Vanguarda Literária : POESIA X MÚSICA X FILOSOFIA

A Poesia e a Música são ARTES DIVINAS que trazem encanto aos povos desde tempos imemoriais. Conquanto seja a Poesia arte verbal e a Música arte não verbal, nos seus sistemas semióticos, elas se aproximam, embora alguns estudiosos, com argumentos intuitivos, místicos e até filosóficos discutam a superioridade de uma sobre a outra. É EXTREMAMENTE DIFÍCIL, MUITO COMPLICADO COLOCAR UMA ARTE COMO SUPERIOR A OUTRA!
O eminente filósofo italiano Nicola Abbagmano (Salerno-1901- Milão-1990), famoso professor de História da Filosofia em Turim (1936-1976), no seu Dicionário de Filosofia, traduzido no Brasil, em 2000, pelo professor Alfredo Bosi, da USP, publicado pela Editora Martins Fontes, nos ensina: “A Poesia é uma forma de expressão linguística que tem como condição essencial o ritmo, entendido como ritmo poético (a parte sonora significante das palavras), não musical! Algus autores asseguram que o ritmo antecede o verso; outros defendem a ideia de que eles se constróem juntos.
ABBAGMANO coloca que existem três concepções fundamentais de poesia:
1º -A poesia como estímulo ou participação emotiva, concepção essa apresentada pela primeira vez por Platão, que afirmava que as emoções alheias tratadas na arte passa a ser nossa; a arte deveria equilibrar as emoções humana e não reforçá-las;
2º – A poesia como verdade, idéia exposta por Aristóteles ao considerar a poesia como tendência a imitação (Mímesis) por ele inata em todos os homens, como manifestação da tendência ao conhecimento. Para ele, a poesia é verdade filosófica porque capta a essência das coisas; ao fazer isso, essa essência é constituída pelas relações entre necessidade e verossimilhança que é o objeto poesia. A poesia, portanto, contém a VERDADE ABSOLUTA, ponto de vista expresso por alguns filósofos, sobretudo o alemão Martin Heidegger;
3º – A poesia como modo privilegiado de expressão linguística preocupa-se em expressar e orientar o trabalho verdadeiro e afetivo dos poetas. Portanto, o modo poético da expressão é a liberdade linguística, isso porque busca na linguagem a forçade significação, renovando-a, tornando-a, por assim dizer, mais eficiente.
Aqui, nós perguntamos: e como fica a MÚSICA dentro dessa concepção filosófica de Nicola Abbagmano? Ele nos coloca duas concepções claras, filosóficas, da música:
1º – A música como revelação de uma realidade privilegiada e divina do homem sob a forma do conhecimento ou do sentimento. Trata-se de uma concepção com inspiração teológica, seu objeto é a harmonia como ordem divina do cosmos, sem esquecer que a música é ciência denominada musicologia. Os pitagóricos diziam que a música é a harmonia dos contrários, unificação de muitos e Plotino, filósofo neo-platônico, afirmava que ela nos faz subir até Deus. O filósofo Hegel foi mais longe: ela expressa o absoluto em forma de sentimento.
2º – A música, aqui compreendida como técnica ou conjunto de termos expressivos no que concerne à sintaxe dos sons. Como asserverou um grande estudioso da música – o austríaco Eduard Hanslick, o maior crítico musical do século XIX: o objeto da música é o belo musical. O elemento mais importante da música é a eufonia, sua essência é o ritmo. É a festa para o coração!
Ante o exposto, concluimos que essas artes sublimes se tocam. São irmãs na sua origem e destino. Para Paul Valery, célebre poeta francês, essa duas artes são inseparáveis, com sonoridade e ritmo, harmonia pura. A poesia é palavra, palavra, que acima de tudo é uma expressão sonora que encanta a humanidade.

  • Nicola Abbagmano (15/7/1901 – 9/9/1990)