Lembranças Literárias : O Carreiro

Descuidado e feliz, além pelo sertão,
diante dos tardos bois caminha o bom carreiro:
Traz na boca um cigarro e, de “guia” na mão
fustiga sem piedade o par de bois dianteiro.

Quando em quando solta uma terna canção
que vai ecoando pelo despenhadeiro,
como se lá do fundo escuro do grotão
lhe respondesse ao canto a voz de algum roceiro…

E assim vai a cantar, feliz e satisfeito,
fronte bronzeada ao sol, camisa aberta ao peito,
e um sorriso de amor à cabocla que passa…

E vai dentro de um sonho, ao léo pelos caminhos:
– Deixando em cada rancho, a rir, uma chalaça…
– Insensível da vida à agrura dos espinhos…

Cesídio Ambrogi,
Tribuna do Norte, 16 de março de 1919

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