Lembranças Literárias : Quem bem ama…

Já nem um vestígio agora existe
de tudo que passou…
Teus bilhetes queimei, como pediste,
e em fumo, em cinza, o vento dispersou.

Tranquiliza-te… pois nenhum traço indiscreto
ficou do nosso amor…
Desse amor de que trago ainda repleto
o coração, que era alegria e é dor.

– Só não pude apagar dessa boca perjura
o esquisito sabor,
e a saudade incessante, atroz, que me tortura,
do teu colo gentil ofegante de amor! –

Que de ti afastasse, que fugisse,
que uma alucinação
julgasse quando o lábio teu me disse
quando escreveu tua mimosa mão,
Mandaste. Obedeci sem que aparente
indiferença minha
te deixasse sequer supor o ingente,
o hercúleo esforço com que a dor continha.

Porém desse passado que nos une,
que contas severas.
Não deixarei tua inconstância impune
como desejas e até mesmo esperas.

Dirige, agora, a pena com que escrevo
o intento meu, perverso,
de interromper-te, a todo instante, o enlevo
com a visita importuna do meu verso.

Telemaco Moniz,
Tribuna do Norte, 12 de agosto de 1917

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