História : Prédios da Pinda antiga: o chalé francês

Até o início dos anos 60 ainda não havia sido demolido o belo chalé da esquina da rua Deputado Claro César com a Marechal Deodoro. Segundo José Renato San Martin (Pelas Ruas de Pindamonhangaba – JAC-Gráfica e Editora, 1995), “pela sua arquitetura leve e graciosa, construído em 1881, esse chalé encantou durante muitos anos os que por ali passavam”.
Artigo de Nini Salgado (Tribuna do Norte, 11/10/1970), descrevendo a rua Deputado Claro César, revela que ali residiram primeiramente “o casal José Antonio Teixeira Salgado e Clélia Prado Salgado e depois dona Gabriela de Barros Lessa, a dona Bey, mãe do dr. Francisco Lessa Júnior, médico e ex-prefeito de Pindamonhangaba”.
Em homenagem a esse prédio histórico que, por conta do desenvolvimento urbano foi abaixo, encontramos no jornal Tribuna do Norte, edição do dia 31 de março de 1968, um poema humildemente assinado por “Marecê” (Maria Carmelita Romeiro Ramos Mello). A autora revela em versos a dor de sentir o velho chalé francês sendo demolido… Define como a perda de uma riqueza infinitamente maior que o progresso: a memória de uma vida feliz em família tendo como proteção o bendito teto do casarão…

Velho Chalé

Fui rever o meu chalé tão lindo…
Seus quartos e salas percorrendo
…a saudade de manso vem surgindo
e um passado gostoso vou vivendo!

Ali no quarto grande logo vi
linda velhinha, era vovó Bey
nos dando, que delícia! Quinhentão!
Que tirava dum canudo de latão…

Mamãe, bonita, doce, doce e carinhosa
a lidar, bordar e desenhar;
no fogão a fazer coisas gostosas,
ou na sala um sapatinho a tricotar.

Papai gordo, barulhento e bondoso
pai e avô dedicado e carinhoso,
tia Má, tia Ziza, tia Zaza…
quanta saudade nos traz a velha casa!

Chalé, testemunha de meus ais…
dos suspiros de meu amor primeiro…
amor seguro, forte, verdadeiro,
dedicado ao meu terno companheiro…

Depois… num passado mais recente,
vem surgindo gente nova, diferente;
são crianças alegres e ligeiras
a saltar, a gritar em brincadeiras.

São gritinhos, risos e folguedos,
algazarras, correrias e brinquedos…
…o velho chalé vivendo aquilo
com seu ar austero e tão tranquilo

Hoje estão te destruindo!…
que revolta e amargura vou sentindo
de casa a escutar as marteladas
que ressoam em meu peito qual pancadas…

Pancadas misturadas aos passinhos
suaves, delicados da avózinha…
ao barulho calmo e ao trabalhar
da máquina de mamãe a costurar…

Aos gritinhos alegres das crianças,
aos passinhos saltitantes a cantar…
Tudo, tudo ficou lá pra trás
e não volta mais… nunca mais!

Velho chalé, estão te destruindo…
tuas tábuas na carroça vão saindo…
Chão de meu velho chalé…
chão de lágrimas da morte de vovó,
regado do sangue de mamãe,
molhado do xixi dos meus filhinhos
e também de meus queridos sobrinhos…

Estão te destruindo!…
é o progresso que vem vindo!…
Estão te destruindo!…
mas, de meu peito,
de nenhum jeito
ninguém destruirá aquela fé
que herdei de mamãe no meu chalé!!!

MARECÊ (26-3-68)