Nossa Terra Nossa Gente : PADRE HUGO GRECO, ESTRELA QUE NÃO SE APAGA!

Há alguns anos tive o privilégio de contemplar uma estrela cadente a poucos metros do lugar onde eu caminhava. Vivi um maravilhamento! Esse sentimento inexplicável eu revivi quando avistei, pela primeira vez, aquele homem de olhos azuis e sorriso de céu que caminhava vindo ao meu encontro. Algo nele me atraía tão misteriosamente que, ao passar por mim, dei meia volta e o segui…
Trajava roupas simples e um sapato bem maior do que o tamanho de seus pés. Por isso, andava devagar pelas ruas que nos conduziriam até o Lar São José, um asilo de velhos na Praça Conde de Moreira Lima, em Lorena. Ele entrou na capela do asilo. Eu sentei-me num dos bancos, maravilhada com sua presença divina. Minutos depois, ele saiu da sacristia paramentado de padre. Veio até os velhinhos, sentadinhos à sua espera, cumprimentava e abençoava a todos.
A missa celebrada por ele era diferente de todas as missas que eu assistira e, sua homília, inesquecível. Fui tomada por um desejo de tomar nota de suas palavras. No papel, as palavras perdiam o maravilhamento de quando fugiam do sacrário de sua alma. Ao término da missa, todos iam até o altar pedir-lhe a benção. E, com profundo amor, ele abençoava um por um.
As missas do padre Hugo Greco, às quatro da tarde, no Asilo São José, passaram a fazer parte de minha agenda diária. No meu caderninho, dia a dia, anotava suas homilias. Desse exercício nasceu o desejo de ser escritora e pesquisar a vida daquele santo padre. Em segredo, antes ou depois da missa, sempre trocava um dedinho de prosa com ele.
Ele contou-me que nascera no dia “12 de 12 de 1912, às 12 horas”, em Lugo, na Itália, e ao ouvir a professora mostrar-lhes o Brasil no mapa, pressentiu que viria para cá. De fato, ao ser ordenado sacerdote salesiano, designaram-lhe a missão de professor de Línguas Estrangeiras (Grego, Latim, Italiano) e de Ciências (Astronomia, Botânica, Geologia) no Seminário Salesiano do Colégio São Manoel, em Lavrinhas – SP.
Brilhante mestre, tudo o que se propunha a aprender e a ensinar, beirava a perfeição! Sua dedicação à Poesia e à Música não diferia desse mesmo ritmo e tom. Compunha poemas em português, latim, grego e italiano, e o que neles mais tangenciava meu espírito era o seu encanto para com a Natureza e Deus.
No pórtico da Faculdade Salesiana, em Lorena, éramos recepcionados pelo som de seu violino, cada dia mais afinado, cada dia mais obediente ao dedicado aprendiz. Durante os intervalos, esperavam-nos no pátio padre Hugo e seu telescópio. Apaixonado por Astronomia, ensinava a quem se interessasse, as maravilhas do Universo: os planetas, os cometas, as constelações… E, com essas lições, os segredos invisíveis da grandeza divina, “que tudo criou”!
Confesso que muitas lições de Botânica, Astronomia e Geologia ficaram esquecidas nas prateleiras da memória de sua ex-aluna. No entanto, o seu andar manso, seu olhar azul celeste, seu sorriso de anjo, eu jamais esqueço! Como não esqueço a maior lição que ele nos legou: seu amor incondicional aos pobres, aos doentes e aos velhos. Todos os meses, padre Hugo doava integralmente seus honorários de professor aos menos favorecidos que, à porta da faculdade, aguardavam a abençoada fração do seu salário. Do mesmo modo, os doentes da Santa Casa e os velhinhos do Asilo São José aguardavam suas palavras de conforto e uma parcela de seu estado de graça.
Creio que existem estrelas que nunca se apagam, assim como existem pessoas que nunca morrem… padre Hugo Greco é uma dessas estrelas e brilha ““in perpetuum”na vida daqueles que ele soube acolher, agasalhar e alimentar com sua luz divina e seu divino amor!

  • “No pórtico da Faculdade Salesiana éramos recepcionados pelo som do violino do padre Hugo...”