Proseando : PLANETA ZERO-TRÊS

O planeta zero-três estava em desordem. As florestas sofriam com o avanço das pastagens e da ganância imobiliária. Árvores-meninas e seculares foram substituídas pela pecuária. Arranha-céus e outras construções expulsaram arvoredos e todo tipo de vegetação. As indústrias cuspiam veneno nos ares e rios.

Os seres que se autodenominavam racionais praticavam ações cada vez mais monstruosas visando o crescimento ou a conquista do poder, pois a sociedade classificava como prosperidade a condição daqueles que nadassem em mares de dinheiro. Por sua vez, o fracasso era atribuído aos miseráveis, pouco importando se fossem evoluídos espiritualmente.

O planeta zero-três, no auge da demência de seus governantes, estava em guerra. O rei dos Ushankas determinara a invasão do reino vizinho. Sentado à mesa de ouro em seu gabinete real, mantinha o indicador em posição de ataque ao botão vermelho da caixinha de aço, botão que acionaria milhares de bombas atômicas e reduziria o planeta zero-três a um grão de nada no universo.

Depois de alguns dias de combate, os reis foram comunicados de obstrução na fronteira: crianças. O rei invasor determinou:
— Elimine-as!
— Não podemos, Vossa Majestade.
— Elimine-as! Não é um pedido, é uma ordem!
— Não faremos nada enquanto Vossa Majestade não vier até aqui.
— Rebeldes! Vou eliminar vocês e essas crianças.

Horas depois, os reis se aproximaram da fronteira. O rei invasor trazia consigo a caixinha de aço com o botão vermelho. Viu duas crianças abraçadas, uma de cada lado da fronteira. Caminhou até elas como um mastodonte. Seus passos fizeram o chão tremer. A alguns passos de distância, reconheceu a menina.
— O que você está fazendo aqui, minha filha?
— Exigindo o fim da guerra, pai.
O outro rei, com lágrimas nos olhos, reconheceu o menino.
— Volte já pra casa, meu filho.
— Só depois de decretarem o fim dessa guerra estúpida.

Os soldados receberam ordens para separar as crianças. Mas nenhum deles se moveu. As crianças portavam armas e diziam que as usariam contra si, caso a guerra não terminasse naquele momento.

Os reis se entreolharam, fragilizados pelo poder do amor. Sob a ordem das duas lideranças, os soldados abandonaram as armas e a paz foi decretada. O rei invasor, que objetivava conquistar o mundo, inconformado, enfiou a caixinha de metal no bolso e apertou o botão vermelho.