História : Reminiscências da Pinda antiga: a “Casa do Fogo”

Um sobrado que havia na rua Prudente de Morais no tempo em que essa via pública era denominada rua Alegre (depois rua Conde D’Eu), foi outro prédio antigo e histórico situado na zona urbana de Pindamonhangaba que teve que vir abaixo por conta do progresso.
Seu valor histórico era indiscutível. Comecemos pelo mais pitoresco, folclórico: a “Casa do Fogo”!
Nesse sobrado, em sua parte de baixo, havia uma fornalha que era mantida acesa dia e noite. Inicialmente fornecia brasas para os turíbulos (vasos onde se queimam incensos) da Igreja Matriz. Mas o costume de buscar brasas na “Casa do Fogo” também se propagou entre o povo. Como naquele tempo ainda não havia a caixa de fósforos, ao amanhecer e ao anoitecer os escravos iam buscar as brasas para acender os fogões e iluminar as casas (dizem que pra levarem a brasa iam jogando, passando de uma mão pra outra para não se queimarem).
A preocupação dos poderes públicos era manter aceso o braseiro dia e noite. Serviço feito pelos escravos, que se revezavam na missão de abanar a fornalha.
Prédio histórico
Essa construção pertenceu aos Lemes descendentes dos Lemes que, segundo o escritor historiador Athayde Marcondes teriam sido os fundadores de Pindamonhangaba (o historiador Waldomiro Benedito de Abreu depois de anos de pesquisa e apresentação de documentos comprobatórios que a cidade não fora fundada, conseguiu a revogação da lei que oficializava o 12 de agosto como data de fundação, passando a ser considerado aniversário do município o 10 de julho, data de sua emancipação política).
A importância histórica desse prédio, no entanto, vai além. Conforme Atahyde Marcondes em “Pindamonhangaba Através de Dois e Meio Séculos”, Câmara Municipal e cadeia funcionaram nesse local até o ano de 1861. Em 1862 foi leiloado pela Câmara, na época presidida por Francisco Ignácio Homem de Mello (Barão), sendo arrematado por Domiciano Correa Leite. Com o dinheiro da venda a Câmara construiu suas novas acomodações na praça Barão do Rio Branco (largo São José), o palacete Tiradentes.
Baseando-se em datas, em 1822 a Câmara funcionava nesse sobrado, portanto, foi em uma de suas janelas que, no dia 21 de agosto de 1822, o imperador Pedro I, de passagem pela cidade rumo a São Paulo (viagem que resultou na proclamação da Independência), falou aos pindamonhangabenses .
O prédio foi demolido no início dos anos sessentas por conta da construção da praça Desembargador Eduardo Campos Maia, a Praça do Fórum. (Abaixo, na seção Lembranças Literárias, um soneto de Balthazar de godoy Moreira faz alusão à folclórica “Casa do Fogo”).

  • Na ilustração, desenho de Fábio Schmidt Goffi, de seu livro Pindamonhangaba no Século XIX (São Paulo, 1994), a rua Prudente de Morais no século XIX, mostrando (à direita, detalhe em verde) o sobrado da primitiva Câmara e “Casa do Fogo”
  • Sobrado que, além de ter abrigado a Câmara e a cadeia, ficou conhecido como a “Casa do Fogo”, pois ali se mantinha uma fornalha dia e noite para fornecer brasas (fogo) à população (não existia ainda a caixa de fósforos)