Lembranças Literárias : Páginas íntimas

Eu tenho formulado inutilmente
– sem que a resposta o coração me dê
essa pergunta quase irreverente:
– Por que é que eu gosto tanto de você?…

Procurei pelas ciências matemáticas,
resolver a questão por A mais B;
mas as respostas são tão problemáticas…
– Por que é que eu gosto tanto de você?…

Fui às ciências naturais, mas nesse dia
depois de analisar até você,
voltei mais cheio de neurastenia
– Por que é que eu gosto sem saber por que?…

Cheguei, assim, à conclusão segura,
já que resposta alguma satisfez,
de que vivo enleiado na espessura
de um cipoal imenso de porquês.

Desisto, pois, saio do torvelinho
angustioso em que você me vê.
Mas aqui, para nós, diga baixinho:
– Por que é que eu gosto tanto de você?…

Luiz Andrea, Tribuna do Norte 14/5/1933

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