Nossa Senhora da Conceição Aparecida

Em alusão ao dia 12 de outubro, data consagrada à Senhora Aparecida, o tema da página de história de hoje se refere ao fato histórico ocorrido em vizinho município. Do livro do padre Júlio J. Brustoloni (Editora Santuário, 1979, Aparecida/SP) transcrevemos (conforme grafia da época) a Narrativa do Encontro da Imagem da Santa escrita no 1º Livro Tombo da paróquia de Santo Antonio de Guaratinguetá, pelo pároco João de Morais e Aguiar, em agosto de 1757:
“No anno de 1719, pouco maes ou menos, passando por esta Villa para as Minas o Governador, dellas e de São Paulo, o conde de Assumar Dom Pedro de Almeida, foram notificados pela Câmara os pescadores para apresentarem todo o peixe que pudessem haver para o dito Governador. Entre muitos foram a pescar Domingos Martins Garcia, João Alves e Felippe Pedroso, em suas canoas; e principiando a lançar suas redes no porto de José Corrêa Leite, continuaram até o porto de Itaguassú, distancia bastante, sem tirar peixe algum, e lançando neste porto João Alves a sua rede de rasto, tirou o corpo da Senhora, sem cabeça; lançando mais abaixo outra vez a rede tirou a cabeça da mesma Senhora, não se sabendo nunca quem alli a lançasse. Guardou o inventor esta Imagem em um tal ou qual panno, e continuando a pescaria, não tendo até então tomado peixe algum, dalli por deante foi tão copiosa a pescaria em poucos lanços, que receioso, e os companheiros de naufragarem pelo muito peixe que tinham nas canoas, se retiraram a suas vivendas, admirados deste sucesso.
Felippe Pedroso conservou esta Imagem seis annos pouco maes ou menos em sua casa junto a Lourenço de Sá; e passando para a Ponte Alta, alli a conservou em sua casa nove anos pouco maes ou menos. Daqui se passou a morar em Itaguassú, onde deu a Imagem a seu filho Athanasio Pedroso, o qual lhe fez um oratório tal e qual, e em um altar de páos colocou a Senhora, onde todos os sabbados se ajuntava a vizinhança a cantar o terço e mais devoções.
Em uma destas occasiões se apagaram duas luzes de cera da terra repen­tinamente, que alumiavam a Senhora, estando a noite serena, e que­rendo logo Silvana da Rocha accender as luzes apagadas também se viram logo de repente accesas sem intervir diligencia alguma; foi este o primeiro prodígio, e depois em outra semelhante occasião viram muitos tremores no nicho e altar da Senhora, que parecia cahir a Senhora, e as luzes tremulas, estando a noite serena. -Em outra semelhante occasião, em uma sexta-feira para o sabbado (o que succedeu varias vezes) juntando-se algumas pessoas para cantarem o terço, estando a Senhora em poder da Mãe Silvana da Rocha, guardada em uma caixa, ou bahú velho, ouviram dentro da caixa muito estrondo, muitas pessoas, das quaes se foi dilatando a fama até que patenteando-se muitos prodígios, que a Senhora fazia, foi crescendo a fé e dilatando-se a noticia, e che­gando ao R. Vigário José Alves Villela, este e outros devotos lhe edifica­ram uma capellinha e depois, demolida esta, edificaram no logar em que hoje está com grandeza e fervor dos devotos, com cujas esmolas tem chegado ao estado em que de presente está. Os prodígios desta Imagem foram authenticados por testemunhas que se acham no Summario sem Sentença, e ainda continua a Senhora com seus prodígios, acudindo á sua santa casa romeiros de partes muito distantes a gratificar os benefícios recebidos desta Senhora”.
Segundo o padre Brustoloni, na narrativa do encontro “houve um erro de dois anos, pois o conde de Assumar esteve em Guaratinguetá em 1717, não em 1719, daí o fato de estarmos comemorando 300 anos de aparecimento da imagem neste ano de 2017.

  • Vista da capela de Nossa Senhora Aparecida em 1817. Aquarela do pintor austríaco Thomas Ender
  • Foto da capela tirada pelos fotógrafos Robin & Favreau em 1876
  • Primeira foto da Imagem, tirada em 1869 também por Robin & Favreau