Nossa Terra Nossa Gente : O CORETO DO BOSQUE DA PRINCESA

Esta minha estrutura de ferro fundido, coberta de telhas francesas e suspensa do chão guarda lembranças de um tempo em que vivi na praça Monsenhor Marcondes e, sem dúvida, era o cenário preferido do mundo de faz-de-conta das crianças, das juras de amor dos namorados, das lembranças de muitos homens e mulheres não tão jovens assim e, de modo inesquecível, das retretas da Euterpe, musa lírica de nossa terra e de nossa gente.
Tempo em que os moços iam à praça aos fins de semana para flertar e as moças desfilavam seus vestidos novos de godê guarda-chuva, seus cabelos compridos penteados de tranças e coques, seus sorrisos faceiros esperançosos de encantá-los.
Quantos amores eu vi nascer!
Quantos amores eu vi florescer e frutificar!
Desde que vim morar no coração do Bosque da Princesa, ouço uma serenata de passarinhos ao raiar do dia. Em vez da cascata da praça, tenho um rio, o majestoso Paraíba, que assovia para eu adormecer em paz.
Vivo no meio de centenárias árvores enamoradas deste chão que não esquece o dia em que o casal imperial, a Princesa Isabel e o Conde D’Eu, de passagem por esta cidade princesa, foram presenteados com este mini éden cravejado de árvores preciosas – pau-brasil, pau-ferro, jambolão, palmeiras imperiais, cajá-manga, araçá e muitas outras espécies de árvores frutíferas e de sombra e de flores –, incontáveis espécies de aves, uma mina d’água natural que forma três lagos de carpas e a sinfonia das águas do Rio Paraíba que fluem pacíficas por seus remansos e vales.
Nos degraus da minha escada, as crianças que aqui passeiam, reinam absolutas. Elas sobem e descem as mesmas meninices de outrora… Com elas, eu viajo pelo mundo encantado das histórias que inventam, em tapetes voadores de sonhos ou nas capas imaginárias de seus super-heróis, presente que eu desembrulho com esmero quando seus coraçõezinhos batem em compasso com o meu.
Os jovens enamorados também se achegam no coreto do Bosque da Princesa, ora acanhados, ora trocando beijos e abraços, tão apaixonados quanto os homens e as mulheres que me visitam para relembrar o amor de outrora.
Ah, o amor!
Este sentimento nobre que move o moinho do tempo e as sementes que o vento espalha, aos pares, sem nunca ter fim! Feito este rosário de memórias que desliza entre os dedos da história de um coreto agradecido à Senhora do Bom Sucesso pela luz que emana de seu baú de lembranças, tesouro que o tempo não rouba, feito as brincadeiras das crianças, feito as juras do amor primeiro e as lembranças que, intactas, se esconderam neste relicário de ferro fundido, de portas e janelas abertas para quem desejar vir me rever e prosear – como nos bons e velhos tempos em que vivi no canto mais charmoso da Praça da Cascata.

  • Créditos da imagem: ROBERVAL EUGÊNIO DE GODÓI