Proseando : MEU NOME É FRANCISCO

Não concordo com essas pessoas que se sentam nas calçadas do centro da cidade para mendigar, especificamente aquelas com criança no colo para comover passantes. A infância não deve ser aprendiz da malandragem.

Um empresário me contou que, certa vez, ficou consternado ao ser abordado por uma mulher com bebê no colo.
— Me dá um dinheirinho pra comprar leite pra criança, pelo amor de Deus!?
Era inverno e ambas, sobre pedaço de papelão, não possuíam agasalho apropriado. Ele deu a ela algum dinheiro e ofereceu emprego.
— Quanto é o salário?
Ele respondeu com promessa de aumento após o período experiencial. Seria o suficiente para tirá-las da rua e proporcionar uma vida digna. Ela não titubeou:
— Obrigada. Ganho muito mais aqui.
Há duas décadas, esse empresário, caminhando pelo centro da cidade, sobre a calçada próxima à lotérica central, encontrou uma menininha de nove anos segurando a mão do menininho bem mais novo. Pediam trocados. Depois de observá-los por alguns minutos, o empresário se aproximou.
— É seu irmãozinho?
Ela suspendeu o olhar desconfiado, mas não demorou a perceber ternura nos olhos dele. O menininho, sem tirar a chupeta da boca, agarrou a menina e berrou:
— Ela é minha mamãe!
A menina passeou os dedos pela cabeça do menino, amansando-o com carinhos. O homem sorriu. Faltava pouco para as 13 horas.
— Já conseguiram o suficiente para o almoço?
—Moço, essa gente nem olha pra gente.
O empresário sabia que ninguém se aproximava por estarem maltrapilhos, sujos, fedorentos. Mas ele se aproximou magnetizado por algo que não sabia explicar.
—Por hoje não precisam mais ficar aqui. Vou levar vocês para almoçar em minha casa. Antes, preciso pedir autorização aos seus pais.
—O senhor acha que eu sou boba? Quem me garante que o senhor não é um pedófilo?
— Se eu fosse pedófilo iria pedir permissão aos seus pais?

A menina coçou a cabeça, conferiu meia dúzia de moedas e perguntou se o menino estava com fome. Estava.
— A gente vai com o senhor. Mas não tente nenhuma maldade.
— Fique sossegada, mocinha. Vou falar com seus pais.
—Impossível. Meu pai morreu e minha mãe está presa. Agora sou pai e mãe do meu irmãozinho.

Depois de breve silêncio, os três entraram no carro. Meia hora depois chegaram a casa, onde foram recebidos pela esposa do empresário que, ao vê-los, marejou-se.

Fiquei sabendo depois, que o casal, embora desejasse muito, não podia ter filhos. Por isso se empenharam na adoção para dar um lar a minha irmã e a mim.

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