História : Pindamonhangaba já foi município agrícola

Passadas as décadas de prosperidade proporcionada pela produção cafeeira, o Vale do Paraíba experimentou uma fase de improdutividade econômica. Segundo o historiador José Luiz Pasin, do IEV-Instituto de Estudos Vale-paraibanos (sediado em Lorena), em artigo publicado na edição de fevereiro/março/2000 do informativo da referida entidade cultural, “o café no Vale do Paraíba ainda resistiu até a década de 1920”. A partir daí, conta o historiador, a região começa a passar por um processo de mudança, com as primeiras tentativas de industrialização e principalmente com início de uma nova atividade econômica: a pecuária leiteira.
Embora não tenha adotado a produção de leite tão intensamente como outros municípios, foi também nesse período que Pindamonhangaba, antes terra de viscondes, barões, palacetes e casarões, começou a resolver seu problemático sentimento de perda, já que a perda maior era a econômica.
Consultando Athayde Marcondes, em Pindamonhangaba Através de Dois e Meio Séculos (1922), encontramos, no capítulo referente à economia, que o município nessa época era “essencialmente agrícola”. Cultivava-se café, arroz, cana-de-açúcar, fumo e cereais.
Nas atividades industriais o destaque ficava para as produtoras de farinha de mandioca, então denominadas “fábricas de féculas”, cujo produto era apurado com a utilização de máquinas a vapor. Essas fábricas eram a maioria, mas havia a fábrica de couros, o curtume, propriedade de Manuel Cembranelli, desde 1901 em funcionamento. Produzia couros para São Paulo e para o Rio de Janeiro. Durante a 1ª Guerra Mundial chegou a exportar para França e Itália. Outras, não menos importantes na época eram a de bebidas, do italiano Pedro Amadei, e a fábrica de palhões (confeccionava sacos de estopa), do alemão KoehlerAsseburg. Tinha também a de doces, a de sabão e a de flores.
Na produção pecuária se destacava a criação das raças bovina, zebu, holandesa e caracu. No entanto, também se dedicava à criação de muares, caprinos, lanígeros e suínos.
Fazendas
valorizadas
Em um fragmento da edição de 13/2/1921 do jornal Tribuna do Norte, encontramos matéria que traz um resumo sobre a situação do município naqueles longínquos anos 20. A economia, baseada nas produções agrícolas e pecuária, conforme registrara Athayde, é exaltada principalmente com relação às propriedades rurais, que, segundo o articulista, haviam sido consideravelmente valorizadas, e o jornal assim divulgava:
“Uma propriedade agrícola como a Mombaça, entregue ontem por cento e poucos contos está hoje valendo mil.
“A fazenda Coruputuba, comprada ontem por cento e cinquenta contos, está estimada em mil e duzentos.
“As fazendas Água Preta, Tanque, Burity, Ypiranga, Dr. Gonzaga, Coronel Marques, General Lauro Müller, Baronesa Itapeva, Romeirinho, Sapucaia, Assis Bueno, Raphael Tobias, Mazini Bueno e tantas outras estão com seus valores quadruplicados nestes dois últimos anos (1920/1921)”.
As terras existentes às margens ribeirinhas, utilizadas principalmente pelos agricultores que se dedicavam ao plantio do arroz são assim descritas: “Desde Múcio Costa, à margem do Piracuama, até Carlos Inglês de Souza, à margem do Ribeirão Grande, e Cícero Prado, à margem do Pirapitinguy, estende-se vasto e quase único campo verde-claro, arrozais sadios e prometedores de boas colheitas”.
É citada a propriedade agrícola e pastoril do dr. Daniel Resende e a de Rachou & Irmão que ao lado da cultura de arroz e cana, aumentavam seus pastos para criação do gado zebu. Os outros importantes criadores de bovinos citados são: Bastos Calino, Antonio Pinto Monteiro, dr. Claro César, Antonio Avelino Guimarães, Faro Freire, Breno Silva, João Firmino, Carlos Pereira Marcondes, W. O. Perrenoud, J. Lemes Nogueira, Alfredo César, Frederico Franklin, viúva Madureira, Joaquim da Costa e Pedro Rangel.
Ainda o café
Naquele tempo ainda podia se admirar “belas e produtivas lavouras de café”. Entre seus proprietários, aquela edição da Tribuna relacionava os seguintes: viúva Monteiro César,viúva Pinheiro, coronel Antonio Marques, coronel José Salgado, Antonio Pereira Marcondes, Alfredo César, Breno Silva, Mazini Bueno, João Máximo dos Santos, Carlos Machado, Juvenal Pestana, João Benedicto Pereira da Silva, dr. Daniel Resende, baronesa Itapeva, Francisco de Assis Bueno, coronel Francisco Bicudo de Mello, coronel Romeirinho, Carlos Inglês de Souza, Rachon& Irmão, dr. José Antonio Machado, dr.José Vicente Romeiro e o coronel Benjamin Bueno.
Era prevista, naquele ano, uma produção de 100 mil arrobas de café, caso as lavouras queimadas de geadas fossem restabelecidas.
A Tribuna do Norte, na mesma matéria, comentava também a produção industrial, referindo-se à fazenda Cícero Prado, onde “alterosas chaminés anunciavam a existência de uma importante indústria, a do amido”. Também são mencionadas as outras fábricas, aquelas citadas por Athayde (farinha, palhões, couros, bebidas).
Haras paulista
O Haras Paulista (área hoje ocupada pelo Parque da Cidade), fundado em 1911, local onde eram criados cavalos para a Força Pública do Estado de São Paulo, a atual Polícia Militar, não passou despercebido. Naquele ano de 1921 (já retornando ao livro de Athayde Marcondes) ali se encontravam “cerca de quatrocentos animais entre garanhões, éguas nacionais, éguas mestiças, éguas puro sangue e jumentos”. Para a criação dos animais do Haras “haviam sido plantadas de 28 a 33 hectares de mudas de cana para alimentar os cavalos e muitos litros de arroz não descascado, sob o nome de paddy, para a alimentação dos potros”.
Pindamonhangaba era, portanto, um município “essencialmente agrícola”, haja vista que até as outras atividades econômicas se correlacionavam com a produtividade campestre. As indústrias (farinha, amido, palha etc.) e o comércio (artigos destinados ao homem do campo).
Hoje, ainda que não seja mais essencialmente agrícola, pois, com o tempo foi se fortalecendo na industrialização e nas atividades comerciais, sua produtividade agropecuária (sem falar dos hortifrutigranjeiros) deve ser valorizada, respeitada e mais divulgada.

  • Rua Prudente de Moraes (destaque para o chafariz Cônego Tobias, à esquerda), conforme postal do início do século XX