História : O 4º Corpo de Trem – a primeira unidade do Exército a se aquartelar em Pindamonhangaba

Em 1919, um ano depois de sua instalação em Pindamonhangaba, ocorreu a possibilidade do 4º Corpo de Trem ser transferido para Pirassununga, município paulista que oferecia aquartelamento com melhores condições pra abrigar o efetivo. Favoráveis à sua permanência em Pindamonhangaba, o prefeito Dr. Claro César e o Diretório do Partido Republicano através de seus membros integrantes da Câmara Municipal se movimentaram junto ao general Ministro da Guerra.
Foram diversos os telegramas expedidos às unidades da república pedindo que fosse sustada a retirada do 4º Corpo de Trem que aqui se achava aquartelado no palacete do Barão de Lessa (Palacete Visconde da Palmeira).
À campanha para a permanência esteve o comércio local e também a Escola de Farmácia e Odontologia. Alunos dessa escola superior que haviam se alistado como voluntários do 4º CT alegaram que seriam prejudicados caso o quartel fosse transferido pra outra cidade.
Depois de uma intensa troca de telegramas e pedidos às autoridades governamentais, a Tribuna, edição do dia 20 de fevereiro de 1919 trazia a boa notícia:
“Temos o prazer de tornar conhecida ao público a notícia que definitivamente ficou firmada a permanência do 4º CT nesta cidade.
Não foram pequenos, é verdade, os obstáculos que tiveram de ser removidos à consecução desta permanência, mas também é certo que graças aos esforços dos nossos dirigentes alcançamos este desiderato, porque , incontestavelmente a estadia dessa briosa unidade do nosso Exército, composta, aliás, de luzidia oficialidade e sob o comando de um inteligente e esforçado militar, é um elemento de progresso para esta localidade”.

Apoio do jornal aos militares

A população daquele final dos anos vintes do século XX não foi, entretanto, inteiramente favorável à instalação de uma unidade de Exército nesta cidade. Tanto é que vamos encontrar na edição de 3 de março de 1919, artigo do jornal Tribuna do Norte em apoio ao efetivo militar aqui aquartelado. Talvez uma menção de credibilidade ao comportamento respeitoso por parte dos componentes do 4º CT perante à sociedade pindamonhangabense. “Não podemos deixar de fazer algumas considerações nestas linhas que aqui traçamos, sobre os distintos inferiores e praças de que se compõe o quarto corpo de trem, aquartelado nesta cidade. Houve a princípio uma certa prevenção por parte de pessoas que nada conhecem da vida militar, contra a vinda a esta cidade desse corpo. Essa prevenção nascia naturalmente de comentários, muito deles excessivamente exagerados, que pessoas que não compreendem que as corporações militares têm os respectivos chefes ou comandantes que sabem manter a disciplina. Além disso, o nosso Exército que está sendo reorganizado compõe-se hoje de moços mais ou menos educados e distintos e conseguintemente incapazes de praticarem atos de desrespeito à sociedade.
Pela observação que temos feito e pelas informações que recebemos do distinto oficial desse corpo vemos que os distintos rapazes que o compõem são todos moços de certa educação e dentre eles destacam-se literatos, poetas, oradores e musicistas. Fazemos estas considerações para que desapareça qualquer prevenção contra esses rapazes, que são as sentinelas da república e ardorosos defensores da pátria.”

Adaptado, prédio
do mercado vira quartel

Ciente de que o 4º CT se encontrava mal alojado no palacete, exigia-se providências por parte da administração municipal. Foi quando naquele ano de 1919, o prédio do mercado municipal, instalado no na época Largo dos Homens (denominação dada em alusão a família Homem de Mello), atual praça Padre João de Faria Fialho, foi adquirido pelo Governo Federal.
Adaptado, segundo as conveniências militares, o local passaria a aquartelar a primeira unidade do Exército Brasileiro em Pindamonhangaba. E como quartel ficou, surgindo com o tempo a identificação criada pelo povo de “Largo do Quartel”. Posteriormente, abrigou outras unidades do Exército e hoje aquartela o 2º Batalhão de Engenharia e Combate, o glorioso Batalhão Borba Gato.

De 4º para 2º Corpo de Trem

Em Athaide Marcondes (“Pindamonhangaba Através de Dois e Meio Séculos”- 1922) encontramos que “ …o 4º Corpo de Trem, por motivo das reformas havidas em 1919, passou a denominar-se 2º Corpo de Trem”.
Em Athayde não encontramos a data que foi finalmente transferido daqui ou foi extinto O autor, entretanto, diz ainda o seguinte sobre esse Corpo de Trem:
“A oficialidade de corpo comemora todas as datas nacionais com importantes festas, dentre as quais destacam-se as de 14 de julho de 1921, que foi honrada com a presença do general Ildefonso Pires M. Castro, inspetor da 2ª Região Militar, autoridades civis, municipais e grande número de pessoas gradas. As festas correram animadíssimas, sendo oferecidos doces, chocolate aos convidados, que cessaram de aplaudir os oficiais e praças que delas tomaram parte”
De onde podemos concluir que em 1921 a unidade ainda era notícia na cidade. Estamos pesquisando nos arquivos TN dos anos seguintes a 1919 e novidades sobre esse assunto publicaremos.

  • Em 1919, quartel do Corpo de Trem passou a ocupar prédio construído para o mercado municipal. Dependências reformadas para esta finalidade, hoje abrigam o 2º Batalhão de Engenharia e Combate - Créditos da imagem: Arquivo TN
  • Palacete do Museu Dom Pedro I e Dona Leopoldina foi também o quartel do 4º Corpo de Trem - Créditos da imagem: Arquivo TN
  • Militares do 4º, depois 2º Corpo de Trem de Pindamonhangaba - Créditos da imagem: Arquivo Pessoal