História : O recenseamento ocorrido na Pindamonhangaba de 1874

Nesta edição o assunto é uma estatística do município de Pindamonhangaba realizada em 1874, há quase um século e meio… Um interessante recenseamento da Princesa do Norte ainda dos tempos imperiais, da segunda metade do século XIX. Os itens arrolados são motivos de curiosidade, como a relação de profissões da época, quanta casas possuía, quantas ruas, travessas e largos, quantos prédios públicos, etc.
O estudo estatístico, publicado no jornal Tribuna do Norte, edição de 25/7/1920, da qual garimpamos esse fato, é aberto com elogio ao trabalho efetuado: “A Comissão Censitária nomeada em 1874 para organizar a estatística do município de Pindamonhangaba, deu conta desse serviço, feito com todo capricho…”

Os números

População do município – 13.913 habitantes, sendo 7.325 do sexo masculino e 6.588 do sexo feminino, distribuídos por 2.225 fogos.
População da cidade – 4.025
Raças – brancos 6.423, pardos 2.329, caboclos 1.454 e negros 4.427, total 13.913
Estado Civil – casados 3.887, viúvos 738, solteiros 9.288, total 13.913
Naturalidades – brasileiros 12.735, dos quais 12.302 são paulistas, 125 fluminenses, 175 mineiros, 82 baianos, 13 pernambucanos, 13 maranhenses, 5 cearenses, 3 catarinenses, 2 riograndenses do norte,1 sergipano, 1 alagoano e 6 do município neutro (Rio de Janeiro).
Nacionalidades – brasileiros 12.735, africanos 986, portugueses 116, italianos 37, ingleses 16, alemães 13, paraguaios 3, argentino 1.
Profissões – têm profissão conhecida 8.958, assim distribuídos – na lavoura 6.322, no comércio 248, serviço doméstico 1.331, costureiras 567, marceneiros 15, carpinteiros 133, pedreiros 31, ferreiros 25, sapateiros 13, seleiros 2, alfaiates 48, funileiros 6, ourives 5, telheiros 3, pintores 5, fogueteiros 2, ferrador 1, carreiros 13, cocheiros 8, arreadores 23, lavadeiras 40, rendeiros 6, fiandeiros 8, trançadeira 1, jardineiro 1, segeiro 1, dentistas 4, professores 21, tipógrafos 6, farmacêuticos 4, parteiros 3, médicos 3, engenheiros 7, advogados 5, empregados públicos 22, proprietários 35, capitalistas 3, sem profissão conhecida 4.955.
Religião – católicos 13.905 e acatólicos 8
Instrução – sabem ler, escrever e contar 2.182 pessoas, das quais 1.579 homens e 603 mulheres.
As escolas são frequentadas por 344 alunos de 2 sexos, a população escolar de 6 a 15 anos e de 19 a 27 anos. Existem 3 colégios, 1 para meninos e 2 para meninas.
Idade – existem no município 11 pessoas de 90 a 100 anos, sendo 3 mulheres e 8 homens; com mais de 100 existem 6 mulheres e 3 homens; de e 80 a 90 são 57 pessoas, sendo 30 mulheres e 27 homens.
Letrados – existem no município 19 homens de letras, sendo 11 formados em direito, 11 em medicina, 3 em cânones.
Topografia – a cidade tem 18 ruas, 4 travessas, 5 largos. Há 543 casas, das quais 500 térreas, 29 assobradadas e 14 sobrados, sendo numeradas 419.
Edifícios públicos – paço da Câmara Municipal em cujo pavimento térreo existe a cadeia pública, igrejas da matriz, Rosário, São José,
E duas capelas de Santa Cruz, mercado, lazareto, hospital e teatro.
Tipografias – existem 2, uma em que se publica “O Pindamonhangabense” e outra “O Americano”.

Observações necessárias

Primeiramente, segundo a ONU, “um recenseamento de população pode ser definido como o conjunto das operações que consistem em recolher, agrupar e publicar dados demográficos, econômicos e sociais relativos a um momento determinado ou em certos períodos, a todos os habitantes de um país ou território”.
No item “população do Município”, o termo “fogos” se refere a domicílios; no item “Raças”, o termo “caboclo” se referia a índios.
No referente à “Naturalidades” consta Rio de Janeiro como “município neutro”. Em Wikipédia – a Enciclopédia Livre, vamos encontrar que: “Município Neutro foi uma unidade administrativa criada no Império do Brasil, que existiu no território correspondente à atual localização do município do Rio de Janeiro entre 12 de agosto de 1834 (quando foi proclamado o Ato Adicional à Constituição de 1824) e 15 de novembro de 1889, quando foi proclamada a república no Brasil . Mas só deixou de existir oficialmente com a promulgação da Constituição de 1891”.
Já quanto às profissões existentes naquela época acreditamos as mais curiosas sejam para o leitor: “arreadores”, ou arreiadores ou ainda arrieiros, responsáveis por arreiar os animais de cavalgadura; “fiandeiros”, aquele que se ocupava em fiar, trabalhar com fios; “segeiro”, que era o fabricante de seges, ou seja, carruagens; “trançadeira”, que deveria ser algum ofício ligado à arte de trançar, fazer objetos ou utensílios a partir do trançamento do bambu, por exemplo.
Também nos são interessantes as denominações, “funileiro” e “engenheiro”. Atualmente o ofício de funileiro refere-se aos profissionais das oficinas de autos e da engenharia, respectivamente. Naquele tempo, funileiro era quem trabalhava com folhas-de-flandes, folhas de ferro estanhadas utilizadas no fabrico, além de funil, de utensílios como canastras, baús, canecas, latões etc. Já o engenheiro era o trabalhador no engenho da cana-de-açúcar.
No que diz respeito à religião, Pindamonhangaba contava com 13.905 católicos e, curiosamente, apenas 8 não católicos, constando na estatística a grafia “acatólicos”.

  • Cruzamento da “Jorge Tibiriçá” (na continuidade da “Deputado Claro Cesar”) com a rua dos Andradas, na segunda metade do século XIX. Créditos da imagem: Arquivo TN
  • Anúncio de Antigamente. Publicava-se no jornal Tribuna do Norte em 1917.