Lembranças Literárias : O beijo de Judas

Naquela noite Judas Iscarioth
espantado fugiu de horror e medo,
pela sombra soturna do arvoredo
tal como cascavel, de bote em bote.

Beijara o Mestre e o Mestre entre o chicote
da turba má, com o rosto amigo e ledo
queimou-lhe nesse beijo o lábio tredo
queimou-lhe como a flama de um archote!

E o vil traidor, sem ter um desafogo,
vagou sangrando pela escuridade,
em vão buscando a paz nas trevas mudas…

Ai! Porque o justo é mesmo como o fogo!
Fere a mentira, queima a falsidade,
mata num beijo, o coração de Judas!

Plínio Salgado,
Tribuna do Norte, 20 de março de 1921

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