Projeto “Andrade Verde” cultiva a diversidade vegetal

Moradores do residencial Andrade visam à revitalização florestal das margens do ribeirão do Curtume

Colaborou com o texto:
Dayane Gomes

O panorama da avenida Sargento José Joaquim dos Santos Sobrinho, no loteamento residencial Andrade, divide-se em faixas. Entre a passagem asfaltada e o córrego de tom marrom, há um intervalo esverdeado que desenvolve novas formas e dimensões em decorrência da diversidade vegetal plantada e conservada pelos residentes das proximidades interessados na reconstrução da Mata Atlântica, a matriz ambiental do Vale do Paraíba.
A correnteza amarronzada é o ribeirão do Curtume, um dos afluentes do rio Paraíba do Sul em Pindamonhangaba. O riacho percorre paralelamente a avenida do bairro por cerca de um quilômetro e foi em suas margens que alguns vizinhos se mobilizaram para introduzir um projeto comunitário de recomposição ambiental em 2016. “Um dia eu estava conversando com a minha vizinha de frente e ela falou: ‘Que tal a gente fazer uma limpeza ali?’. Na hora, eu concordei porque era o que queria e só estava faltando um parceiro”, narra Flávia de Miranda, que foi uma das precursoras do movimento. “Sempre tive jardim. Adoro plantas! E eu tenho comprometimento sério com ecologia, por exemplo, reciclo semanalmente e convido todos a reciclar também”, ressalta.
Inicialmente, os trabalhos se concentraram na procura de informações sobre a utilização do espaço com o Departamento de Meio Ambiente da Prefeitura de Pindamonhangaba. Em seguida, Flávia distribuiu panfletos pelas redondezas para a escolha de espécies e a determinação da quantidade de mudas que seriam adquiridas.

Etapas da revitalização ambiental

Assim, uma “faxina” deu início à primeira etapa de renovação do local com a roçada do matagal acompanhada da retirada de lixo, uma vez que ambos atraiam mosquitos, ratos, baratas e escorpiões. “Antes, quando não tinha esse cuidado, as pessoas viam aquela desordem e jogavam lixo, até outras coisas grandes, tipo entulho e móveis usados. Hoje, esporadicamente, aparece alguém fazendo isso”, menciona Luiz Fernando Campos, de 63 anos, que atua como diretor social da Associação do Bairro Andrade.
A segunda etapa do processo focou na recepção de 180 mudas de árvores do Setor de Viveiro do Departamento de Meio Ambiente, que foram distribuídas entre os moradores. Inclusive, alguns adotaram plantas para colocar em suas próprias moradias. Em seguida, o solo argiloso, pedregoso e duro das beiradas do ribeirão do Curtume começou a receber as novas companhias.
A propósito, em março deste ano, a Prefeitura de Pindamonhangaba, por meio da Secretaria de Serviços Públicos, realizou uma ação de limpeza e manutenção do córrego para a recomposição do dique-aterro lateral que foi construído para conter as cheias do rio e prevenir enchentes.
“Nós seguimos as técnicas recomendadas pelo Viveiro. Colocamos terra vegetal, gel de plantio, vermiculita. Mas, nossa grande dificuldade é de molhar as plantas”, explica Flávia. A aposentada, de 64 anos, supervisiona uma das “zonas de responsabilidade” ordenadas ao longo das cinco ruas perpendiculares à avenida jardinada e gosta de acompanhar o planejamento da disposição da encosta: as árvores com porte maior são fixadas no alto do dique de terra e as plantas e flores rasteiras ficam na parte inferior, ao lado da calçada.

Trabalho comunitário

Da plantação à manutenção, desde equipamentos até mão de obra, todo o projeto “Andrade Verde” é custeado por “vaquinhas” e doações dos residentes do bairro Andrade. Já no início em 2016, a colaboração comunitária se fundamentou como o pilar da ação que vem reflorestando uma área da Mata Atlântica, um bioma de floresta tropical, dentro de Pindamonhangaba.

Aqueles que podem, põem a mão na terra para abrir as covas de plantio e irrigar as plantas. Aqueles que não conseguem, ajudam como podem, disponibilizando, por exemplo, dinheiro para compra de ferramentas adequadas para jardinagem. Até mesmo porque, o apoio local se estende ao aspecto ideológico de identificação e interação entre os vizinhos.
De acordo com Adamir Aparecida Nunes Marcelino, a Tica, de 57 anos, um dos pontos de comum acordo é “evitar que as pessoas joguem lixo. Pois, com a plantação é possível uma limpeza do ribeirão, pelo menos, nas beiradas”. A afirmação da presidente da Associação do Bairro Andrade, que trabalha há 12 anos na Pastoral da Criança, vai ao encontro das propostas indicadas por Luiz Fernando Campos. “Nós queremos dar um formato para o projeto, pois a iniciativa já existe, mas o trabalho tem que ser em conjunto para preservar o ambiente e revitalizar o ribeirão”, destaca o aposentado que mora há 26 anos no loteamento residencial Andrade.

 

O projeto ‘Andrade Verde’ tem como missão atrair recursos humanos e investimentos para que o ribeirão do Curtume, em toda a sua extensão, readquira sua vitalidade natural

  • Os residentes do bairro Andrade apoiam e dirigem todo o empreendimento comunitário
  • A ação ambiental acontece às margens do ribeirão do Curtume, um afluente do rio Paraíba do Sul
  • O “Andrade Verde” foca na conservação do ecossistema típico do Vale do Paraíba