História : Proibido jogar peteca na praça

Nesta edição continuamos com recordações referentes à praça Monsenhor Marcondes. Localizado no centro histórico de Pindamonhangaba, esse logradouro público recebeu a popular denominação de praça, largo ou jardim da Cascata a partir de 1908. Na época, o prefeito, era o Benjamin Pinheiro, teve a iniciativa de tornar o local mais atraente. Para isso, contratou os serviços de um personagem, segundo o historiador Athayde Marcondes (Pindamonhangaba Através de Dois e Meio Séculos, 1922) conhecido por Joaquim Barbudo ou Joaquim Estuqueiro. Esse artista foi o construtor da imitação de gruta com uma pequena queda d’água e também quem confeccionou em cimento as alpondras, os animais (jacaré, cobra, coelho, sapo), os galhos e troncos abatidos que seriam os bancos. O local foi remodelado em 1977, pelo artesão José Soares Ferreira, o Zé Santeiro, valorizando artisticamente cada detalhe e acrescentando outros.

Senhoritas ou meninas?

Em sua edição de 25/8/1912, o jornal Tribuna do Norte, divulga a ocorrência de uma atividade de lazer, uma distração, geralmente realizada pelas meninas, que era proibida na praça: jogar peteca! Naquela primeira década dos anos 1900, quando havia até touradas ao lado da praça (avenida Dr. Jorge Tibiriçá), conforme divulgamos nessa página de história (edição de 22/9/2020), a prefeitura proibia a prática dessa brincadeira (atualmente folclórica) no local.
O jornal teria recebido carta de um leitor frequentador do Jardim da Cascata (praça que o redator TN, bairristicamente, se orgulhava dizendo ser o nosso “Bois de Belogne”), assim se referindo ao ocorrido: “Não tem, sr. redator, o menor fundamento o diz-que-diz que chegou a meu conhecimento de que quatro gentis senhoritas foram desatenciosamente tratadas pelo guarda do jardim da cascata, na tarde de 22 do corrente, por se acharem a jogar peteca”.
O leitor, na verdade, queria informar que não se tratava de senhoritas e explicava: “Bem se compreende que felizmente não existem entre nós senhoritas, por muito desembaraçadas, que animem a cometer essa imprudência em lugar público, frequentado não só por moços e rapazes mas pelas pessoas mais sérias da cidade, que não achariam graças nesse jogo”.
E complementa ressaltando que o brinquedo (peteca), naquele tempo proibido nas ruas e lugar público pelas posturas municipais, ainda que tivesse sido permitido pelo empregado do jardim, “as pessoas que nele se metessem” estariam expostas à intervenção da autoridade policial que, “em cumprimento de seu dever, não podia deixar de intervir para obstá-lo”.
Em seguida, o leitor revela que não se tratavam de ‘senhoritas’ as envolvidas na desobediência pública, como estavam comentando na cidade. “Eram quatro meninas que, como todas crianças sem atenção ao lugar e à proibição das posturas, puseram se a jogar peteca, correndo de um para outro lado”.
E conclui: “O guarda do jardim logo descobriu a brincadeira, dirigiu-se cortesmente a essas crianças pedindo-lhes o favor de suspenderem o jogo, por ser proibido pela lei municipal. As meninas, é verdade, não cederam de pronto, mas afinal à vista da insistência do guarda, pegaram da peteca contrariadas e se retiraram”.
Aí então o redator da Tribuna de ontem encerra comentando: “Não passou disto toda brincadeira que deu motivo a jocosos comentários, isso lá é verdade, os comentários”.
E o redator da Tribuna de hoje também encerra o artigo de história desta edição esclarecendo:
“Bois de Belogne”, o Bosque de Bolonha é um grande parque público localizado no 16.º arrondissement de Paris, França. Situa-se nos subúrbios de Boulogne-Billancourt e Neuilly-sur-Seine. Um dos mais importantes áreas verdes da capital francesa, o Bois de Boulogne foi estabelecido na década de 1850, durante o reinado de Napoleão III. (Fonte: Wikipédia)
E conclui julgando incoerência o fato de aos homens (meninos marmanjos) ser permitido naquele início de século XX ‘brincar’ de toureiro, fustigando os pobres touros e arrancando aplausos da população, e não se permitir às crianças ou mesmo a ‘gentis senhoritas’ o animado e inocente momento de descontração de jogar peteca.