História : O sensacionalismo na Tribuna de antigamente

Recordamos nesta edição da página de história, divulgações referentes ao chocante, exótico e misterioso, prática editorial que sempre atraiu considerável faixa de leitores e não era diferente no final do século XIX, nas primeiras edições do jornal Tribuna do Norte.

Nasceu um
monstro…
Um acontecimento no mínimo curioso, mas hoje explicável pela ciência, se verificou em Pindamonhangaba em 1882, na residência de José Pedro Cardoso. Levando-se em conta o número de habitantes da Pinda daquele tempo, acreditamos que o tal José Pedro Cardoso citado na nota era o pai de João Pedro Cardoso, pindamonhangabense criador do evento que deu origem ao “Dia da Árvore” no Brasil, na época com seus 11 anos de idade. A nota saiu desta forma na edição de 13/10/1882 da Tribuna:
“Em princípios da semana, em casa do sr. José Pedro Cardoso, apareceu um interessantíssimo fenômeno. Uma cabra deu à luz, não podemos dizer se a um ou a dois cabritinhos, porque as partes posteriores são de dois indivíduos perfeitamente desenvolvidos, mas ligados por um só pescoço e tendo uma só cabeça e com um só tórax, de cuja extremidade parte os dois corpos, com dois ventres distintos e bem organizados.
Tem 8 pernas, sendo 2 em cada uma das partes posteriores das espáduas e voltadas para cima.
O monstro tem comuns o corpo da respiração, circulação e enervação e duplos digestivos e genitais.
A cabeça, que é de tamanho natural, apresenta o focinho regularmente desenvolvido, mas na parte posterior observam-se duas pequenas orelhas, entre as quais uma cavidade, onde existe um olho relativamente grande.
As pessoas entendidas que expliquem o fato, cuja existência noticiamos, e querendo observá-lo com os próprios olhos, encontrarão na casa do sr. Cardoso os animaizinhos perfeitamente conservados e dignos de atenção.”

Petisco de ratos
Esta saiu na Tribuna de 20/4/1884. Conta que um francês recém-chegado da China revelava as curiosas conservas alimentícias e carnes salgadas que se preparavam e se consumiam naquele império. Dizia que entre as carnes salgadas as dos ratos eram muito apreciadas e por isso os aldeões chineses, para tirar proveito da fecundidade deste roedor, os cultivavam em criação como se criavam coelhos.
Os viveiros eram construídos de modo mais simples possível: introduziam nas tocas garrafas de bocal suficiente para caber a mão. Depois colocava-se um rato na garrafa perfeitamente ajustada à toca e o bichinho, tomando-a por uma fenda fazia nela seu ninho e ali desenvolvia sua criação.
Os criadores vinham examinar de quando em quando os viveiros e tirar os ratinhos, como se costumava fazer com os pombos.
Retirados, os filhotes de rato eram cozidos, cortados, salgados e colocados em conservas. Ao serem servidos passavam por petiscos de tubarão.
O redator da Tribuna encerra a nota com a frase seguinte: “Não lhes invejamos o petisco”.

A Lenda do
Calvário
Esta já é da Tribuna do século XX, foi publicada na edição de 20/1/1945, contada por Edmundo Teixeira, irmão da inesquecível Aurora Teixeira Mendes, a dona Aurora (1917 – 2008), cuja família de origem espanhola se estabeleceu em Pindamonhangaba por volta de 1922.
Segundo o cronista Edmundo, à margem esquerda do Sapucaí-guassu, em terras de Campos do Jor-dão, nas proximidades de uma fazenda, a fazenda Correntinos, havia uma velha cruz já na época centenária. Contavam os antigos moradores que não era de pinho e tampouco feita pela mão do homem – nascera de uma paineira.
Achando curiosa a história, Edmundo, cidadão espiritualista ligado às coisas da literatura e da cultura, foi conhecer de perto a tal. Como companhia serviu-lhe um caboclo conhecido por “nhô Satiro”, velho morador do local.
O calvário foram encontrar na encosta de um morro. Lá estava a cruz, sombria e solitária, amparada por uns blocos de pedra enegrecida. O fato curioso – contava Edmundo – é que não apresentava nenhuma emenda, em seu todo roliço e grotesco. Era toda inteiriça, conservando linha perfeitamente horizontais e verticais.
Ao ser indagado sobre a lenda, nhô Satiro respondeu que era “muito bonita e sentimentá” e assim começou a contar:
“Nos tempos dos escravos, havia aqui uma mestiça, a Jacira, que gostava dum jovem escravo chamado Juvêncio.
Quando a noite vinha, esgueiravam-se os dois pela mata e vinham se encontrar aos pés de uma paineira que havia no lugar da cruz.
Um dia o patrão, desconfiado, os descobriu e ali mesmo os prostou a tiros de pistola, mandando que os enterrassem sob a paineira.
Anos depois, a velha paineira, alimentada pelo corpo dos dois amantes, desfolhou-se toda, ressecou-se depois e desgalhou-se enfim, remanescendo apenas dois braços abertos, hirtos, ressequidos em forma de uma cruz!…”