Recado Carioca

Por Luiz Roberto da Silva Lacaz (Colaborador)

Eu não me lembro da data, só sei que foi pelo outono de 1993. Eu estivera na minha querida cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, no dia da deposição do presidente Collor. O centro estava intransitável, e as pessoas pareciam pinhão de pinha, tão próximas estavam umas das outras.
Quando vou pro Rio, estaciono o meu carro no estacionamento Central, General Cortez, que tem entrada pela rua São José ou pela avenida Antônio Carlos. Lá deixo o meu carro e saio a transitar pela cidade, o movimento, eu já disse, era intensíssimo e eu estava acompanhado, naquela época, da minha namorada, mineira de Caxambu, e que fora para o Rio para assistirmos o bota fora do Collor. Foi impossível caminhar nas calçadas da avenida Rio Branco, e ruas adjacentes, tal o movimento; e as pessoas que estavam nas ruas felizes e alegres mormente os caras pintadas, porque o povo, uma vez mais, saia vitorioso de uma luta para tirar quem se locupletara do erário público. Além disso, minha namorada era uma loira, bonita e de chamar a atenção, e um tal de passar as mãos nas sua região glútea, que não me contive, apanhei-a, e retornei a Caxambu, a princesa das cidades do circuito das águas hidrominerais do sul de Minas.
Isso foi no dia da cassação do mandato do presidente e a suspensão dos seus direitos políticos por dez anos. Retornando, alguns meses após ou pouco mais, eu novamente, acompanhado da minha namorada, retornei ao Rio, foi num fim de semana, talvez numa quinta-feira, saímos tarde de Caxambu, pegamos um congestionamento na Dutra e chegamos ao Rio no início da madrugada, parei o carro em Copacabana, mais precisamente no Leme, e demos uma caminhada para ver se pegávamos algum restaurante aberto para jantarmos e darmos uma esticada na noite carioca.
Não é comum, eu que me formei pelo Rio e frequentava muito a orla marítima de Copacabana, encontrar àquela hora restaurantes fechados, mas estavam, e ficávamos a andar pela praia num namoro próximo mais não tão próximos que merecesse um comentário desairoso.
Como falei, a namorada na época, que hoje é minha esposa, e que já foi candidata a Miss Circuito das Águas, por onde passava chamava a atenção, até aí nada.
Foi aí que um caminhão da Limpeza Pública, com seis ou sete garis a bordo, passando por nós, eu e ela na calçada e eles na avenida, no sentido do posto seis, e um deles gritou: “Ei coroa, você não acha que é muita areia pro seu caminhão?’’. Rimos às escancaras do espírito alegre, brincalhão e jocoso dos cariocas.
Que Deus os mantenha assim, hoje, amanhã e sempre.