Lembranças Literárias : Memórias do Largo São José

No Largo de São José
naquele tempo passado,
havia tourada até
no velho quintal do Prado.

E o Sinhô fazia teatro
com o Juvenal de Faria;
pintavam o diabo a quatro
com roupas de sacristia.

De repente, de mansinho,
chegava o Padre Miguel
e encontrava o Bastiãozinho
na mala – sorte cruel!

Descia a bengala às costas
da turminha endiabrada.
E os risos eram as respostas
na boca da molecada.

Mas hoje o Largo anda triste
e aquela infância rasteja.
E nem festas mais existe
em redor da velha igreja!

Chico, preso da cadeia,
(Acredite quem quiser)
amputou – que coisa feia! –
os dois seios da mulher!

Mas depois ficou bonzinho,
bebendo café amargo,
e fabricava carrinho
para as crianças do Largo.

Das historieta de Pinda
é a primeira que relato.
mas há muito ainda!
Eu sou um velho gaiato,
como a dona Anita o é
no Largo de São José…

Marcondes Cesar, Tribuna do Norte, 30 de junho de 1963

  • Créditos da imagem: Óleo sobre tela de Hélio Tanaka