casa, capitão Benjamin da Costa Bueno, que solici tasse o tão necessário obséquio aos médicos. O pedido era para que cada um abrisse mão do salário pelo espaço de seis meses, ou seja, que houvesse uma espécie de revezamento entre eles na doação de meio ano de serviços prestados à entidade.
Os primeiros contatatos foram os generosos doutores Marinonio Brito e Eugenio de Mello. Atendendo
ao pedido, o dr. Brito cumpriu o primeiro semestre de ati vidades não remuneradas, sendo
substituído pelo dr. Marinonio.
Entretanto, segundo revelava o provedor, o dr. Marinonio, “por justos motivos de incômodos”, não pode continuar prestando o serviço no período que lhe cabia, com isso, o dr. Brito teve que
completar o ano “prolongando assim tão caridosa tarefa”.
Agradecendo aos dois pela contribuição, o provedor pedia
a outros médicos que fizessem o mesmo, se revezando na doação
do tempo estipulado, pois só assim o hospital se garantiria de tão necessário recurso. Esclarecendo a crítica situação financeira daquela casa de saúde, o barão de itapeva ressaltava
que das cotas apresentadas pelo tesoureiro constava como arrecadação a quantia de 5.824$719 réis e como despesas, 4.590$933 réis, perfazendo um saldo de 1.590$781. Uma receita
nada animadora e “para regular o custeio de um estabelecimento da ordem daquele hospital era preciso que os recursos fossem certos, por isso tornava necessário que se despertasse o espírito
caridoso da população”.
Faltava auxílio, ajuda. A arrecadação das contribuições precisava ser intensificada. Alertava
ainda, que o auxílio prestado à irmandade pelos dignos congregados
que haviam se comprometido a doar certa quantia anualmente, por um espaço de seis anos, finalizaria naquele ano. Menos mal era o fato de que apesar de alguns congregados
terem deixado de contribuir, a maior parte continuava concorrendo
com o valor prometido, aquela fonte estaria sendo “quase o único recurso da Santa Casa”.
Além disso, “o dividendo das ações doadas pelo falecido *Visconde de Pindamonhangaba não estava sendo recebido porque a respectiva companhia há tempos não o pagava a seus acionistas”.
Em seu relatório, o provedor alertava para que “a averbação ou transferência daquelas ações
em nome da Santa Casa, bem como a aprovação da reforma do compromisso com aquela irmandade
eram providências que convinha, fossem logo tomadas a fim de garantir o direito da Santa Casa
sobre as referidas ações, e também para que cessassem o inconveniente de serem regidos pelo compromisso, cujas disposições, em sua maior parte, eram reconhecidas por todos como inexequíveis” (não podiam ser executadas).

Movimento Hospitalar
Números

No que dizia respeito ao movimento hospitalar, o barão fazia
constar em seu relatório o seguinte movimento no período referente a 1882/1883: havia
5 enfermos, entraram 112 e o total ficou em 117, divididos em 94 homens e 23 mulheres (sendo
103 brasileiros, 7 africanos, 2 portugueses, 1 italiano e 1 francês); deste número haviam falecido
14, sendo 9 homens e 5 mulheres (9 brasileiros, 4 africanos e 1 português); tiveram alta, 88 e
ficaram em tratamento, 15.
*O Visconde de Pindamonhangaba mencionado no texto era o comendador Francisco
Marcondes Homem de Mello, falecido em 14 de janeiro de 1881.

  • Créditos da imagem: Arquivo TN